Tempo para ler

avid-reader-clock1O texto a seguir foi publicado originalmente no Meia Palavra em 30 de novembro de 2011. Eu já tinha planejado colocá-lo aqui tem algum tempo, mas sempre acabava adiando a publicação, até que hoje cedo dei de cara com uma citação no tumblr e pensei: “uou, isso basicamente resume tudo o que eu quis falar naquele texto, mas de um jeito mais bonito”. Então vou colocar a citação seguida do texto, iepiiii.

“By making time to read, like making time to love, we expand our time for living. If we had to think of love in terms of our busy schedule, who’d risk it? Who’s got time to fall in love? But have you ever seen someone in love not finding time for it? I’ve never had time to read, but nothing’s ever stopped me from finishing a novel I loved. Reading isn’t about managing your social life better; it’s a way of being, like being in love.”

The Rights of the Reader by Daniel Pennac

É inevitável: pessoa aleatória começa a fazer parte da minha rotina, repara nos livros que leio e logo comenta: “Nossa, mas quantos livros você lê por semana? Está sempre mudando!” . Eu fico meio sem jeito de dizer que são em média dois por semana, ainda mais considerando que tem alguns anos 2 era a média de leitura anual do brasileiro. Aquela coisa, fica parecendo que estou querendo me exibir. Aí o que eu invariavelmente escuto é algum elogio ao meu hábito de leitura (obrigada) normalmente seguida pela famosa frase “Puxa, queria ter tempo para ler.” Continue lendo “Tempo para ler”

E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)

Antes de tudo, um relato pessoal. Antes de conhecer Paris, eu pensava na cidade como um clichêzão, não tinha lá muita curiosidade para conhecê-la. Lembro que, ao contrário de Londres, sobre a qual já tinha lido tanto, tanto que já parecia conhecer as ruas que ainda nem visitara, cheguei na Cidade Luz tendo em mente dois destinos: o cemitério Pere Lachaise (meta ainda mais definida: túmulo de Oscar Wilde) e a óbvia Torre Eiffel (seguindo a dica do 1001 lugares para conhecer antes de morrer, de ser a última visita ao local). Sei que no final das contas foram poucos dias, mas serviram para eu compreender porque a cidade é um clichê. Ela é de fato apaixonante. Não dá para visitar Paris e sair ileso. Fica um pouco de você ali, aquela vontade de voltar, de rever lugares que parecem ter saltado da tela de um filme.

E muito dessa saudade que sinto da cidade fez com que eu me encantasse perdidamente por Meia Noite em Paris, filme de Woody Allen lançado no ano passado. Misturando figuras populares da década de 20, de Fitzgerald até Hemingway, a mescla entre figurinhas carimbadas do universo literário e a cidade dos sonhos inevitavelmente tinha que ser encantadora. E creio que não só para mim, já que o filme foi um sucesso (que se refletiu nas livrarias, com leitores procurando os autores que aparecem na história). E é na esteira do sucesso desse filme que o jornalista Sérgio Augusto lança seuE foram todos para Paris: um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald e cia. Continue lendo “E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)”

(MTV) A menina sem qualidades

Já tem mais de um mês que o primeiro episódio de A menina sem qualidades estreou. Chegou junto com uma série de notícias nebulosas anunciando o que seria o fim da MTV, é verdade, mas naquela segunda-feira de estréia não se falava de outra coisa nos cadernos culturais. Se era mesmo o fim da MTV, a adaptação de Felipe Hirsch para o livro da alemã Juli Zeh seria o canto do cisne. Confesso que nem tanto a premissa mas mais o nome de Hirsch que fizeram com que eu ficasse bastante curiosa. Sabe como é, o sujeito ganhou meu coração para toda a vida com as peças da Sutil, então eu tinha que ver o que ele faria na tv. Anunciaram a estreia para às 23h, fiquei lá esperando, ansiosa e… e aí que meio em cima da hora jogaram o horário para meia noite e meia. Fuééém… Esse negócio de ter que acordar cedo no dia seguinte estraga um pouco as coisas.

Mas, felizmente, a MTV faz um negócio bacana (e que contraria completamente o argumento de que ela está acabando porque não soube acompanhar a “revolução digital”): no dia seguinte, na página do canal, lá estava disponível bonitinho o primeiro episódio para quem perdeu poder assistir. Comecei a acompanhar, episódio por episódio (bastante curtos, diga-se de passagem, cada um não passava de 20 minutos) e terminei a primeira semana já completamente encantada, procurando lista de músicas que tocaram e, principalmente, as referências literárias (falo disso mais adiante).

Continue lendo “(MTV) A menina sem qualidades”

Viagem ao fundo da sala (Tibor Fischer)

Tive uma leve ressaca literária depois de terminar o apaixonante O oceano no fim do caminho. Começava um livro, abandonava, começava outro, ficava para lá. Acho que é o lado ruim do kindle: são tantas opções que acaba ficando mais fácil desistir de uma leitura (com aquela desculpa do ‘ok, esse fica para depois’). Então resolvi dar uma olhada na pilha dos livros de papel que comprei este ano e ainda não tinha lido, e abri o Viagem ao fundo da sala, do inglês Tibor Fischer. “Eu só fiquei rica porque estava em casa às quatro e meia da tarde numa sexta-feira“. Pronto, senti ali, logo na primeira frase, que este seria o livro que curaria minha ressaca – o que de fato aconteceu.

Daquela história dos vários sentidos que uma palavra carrega, sempre que ouvia a Sol comentando sobre este livro eu pensava que a “sala” do título era a sala de aula. Coisa de professor, sabe como é. E qual não foi minha surpresa quando dou de cara com Oceane, uma designer que é, como conta a primeira frase do romance, rica e acaba usando seu dinheiro para manter um estilo de vida recluso. A jovem não sai de casa nem mesmo quando vai viajar: contrata um agente de viagens que organiza festas temáticas com estrangeiros no apartamento do andar de baixo para saciar sua curiosidade sobre as diferentes culturas.

Continue lendo “Viagem ao fundo da sala (Tibor Fischer)”

O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)

Sei que quando falo disso pareço aquelas pessoas que visitam a praia pela primeira vez depois de anos de vida, mas vá lá, pense comigo em como a Internet mudou as coisas para todos nós. Começo de 2000 eu fiquei sabendo sobre Deuses Americanos de Neil Gaiman e como já era fã do autor por causa de Sandman, obviamente entrei no modo “OHMEUDEUSEUPRECISOLERESTELIVRO”. E aí eu ia todo dia na livraria perto da faculdade e perguntava “Já chegou Deuses Americanos?” e necas. E foram dias e dias assim, até que finalmente tive o livro em mãos. Agora no caso do lançamento mais recente de Gaiman, O Oceano no Fim do Caminho, não só acompanhei pelo twitter do escritor todo o processo de publicação da obra, como também tive o prazer de acordar na manhã do dia do lançamento e já ter o livro lá no meu kindle, me esperando. Isso para não dizer que eu tinha a opção de escolher entre o original e o traduzido, já que a Intrínseca lançou a tradução simultaneamente (e então os fãs que não leem em inglês não precisaram esperar meses para poder conferir o trabalho do Gaiman, certo?).

Enfim, sobre o livro. O Oceano no Fim do Caminho foi anunciado como o primeiro romance para adultos desde Os Filhos de Anansi. Gaiman de fato tem se dedicado mais à literatura infantojuvenil, com livros como Odd and the Frost Giants ou ainda, O livro do CemitérioEntão com um intervalo de seis anos, é claro que havia uma certa dose de expectativa. Eu estou frisando esse ponto porque normalmente quando criamos expectativa sobre algo, acaba que elas não são superadas e ficamos com um gosto amargo pelo livro “não ter sido tão bom assim”. Mas o fato é que esse não é o caso. Gostei tanto de O Oceano no Fim do Caminho que, quando vi que a porcentagem de leitura no kindle se aproximava dos 99%, comecei a me despedir das personagens junto com o narrador com lágrimas nos olhos. Sério. LÁGRIMAS. Neil Gaiman, seu puto, devolve meu coração.

Continue lendo “O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman)”

A Máquina Diferencial (William Gibson & Bruce Sterling)

O termo steampunk em literatura é aplicado para histórias que se passam em uma realidade alternativa na qual o século XIX ainda tem como principal fonte de energia o vapor (daí o termo “steam”), mas encontra-se mais avançada tecnologicamente do que realmente foi em nossa história. Seja a Inglaterra vitoriana, seja o velho oeste norte-americano, a ideia é incluir no cotidiano das personagens elementos que não existiam na época e que hoje em dia nos são comum, tudo isso adequado ao que estava disponível naquele tempo em termos de matéria prima ou mesmo de tecnologia.

Foi em 1990 que dois autores famosos por trilharem o caminho do cyberpunk (William Gibson e Bruce Sterling) escreveram a quatro mãos uma história que parte desse princípio, criando o agora clássico da ficção científicaA Máquina Diferencial. Vencedor de prêmios, o livro embora não possa exatamente ser chamado como o primeiro steampunk da literatura, ainda assim tem papel fundamental na divulgação desse gênero, sendo que por isso frequentemente aparece como referência ao falar desse tipo de obra.

Continue lendo “A Máquina Diferencial (William Gibson & Bruce Sterling)”

Sharp Objects (Gillian Flynn)

Primeiro livro escrito por Gillian Flynn, Sharp Objects foi publicado lá fora em 2007, chegando no ano seguinte ao Brasil pela Rocco como Na Própria Carne. Para quem já leu os outros livros da autor (Garota Exemplar, 2012 e Dark Places, 2010) muitos elementos já são até familiares: a protagonista que ao mesmo tempo que é bastante inteligente ainda assim tem sérios problemas psicológicos, a família completamente bizarra que é culpada em partes pelos problemas citados, um crime e um mistério e por conta disso um livro que se apresenta como thriller mas que ali para frente vai se transformando em outra coisa. Ah, claro. Tem também aquela sensação agridoce de ler algo bem escrito e bom, mas ao mesmo tempo tão perturbador que fica difícil classificar a experiência de leitura em si. É algo diferente.

Em Sharp Objects Gillian Flynn nos apresenta Camille Preaker, uma jornalista de Chicago que  recebe de seu editor a tarefa de voltar à cidade natal para investigar o que parece ser um caso de assassinatos em série. Ela segue para Wind Gap, uma cidadezinha no Missouri que não visitava há oito anos. Logo de cara ficamos sabendo que há algo de errado ali – não só pelo tempo em que a protagonista passa longe do local, mas do visível receio que ela tem de retornar, com todo um capítulo envolvendo muita bebida como parte da preparação para finalmente encarar a mãe e toda a cidade. Como de costume, Flynn não tem pressa em construir as personagens e desenvolver a ambientação, são pequenas informações deixadas como migalhas de pão junto ao que imaginamos ser a linha narrativa principal, a investigação de Camille sobre a morte das duas meninas.

Continue lendo “Sharp Objects (Gillian Flynn)”

True Blood Season Premiere

Demorou mas a espera acabou, finalmente comeeeeça a nova temporada de True Blood. Se você nunca viu True Blood clica aqui. Se já assistiu ao primeiro episódio da sexta temporada ou não tem medo de spoilers (nem do Bilith) clica aqui e vem comigo _o/

Tchan!

Assistindo ao primeiro episódio da sexta temporada (Who Are You, Really?) fiquei pensando que ele poderia ser o terceiro da quinta, sabe? Que todo aquele blablablabla político e religioso de Lilith e Authority poderiam ter ficado com uns dois episódios, para chegarmos nesse momento. Porque esse começo de temporada foi melhor do que toda a quinta temporada, com certeza. As coisas finalmente acontecendo, mesmo que de um jeito meio wtf, mas convenhamos, você não chega na sexta temporada de True Blood sem se acostumar com a wtfuckness da série, certo? Então, recapitulando:

  • Os seguidores de Lilith destruíram todas as fáricas de True Blood
  • Os vampiros que queriam só viver de boas entre os humanos ficam loucões com a falta de sangue sintético
  • Bill fica loucão depois de beber todo o sangue de Lilith

É nesse ponto que começa o episódio, com a fuga de Sookie e companhia do QG da Authority. Os minutos iniciais que marcam a fuga são bem rápidos, mas trazem por exemplo a Pam como eu sempre gostei da Pam (melhor ainda porque já chegou odiando a Nora), Jason daquele jeito meio sonso e engraçado dele e a certeza de que tem muita coisa para acontecer com essa temporada, já que logo ficamos sabendo que Warlow não só é o carinha que em teoria é ‘dono’ da Sookie, mas ele também é, upz, cria de Lilith. Já mencionei que ele é interpretado por Rutger Hauer?

Continue lendo “True Blood Season Premiere”

You cannot conquer Time

Meu primeiro contato com Antes do Amanhecer (Before Sunrise) não foi dos melhores. Eu tinha lá meus 20 anos (pouco mais, pouco menos) e lembro que achei um filme chato. Tão chato que queria logo que amanhecesse para o filme acabar. Por conta disso, quando em 2004 saiu Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset) nem dei muita bola e não assisti. Vivia repetindo para mim que um dia daria novamente uma chance para o primeiro, até porque pessoas que têm um gosto parecido com o meu (Sol, Melian, etc.) simplesmente adoram esse filme. E aí que nas várias notícias sobre o lançamento do terceiro filme da trilogia de Linklater, Antes da Meia-Noite (Before Midnight) saiu uma contando a história da garota que inspirou Linklater para a criação de Celine e achei tão fofo que decidi que agora era o momento: faria uma Maratona Before para no dia seguinte ir ao cinema e conferir o lançamento.

Começando então com Antes do Amanhecer, que eu tinha odiado. Terminei o filme sem entender porque naquela época não gostei: não tem nada ali para não gostar. Os diálogos entre Jesse e Celine são dinâmicos e interessantes, daqueles que dá vontade de se meter no meio para conversar também. E Ethan Hawke e Julie Delpy estão tão bem nos papéis que dá para sentir a química entre eles como algo palpável, real e constante. A cena na roda gigante, que marca o primeiro beijo do casal é doce e encantadora justamente por causa dessa química entre os dois.

Continue lendo “You cannot conquer Time”