Melhores leituras de 2020

É estranho. Passei quase todo o ano passado falando que a pandemia tinha esculhambado minhas leituras, afetado o ritmo, etc e aí fechou o ano, fui ver as contagens lá do Goodreads e meio que bateu com minha média de sempre. Mas eu sei que afetou algumas escolhas de leitura (tendi para leituras mais leves, por exemplo), e tenho total noção que afetou a experiência de leitura também. Tenho certeza que já coloquei esse link do texto do Julián Fuks em vários lugares, mas vou citá-lo mais uma vez porque descreve exatamente meu sentimento enquanto leitora:

(…) me sinto menos capaz de me entregar por completo à leitura, de deixar que ela tome a minha mente inteira. O momento que vivemos é estridente demais, a cada instante convoca os meus pensamentos. Sinto falta, então, de uma literatura plena – e sinto falta de um passado e de um futuro que se deixem ler sem a lente do presente.

No fim das contas não é tanto sobre a quantidade de páginas ou de livros lidos, é mais como estava minha cabeça quando foram lidos. E por causa disso, fica aquela promessa de revisitar em outro momento alguns títulos, mesmo os que não apareceram entre os dez favoritos. E é isso. Então toca o play para a trilha sonora do post e vamos para a lista de 2020, que ficou assim (lembrando, títulos com link é porque já falei do livro aqui):

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It is Wood, It is Stone (Gabriella Burnham)

Estava lendo mais uma daquelas listas de lançamentos, quando bati os olhos em uma capa linda (nem venha me julgar, olha ali pro lado e veja como é linda mesmo). Comecei a ler a descrição do livro, “as vidas de três mulheres se cruzam durante um ano em São Paulo“. A cidade brasileira obviamente chamou minha atenção, e pensei que era autora nacional que estava sendo traduzida lá fora, só que pesquisando descobri que a Burnham é filha de brasileira, mas nascida e criada nos Estados Unidos, e o livro foi escrito originalmente em inglês (e boa sorte para quem for traduzir por aqui, mas disso falo depois).

Fiquei imediatamente curiosa, até porque renderia no mínimo um olhar diferente sobre nosso país – alguém que apesar da ancestralidade, “não é daqui”. Lembrei muito de um artigo ótimo que li no Millions, Rivers and Mirrors: World-Building in Nonfiction. Escrito pelo jornalista Chris Feliciano Arnold (nascido no Brasil mas criado por norte-americanos no Oregon) o texto comenta a tentativa de falar de um país que é dele mas ao mesmo tempo não é, de como sua língua-mãe não dá conta de descrever o lugar onde ele nasceu: “Sad but true: There is only so much room in the English language for stories about non-English speaking countries.”

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