Deadgirl

Já tinha um bom tempo que estava curiosa sobre esse filme, até porque li várias resenhas extremamente favoráveis. Aquela coisa de “não é só um filme de terror” e blablabla. Bom, talvez Deadgirl fosse um filme bacana se fosse um filme de terror. Até porque qualquer tentativa de leitura alegórica do que é visto ali acaba esbarrando em questionamentos básicos – para não falar que eu ainda acho que a narrativa foi extremamente mal montada.

Mas ok, do começo. Deadgirl começa com dois amigos do barulho passando uma tarde batutinha em um hospício fazendo coisas que até… ok, sem narração de Sessão da Tarde. Enfim, os amigos estão lá no hospício e por acaso descobrem no subsolo uma garota algemada em uma cama. E bem, ela é a garota que dá título ao filme, portanto você conclui antes dos amigos que apesar de respirar e se mexer, ela está morta. Um deles volta para casa, o outro decide que seria uma boa ideia transformar a zumbizinha em uma escrava sexual.

E aí que começam os problemas da narrativa. Prolonga-se por muito tempo essa discussão entre os amigos, debatendo a moral do que estão fazendo. Erra aí. Você fica em discussões filosóficas sobre onde mete seu peru, e lá se foi a tensão. Ela só é retomada de fato para depois da metade do filme, quando novas pessoas chegam para “visitar” a Deadgirl. Tem tanta coisa ali que eles poderiam ter optado por fazer, mas perderam um tempo preciso para deixar claro que um era bonzinho e queria libertar a menina e outro não dava a mínima sobre fazer sexo com um corpo gelado e fedido.

Quando acabou fiquei com aquela sensação de “Ok, talvez meninos consigam ver alguma coisa aí”, mas sinceramente eu não consegui ir muito além de “Poderia dar um horror dos bons, mas falhou”. Eu vi “leituras” que sugeriam que o filme é uma metáfora (cofcof) para a transição entre a vida de adolescente e de jovem adulto, que é metáfora para o modo (péssimo) como os homens lidam com as mulheres, metáfora para uma nova geração de adolescentes etc. etc. etc. e eu só consigo pensar que muitas das cenas de abuso da Deadgirl foram desnecessárias.

Enfim, fosse um filme de zumbi no qual os piás tentam algo com ela e aí ela toca o horror, legal. O próprio momento em que duas personagens se dão conta que podem fazer “novas” Deadgirls poderia ter rendido muito mais do que a primeira metade do filme, que aplicava de forma entediante a fórmula Fulano ama Ciclana que não dá a mínima e seu melhor amigo está no porão de um hospício violentando um zumbi. Riiight.

Eu não tenho nada contra histórias de terror que tentem transmitir uma mensagem, aliás, filmes de zumbis são famosos por isso (lembram do shopping em Dawn of the Dead?). Mas se for para lançar mão de recursos como alegoria, faça isso de uma maneira que não vá esculhambar o desenvolvimento da tensão, que é o básico quando trata-se do gênero. Então se você está procurando um filme para assustar e tudo o mais, não perca seu tempo. Se for para ficar pensando e filosofando, vai lá pegar um Stalker ou Solyaris que pelo menos você está queimando fósforo com alguma coisa decente.

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