Você vai ouvir falar em 2017 (e eu recomendo!)

Imagina o Seu Creysson fazendo joinha e dizendo “Esse eu agarantium”. Não tem nada de mágico aqui: é uma mescla de lista de adaptações que chegam no cinema em 2017 com aquele listão maravilhoso de lançamentos que o Daniel Dago postou no Facebook (queria demais fazer link direto para a lista, mas só consegui uma cópia lá da Gazeta), salpicados com informação sobre como foi a recepção de alguns desses lançamentos no exterior e todo o meu amorzinho pelos livros que li.

Desnecessário explicar, mas já explicando: como elaborei a lista a partir de livros que já li, isso explica a falta de autores nacionais. Ao contrário dos livros gringos (que eu posso ler antes de chegar aqui), os nacionais eu só consigo quando chegam nas livrarias. Mas se quer saber, estou de olho naquele novo da Luci Collin pela Arte & Letra (A peça intocada) e o do Milton Hatoum pela Companhia das Letras (O lugar mais sombrio).

Lembrando que no caso dos lançamentos (infelizmente), alguns podem acabar não saindo. Tem livro que eu já esperava para o ano passado e que está na lista desse ano, por exemplo. Ah, sim. E sem maiores comentários sobre as obras porque cada título da lista tem um link para um post que escrevi na época em que li.

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The Story of the Lost Child (Elena Ferrante)

Vou deixar um aviso inicial para quem chegou no post mas não faz ideia do que se trata: Oi, amiguinho. Este post é sobre o quarto e último livro da série napolitana escrita por Elena Ferrante. Se você quer saber mais sobre o assunto, sugiro começar pelo post que fiz sobre o primeiro livro, A Amiga Genial. Depois tem um sobre o segundo livro (The Story of a New Name) e o terceiro (Those Who Leave and Those Who Stay). No momento só o primeiro livro tem tradução no Brasil, saiu pela Biblioteca Azul da Globo Livros. Tudo explicadinho? Ok, então lá vou eu.

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The Story of the Lost Child tem como ponto de partida o final do terceiro livro: Lenu abandonando tudo para passar alguns dias em Montpellier com Nino. De novo Elena Ferrante cozinha a história em fogo brando, com Lenu descrevendo seus dias com o amante e o início da separação. Terminado o livro eu ainda queria muito, MUITO, MUUUUUUITO que o final de Those Who Leave and Those Who Stay ainda fosse aquela fala da Lenu para Nino: “I said my way, not yours. Between you and me is over.” porque não é querer ficar julgando a vida de personagens fictícios, mas caramba, decisão ruim atrás de decisão ruim da dona Lenu, sabe. Foi puxado, foi sofrido.

Porque mesmo quando Nino diz umas coisas bonitas lá no terceiro volume, você sabe, não dá, ele não presta. São várias bandeirinhas com um ALERTA! escrito em vermelho que vão aparecendo, pequenos detalhes narrados por Lenu que te fazem perceber que o sujeito é um grandíssimo filho da puta. Nem tanto por ser mulherengo – isso é irritante, e em determinado momento no livro chega até a ser chocante – mas são as ações dele. Todo aquele discurso que parece empoderar mulheres e de repente está ele lá, anulando completamente Lenu na França, só dando alguma atenção para a mulher quando outras pessoas descobrem (porque ELA falou) algo sobre os livros que tinha publicado. Ou quando morre de ciúmes sobre Pietro mesmo não tendo a coragem que Lenu teve e continuar mantendo o casamento com Eleonora. Continue lendo “The Story of the Lost Child (Elena Ferrante)”

História de quem foge e de que fica (Elena Ferrante)

ATUALIZADO 28/10/2016: Aeeee chegooooou tradução pela Biblioteca Azul, o título ficou “História de quem foge e de quem fica” e a capa é essa coisa linda aqui à esquerda. Como ainda não reli o livro não deixarei comentários extras e as citações continuam em inglês, mas uma vez que esse é meu favorito da tetralogia, logo releio e atualizo aqui.

Então. Eu tinha um plano, ficar enrolandinho com minhas leituras mais ou menos até a última semana de agosto, quando então leria o terceiro livro da série napolitana, Those Who Leave and Those Who Stay. Aquela coisa: Elena Ferrante já tinha armado nos dois livros anteriores desfechos de deixar o leitor louco para partir para o próximo volume, assim eu já esperava por algo do tipo no terceiro – com a diferença que nesse caso seria obrigada a esperar até setembro quando só então poderia ler o quarto livro. Era um bom plano, mas não deu. Caí em tentação, fui “dar só uma olhadinha” e quando percebi já foram lá 50 páginas e bem, continuei.

Isso tudo é para você que ainda não leu a Elena Ferrante entender que não é só a história em si, é como ela conta. É um daqueles casos de escritas meio viciantes, e você até saca as estratégias da autora para prender sua atenção, mas ok, você caiu como um patinho e está lá “só mais um capítulo e eu vou dormir/almoçar/fazer qualquer coisa que seres humanos não viciados em um determinado livro fazem”. E também para dizer que o post conterá spoilers e que se você quiser saber mais sobre os outros dois volumes, é só clicar aqui e aqui (eles também têm spoilers hahaha).

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História do Novo Sobrenome (Elena Ferrante)

ATUALIZADO 01/04/2015: Recebi da Editora Globo o História do Novo Sobrenome, tradução de The Story of a New Name sobre o qual comentei aqui em julho do ano passado. Resolvi só trocar as citações em inglês para as em português e deixar alguns comentários pós-releitura para o fim do post para não embaralhar ainda mais meu jeitinho caótico de comentar livros.

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Eu ainda estou esperando aparecer alguém que tenha lido as últimas frases de A Amiga Genial de Elena Ferrante sem ter no mínimo sentido um tanto de esperança de que novas páginas brotassem e aquele não fosse de fato o final do romance. Para quem ainda não leu o primeiro volume da Série Napolitana, talvez isso pareça algo ruim, mas não é. É o sentimento de quem se encantou pela trajetória das personagens e não só quer saber mais sobre elas, mas também saber quais serão os desdobramentos de um momento difícil em que elas se encontram. Tenho certeza que anos passarão e eu ainda lembrarei da cena do casamento, com o macarrão pisoteado pelos garçons, portas abrindo e fechando, risadas forçadas para piadas vulgares – como se estivesse lá, como se fosse uma das convidadas.

E por isso acabou que eu não consegui segurar a curiosidade e esperar a tradução do segundo volume chegar pela Editora Globo, comecei The Story of a New Name. É uma experiência um tanto estranha ler um livro em português e depois sua continuação em inglês (e o pessoal ainda acredita em tradutor que “some” no texto, ahaaam), mas depois dá para reencontrar a “voz” da Lenu e então a leitura engrena e… e agora vem aquele aviso básico de que os comentários a seguir terão spoilers (mesmo que eu ache que a experiência de leitura sobreviva às revelações, de qualquer forma prefiro avisar).

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A Amiga Genial (Elena Ferrante)

Vou poupá-los da introdução “Quem é Elena Ferrante?” até porque já falei sobre isso ao comentar The Days of Abandonment (segundo dos nove romances já publicados pela autora). Se você está meio perdido e não sabe qual é o problema da identidade, é só clicar aqui ou ler a seguir a versão resumida: Ninguém sabe quem ela é. Não faz diferença saber quem ela é. Pronto? Pronto, então vamos lá para A Amiga Genial.

Primeiro volume da série napolitana, A Amiga Genial foi recebido lá fora com muito barulho e chegou recentemente no Brasil pela Biblioteca Azul da Editora Globo. A saber, os quatro romances da série seguem a vida de duas amigas, Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila), sendo que o primeiro conta eventos da infância e adolescência das personagens. Pelo Prólogo sabemos que já em idade avançada Lila simplesmente desaparece, não deixa vestígio algum de sua existência, e Lenu escreve os livros para contar tudo o que lembra da amiga, um tanto como vingança (embora o leitor ainda não sabe sobre o que é a vingança). É meio que a moldura que amarrará a história dos quatro livros, acredito.

“Mas… mas… é só isso?”, você até poderia perguntar. Nunca é só isso. O bacana da obra da Elena Ferrante é aquele mergulho dentro da cabeça de suas personagens, expondo seus pensamentos em sua totalidade: dos bons aos mesquinhos. Além disso, o espaço toma conta da narrativa. O bairro napolitano descrito por Lenu surge quase como personagem, uma sombra que constantemente cai sobre a vida das meninas, influenciando suas ações. E assim, mesmo que o grande conflito em algum período da vida da protagonista seja pura e simplesmente tirar nota para passar na escola, ou fugir das pedras atiradas por garotos, você percebe que essa é só a superfície, porque tem muito mais ali.

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Dias de abandono (Elena Ferrante)

Capa da edição brasileira

(ATUALIZADO 15/07/2016: Esqueci completamente de editar aqui quando chegou a tradução no Brasil (pela Biblioteca Azul, assim como os outros livros da autora). Vou colocar no post a capa da edição brasileira, até porque caramba, que capa linda. Como não li a tradução, as citações permanecem em inglês.)

Antes de começar a falar sobre The Days of Abandonment acho que cabe falar um pouco sobre a autora, a italiana Elena Ferrante. Ainda um pouco fora do radar dos leitores brasileiros (o que é justificável, já que ainda não há tradução de seus livros por aqui), lá fora ela já conseguiu inclusive um espaço de respeito até mesmo na crítica anglófona (não sei para vocês, mas para mim um escritor de língua latina ganhando espaço por lá ainda é algo meio raro).

De qualquer forma, o que mais se fala sobre Ferrante é que ninguém sabe quem é Elena Ferrante. Palpites aqui e acolá, mas nada definitivo. Reza a lenda que no início da carreira ela já chegou dizendo para a editora que não participaria de qualquer evento de publicidade relacionado ao livro:

“I’ve already done enough for this long story: I’ve written it. (…) If the book is worth something, it should be enough. I will not participate in debates and conferences, if I am invited. I will not go to accept prizes, if I am given any. I will never promote the book, above all on television, in Italy or, should the need arise, abroad. I will only participate through writing, but I will also try to keep this to the bare minimum.”

O que não deixa de ser um tico presunçoso, eu sei, mas ao mesmo tempo não dá para deixar de pensar que ela tem razão. E que bom que ela pode se dar ao luxo de continuar escrevendo e sendo publicada e traduzida sem ter que investir em publicidade, embora vá lá, a própria reclusão acaba virando um tipo de propaganda, caso contrário eu não teria gastado quase 300 palavras só para comentar sobre a autora.

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