As relações perigosas (Choderlos de Laclos)

relacoesperigosasQuando comecei a ler O espírito da prosa de Cristovão Tezza, já estava quase chegando ao final da “autobiografia literária” quando algo chama minha atenção: Tezza fala justamente do livro que eu leria a seguir. Tratava-se de As relações perigosas, romance epistolar escrito pelo francês Choderlos de Laclos no século XVIII. Sobre o livro, Tezza diz que é “a obra-prima que consolidou a cultura moderna da correspondência escrita como o espaço perfeito da expressão privada individual“. E não é exagero do brasileiro usar o termo “obra-prima” para falar do livro de Laclos, que até hoje é referência quando o assunto é romance que tem em sua base cartas. Mas, se é possível dizer isso, obviamente é porque Laclos explora ao máximo todas as possibilidades que este tipo de narrativa pode oferecer, aproveitando-se de certas características para criar não só personagens, mas também uma história inesquecível.

O que não deixa de ser extremamente admirável, já que o enredo de As relações perigosasé até bem simples. Através das correspondências trocadas entre diversas personagens, ficamos sabendo sobre os planos da Marquesa de Merteuil para se vingar de um ex-amante, usando para tal o Visconde de Valmont. Como é então que consegue ser tão interessante? Para começar, o que vejo como a principal qualidade da obra, é a sutileza de Laclos. Valmont e Merteuil são ricos, educados e inteligentes e isso fica evidente em suas cartas, algumas bastante sensuais mas de um jeito que o leitor mais desatento pode acabar deixando passar batido. Não espere nada como as cartas de James Joyce para Nora, por exemplo. A graça aqui é o quanto se pode dizer sem ser explícito ou ainda, o quanto se pode dizer sem nada dizer.

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Ah, as personagens!

Falando sério, acho que alguns livros não são legais necessariamente por causa do enredo, mas por causa das personagens. Aquela coisa, história não muito original, mas aí chega aquela figura que se destaca por dizer coisas que você adoraria ter dito, ou por agir de um jeito que às vezes só funciona na Literatura mesmo. Eu tenho certeza que você já passou por isso também – assim como sei que em algum momento na adolescência até uma paixão platônica deve ter aparecido (ou no mínimo o desejo de poder conhecer a personagem na vida real).

Foi pensando nisso que resolvi fazer esse meu top5, só com meus personagens favoritos de todos os tempos. Se eu lembrar, estenderei isso para o cinema também. E fique à vontade para postar sua lista aqui nos comentários, até porque aquela coisa, consequentemente acaba virando sugestão de leitura para todos, né?

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Da manipulação

Ontem quando voltava para casa tive uma conversa sobre manipulação que me fez lembrar do livro do Choderlos de Laclos, o As Relações Perigosas. Muitos já devem ter assistido a versão cinematográfica com a Glenn Close como Marquesa de Merteuil (quem não viu, assista. Vale a pena).Enfim, já que lembrei do livro, vou colocar aqui um dos momentos mais bacanas da história (que é toda contada através de cartas, o que faz do livro algo bem original).

Carta CLIII

(do Visconde de Valmont à Marquesa de Merteuil)

Respondo imediatamente a vossa carta, e tratarei de ser claro; o que não é fácil convosco, quando tomais a resolução de não entender. Continue lendo “Da manipulação”