As relações perigosas (Choderlos de Laclos)

relacoesperigosasQuando comecei a ler O espírito da prosa de Cristovão Tezza, já estava quase chegando ao final da “autobiografia literária” quando algo chama minha atenção: Tezza fala justamente do livro que eu leria a seguir. Tratava-se de As relações perigosas, romance epistolar escrito pelo francês Choderlos de Laclos no século XVIII. Sobre o livro, Tezza diz que é “a obra-prima que consolidou a cultura moderna da correspondência escrita como o espaço perfeito da expressão privada individual“. E não é exagero do brasileiro usar o termo “obra-prima” para falar do livro de Laclos, que até hoje é referência quando o assunto é romance que tem em sua base cartas. Mas, se é possível dizer isso, obviamente é porque Laclos explora ao máximo todas as possibilidades que este tipo de narrativa pode oferecer, aproveitando-se de certas características para criar não só personagens, mas também uma história inesquecível.

O que não deixa de ser extremamente admirável, já que o enredo de As relações perigosasé até bem simples. Através das correspondências trocadas entre diversas personagens, ficamos sabendo sobre os planos da Marquesa de Merteuil para se vingar de um ex-amante, usando para tal o Visconde de Valmont. Como é então que consegue ser tão interessante? Para começar, o que vejo como a principal qualidade da obra, é a sutileza de Laclos. Valmont e Merteuil são ricos, educados e inteligentes e isso fica evidente em suas cartas, algumas bastante sensuais mas de um jeito que o leitor mais desatento pode acabar deixando passar batido. Não espere nada como as cartas de James Joyce para Nora, por exemplo. A graça aqui é o quanto se pode dizer sem ser explícito ou ainda, o quanto se pode dizer sem nada dizer.

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Cinema com mamadeira 2

Não deixa de ser engraçado que logo o número 2 do Cinema com mamadeira seja quase todo com filmes que revi, e não filmes novos. Se o tempo é curto, por que estou assistindo novamente alguns filmes? Bem, a resposta é óbvia: porque eles valem a pena. Ou porque esqueci que já tinha visto, há. De qualquer forma, vamos lá, um pouco sobre cada um deles.

O melhor amigo da noiva (2008): Era uma noite aleatória, eu estava morta de cansaço e não queria nada além de uma comediazinha bonitinha e aí vi esta opção no Netflix e resolvi conferir. E né, pelo menos nos primeiros minutos pareceu entregar o que eu queria. Vemos Patrick Dempsey como Tom, um carinha pegador que não se prende a ninguém previsivelmente se apaixonando pela melhor amiga Hannah justo no momento em que ela larga mão do amor platônico por ele para ficar com outro cara. Aí eu comecei a pensar “Peraí, tudo bem que o enredo é previsível, mas isso tudo está começando a soar muuuuito familiar”. Pensei que estava confundindo com algum outro filme que envolvesse casamento, fura olho e afins, e então quando eles chegam na Escócia (sim, vergonhosamente uma parte já bem avançada do filme) eu me dei conta de que já tinha assistido O melhor amigo da noiva. Não lembro quando, não tenho nada anotado – muito provavelmente nos meses finais da gravidez ou em algum momento dos primeiros meses do Arthur, quando não dormir era algo bastante comum. Enfim, o filme não é ruim. Só dá aquele arrependimento ter usado meu tempo revendo algo quando tem tanta coisa que ainda não vi. Continue lendo “Cinema com mamadeira 2”