Cadê Você Bernadette? (Maria Semple)

bernadetteCadê Você Bernadette?, é segundo livro da a escritora Maria Semple, que também trabalhou como roteirista para séries como Mad About You e Arrested Development. O livro saiu ano passo lá fora com o título Where’d You Go Bernadette?, e foi muito bem recebido, ganhando elogios até de autores consagrados como Jonathan Franzen. Com o lançamento recente da tradução pela Companhia das Letras e muitos e muitos elogios do Tuca, achei que era hora de dar uma olhada no livro. Hmkay. Era meio o que eu sabia sobre o livro, fora um breve resumo do enredo que é óbvio, contava com o desaparecimento de Bernadette o dia em que ela, o marido e a filha fariam uma viagem para a Antártida.

Ok. O negócio é que eu realmente não esperava o que acabei encontrando ali. E digo isso de forma positiva. Eu achava que a narrativa já partiria do sumiço de Bernadette e da investigação pela personagem, mas vão lá páginas e páginas do livro em que ela ainda está lá, vivendo com a filha Bee e o marido Elgin em uma casa bizarríssima que na realidade era um internato abandonado. Nesse primeiro momento, o que prendeu minha atenção à história foi uma vontade incontrolável de que algo muito ruim acontecesse com as “gnats”, as mães das colegas de escola de Bee, especialmente Audrey, que parecia até uma daquelas personagens caricatas de comédias que envolvem uma relação complicada entre vizinhos: pense em uma mulher que chega a inventar que foi propositalmente atropelada, ou que invade o quintal da vizinha por causa de plantas que estão invadindo seu terreno. É a dondoca típica, que tenta ganhar um espaço importante na comunidade a qualquer custo, e não consegue compreender por que Bernadette não dá a mínima para esse tipo de coisa (portanto, transformando Bernadette em inimiga).

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Attachments (Rainbow Rowell)

O quêêê? Rainbow Rowell de novo, Anica? Pois então. Resolvi seguir a sugestão da Marcia e fui conferir o primeiro livro da autora, até porque eu realmente gostei de Eleanor & Park.  Não pretendo entrar em comparações aqui, são livros completamente diferentes, e embora o mais recente pareça mais denso, acho que ainda tem muita coisa neste mais antigo para se observar, mesmo que de primeira você pense que é só um livro açucarado como outros tantos. Então, para eliminar de vez o Attachments x Eleanor & Park, basta dizer que há elementos que se repetem como os carinhas UÓÓÓÓMMMM! ou as meninas cheias de neuras sobre o corpo. Há também um punhado de referências culturais, que fazem a leitura ainda mais divertida, e nos dois casos você devora o livro sem nem perceber. Satisfeitos? Ok, agora vamos esquecer que existe um Eleanor & Park e vamos voltar nossos olhos só para o filho mais velho de Rowell, combinado?

Então. A história se passa em 1999, naquele período em que a internet ainda dava seus primeiros passos na vida das pessoas comuns. Lincoln é um carinha tímido que vive pulando de uma graduação para outra, sem saber muito bem o que quer da vida. Mora com a mãe (superprotetora) e acabou de aceitar um emprego na área de IT (have you tried turning it off and on again?), fiscalizando os emails dos funcionários para que não saíssem da linha com a ferramenta “nova” de trabalho. Parece ok, mas o negócio é que aos poucos ele começa a acompanhar a conversa de duas funcionárias, Jennifer e Beth, e apesar de apresentarem um monte de palavrão e estarem lidando apenas com assuntos pessoais, ainda assim ele não manda uma advertência. Porque aos poucos ele passa a gostar de ler aqueles emails, e mesmo daquelas meninas. Especialmente de Beth.

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As relações perigosas (Choderlos de Laclos)

Quando comecei a ler O espírito da prosa de Cristovão Tezza, já estava quase chegando ao final da “autobiografia literária” quando algo chama minha atenção: Tezza fala justamente do livro que eu leria a seguir. Tratava-se de As relações perigosas, romance epistolar escrito pelo francês Choderlos de Laclos no século XVIII. Sobre o livro, Tezza diz que é “a obra-prima que consolidou a cultura moderna da correspondência escrita como o espaço perfeito da expressão privada individual“. E não é exagero do brasileiro usar o termo “obra-prima” para falar do livro de Laclos, que até hoje é referência quando o assunto é romance que tem em sua base cartas. Mas, se é possível dizer isso, obviamente é porque Laclos explora ao máximo todas as possibilidades que este tipo de narrativa pode oferecer, aproveitando-se de certas características para criar não só personagens, mas também uma história inesquecível.

O que não deixa de ser extremamente admirável, já que o enredo de As relações perigosasé até bem simples. Através das correspondências trocadas entre diversas personagens, ficamos sabendo sobre os planos da Marquesa de Merteuil para se vingar de um ex-amante, usando para tal o Visconde de Valmont. Como é então que consegue ser tão interessante? Para começar, o que vejo como a principal qualidade da obra, é a sutileza de Laclos. Valmont e Merteuil são ricos, educados e inteligentes e isso fica evidente em suas cartas, algumas bastante sensuais mas de um jeito que o leitor mais desatento pode acabar deixando passar batido. Não espere nada como as cartas de James Joyce para Nora, por exemplo. A graça aqui é o quanto se pode dizer sem ser explícito ou ainda, o quanto se pode dizer sem nada dizer.

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Blackbirds (Chuck Wendig)

Se você nunca ouviu falar de Blackbirds ou Chuck Wendig (o que era meu caso há poucos dias), então acho que o melhor jeito de apresentá-lo e através do mesmo book trailer que fez com que eles entrassem no meu radar literário:

Eu não sou muito fã de book trailers, confesso. Aliás, conheci o vídeo justamente em um artigo do Book Riot que questiona esse formato de publicidade do mercado editorial. Mas este foi um dos raros casos em que mal terminei de assistir ao book trailer e já estava procurando o livro na Amazon para comprar, ainda mais porque minutos depois o Gabriel comentou que Blackbirds era “muito, muito bom”. Enfim, explicando minha empolgação até para ninguém achar que sou um et por ter acabado com o livro em dois dias, há.

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Eleanor & Park (Rainbow Rowell)

All the lonely people, where do they all come from?
All the lonely people, where do they all belong?

Eu sei que da história da raposa com o Pequeno Príncipe todo mundo lembra daquela frase sobre cativar, mas na minha memória eu tenho uma lembrança mais forte do que a citação em si: é de um momento anterior, com a raposa falando que dia após dia ela e o Príncipe deveriam ficar cada vez mais próximos um do outro, até que ele a tenha cativado. Eleanor & Park de alguma forma fez com que eu recordasse desse trecho. Lançado lá fora em fevereiro deste ano e aparentemente ainda sem tradução no Brasil, o livro parece seguir o caminho contrário de muitos YA em que o casal de protagonista se apaixona no momento em que trocam um primeiro olhar. A primeira troca de olhar entre os dois não foi exatamente apaixonadora. As primeiras palavras não foram exatamente doces (há até uma f-word envolvida). Mas mesmo assim, aos poucos Eleanor e Park vão se aproximando, cativando um ao outro no melhor estilo “raposa do Pequeno Príncipe”. E talvez até por esse processo de encantamento, o leitor acaba se envolvendo com a história. Entre “nhóóóóóums” e “nããããos”, uma página segue outra sem que seja possível deixar o livro de lado.

Não se engane: não estou falando de livro que prende nossa atenção por alguma inovação na estrutura ou por trazer algum assunto para ser refletido por horas depois da leitura. É YA romântico como muitos que já apareceram por aí, aquela coisa de menina cheia de complexos e com problemas familiares que acaba encontrando um carinha que vai mudar seu mundo mas que por algum fator ‘x’ não podem ficar juntos e blablabla. E por que então, Eleanor & Park está conquistando tanta gente? Não posso afirmar com certeza (sabe como é, um livro é um livro diferente para cada leitor). Porém, pelo menos no meu caso, acredito que talvez a autora tenha deixado uma pista logo no começo, com um diálogo na aula de inglês em que o professor questiona Eleanor sobre Romeu e Julieta. Enquanto lia não conseguia acreditar: era exatamente o mesmo raciocínio que desenvolvi quando reli a peça há alguns anos.

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