Mas aí caímos no velho problema das altas expectativas. É evidente que com Sangue Quente finalmente em mãos eu simplesmente devorei o livro, porque precisava ver o que Marion tinha feito daquela história que eu tanto gostara. A questão é que, infelizmente, o romance não fica a altura do conto, talvez justamente por ter que apresentar mais elementos que justifiquem o gênero (mais longo). Então por mais que o livro seja bom e valha a pena conferir, para quem conheceu I am a zombie filled with love fica um gostinho um pouco “agridoce”, digamos assim.
Descontado esse detalhe, é interessante ver o que Marion faz com o universo zumbi. De certa forma se aproxima muito do filme Colin, já que transforma o que é normalmente o antagonista das histórias em protagonista, oferecendo-lhe o ponto de vista da narrativa. E para quem pensa que isso significa “Miooooolos!” apenas, calma que não é bem assim. R, o narrador da história, pode até não conseguir falar de forma eloquente, mas seus pensamentos são tais como os de um humano. E até bastante profundos, o que gera uma série de ironias bem interessantes (e na maioria das vezes melancólicas).
E aí Marion também pega um dos meus pontos fracos: uma das personagens, Julie, parece ser fã de Beatles. Zumbis e citações mil de Beatles, tem como não gostar? Talvez a única coisa que eu teria deixado de fora são os momentos com o namorado de Julie, parece dar uma esfriada na história (e era sobre isso que eu falava da diferença do romance para o conto). Somando a isso momentos de ação típicas de histórias assim, além de ótimas explicações de porque os zumbis parecem ser tão apaixonados por cérebros, o fato é que Sangue Quente é realmente um ótimo passatempo para quem gosta de histórias de mortos-vivos.
Acredito, porém, que ele encontrará alguma dificuldade chegando aqui no Brasil, por dois motivos. O primeiro é aquela citação de Stephenie Meyer na capa. As fãs de Crepúsculo já tiveram tempo de migrar para outras obras, então não sei se isso funcionará para atrair esse público, e é provável que afaste os que não querem nem ouvir falar do livro de Meyer. O outro motivo é que apresentando a sinopse de forma breve, o que temos é um zumbi que se apaixona por uma humana. Aí a relação com Stephenie Meyer fica ainda mais problemática.
Então para quem está com medo de ter um Edward e Bella versão zumbis em mãos, fiquem tranquilos. Há sim o romance na história, isso é indiscutível. Mas em literatura o que mais vale não é bem o que se conta mas como se conta, e Marion dá um jeito de tornar esse plot até meio absurdo algo bastante interessante, e muito gostoso de ler. Dê uma chance para Sangue Quente, especialmente se for fã de histórias de zumbis. E se gostar, depois dá uma lida em I am a zombie filled with love para ver de onde o romance se originou.
Eu li. E eu gostei.
Não só pelo fato de falar sobre algo diferente [para mim – devoradora de livros de vampiros], mas porque a protagonista já fez sexo, bebe, discute com o pai e incrivelmente se parece como qualquer uma. Qualquer uma que não tenha que enfrentar zumbis ou se apaixone por eles, digo.
KKKKKKK
:*
Envolve muitos pontos fortes nessa história, muito bom.