Bonequinha de Luxo (Truman Capote)

Sei que devemos muito à Audrey Hepburn por imortalizar a imagem de Holly Golightly em frente à joalheria Tiffany’s no filme Bonequinha de Luxo (1961). Mas é só depois de terminar a novela escrita por Truman Capote que você se dá conta que a personagem era na realidade um presente para a atriz, porque ela já vem pronta: arrebatadora, cativante. Página após página o narrador, visivelmente apaixonado pela moça, a apresenta para o leitor de modo que é impossível terminar a história não amando Holly Golightly.

São pequenas manias (como coçar o nariz quando sua privacidade é invadida), o jeito tagarela, inocente e ao mesmo tempo esperto, sonhador e calculista. Não dá para explicar. É uma combinação de elementos que prendem ao leitor da novela porque ele quer mais Holly, saber mais dela. Dia desses ao falar de Amuleto (Roberto Bolaño) comentei sobre a dificuldade de um homem escrever uma personagem feminina e de como eram raros os que conseguiam fazer isso sem cair em clichês. Pois bem, coloquem Capote na lista. Holly é a personagem feminina mais encantadora da qual tenho lembrança.E pela delicadeza da narrativa, você mal percebe o tempo passar enquanto lê. Se tiver tempo, é bem provável que acabe lendo em um dia só. Porque não é só Holly que encanta, mas o modo como as personagens giram ao redor dela, como a cadeia de acontecimentos leva ao desfecho lindo no qual a garota diz: “Estou com muito medo, rapaz. Isso mesmo, finalmente. porque isso poderia continuar para sempre. Não saber o que é seu até a hora que você joga fora.” A história toda é simples e leve, tal como sua protagonista.

A edição da Companhia das Letras conta ainda com mais três contos de Truman Capote: Uma casa de flores, Um violão de diamante e Memória de Natal. São todos trabalhos excelentes (talvez O violão de diamante seja o mais fraco entre os três), mas a sensação que dá ao ler é a mesma de conhecer a cidade dos seus sonhos e depois visitar outro lugar: nunca será tão bom quanto foi o primeiro local. As personagens cativam, mas são um fiapo perto de Holly. As histórias são bonitas, mas não tanto quanto Bonequinha de Luxo. Eu aconselho uma pausa entre a novela e os contos, justamente para não cair nessas comparações.

Porque especialmente Memória de Natal merece atenção. É um conto lindo, como todos aqueles que sabem evocar a pureza da nostalgia de momentos felizes. Além disso, Capote é muito bom em criar imagens (as pipas voando no céu, ou mesmo a casa de Royal no primeiro conto), são daquelas que continuam na memória mesmo depois de fechar o livro.

Valeu cada minuto da leitura, e recomendo até para aqueles que já viram o filme. Leiam, porque o texto Bonequinha de Luxo é algo completamente diferente, mesmo que a adaptação seja até razoavelmente fiel. E não esqueçam da pausa antes de começar a ler os contos, porque eles merecem um pouco da atenção que Holly Golightly provavelmente terá roubado de você.

3 comentários em “Bonequinha de Luxo (Truman Capote)”

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