Coraline

Eu até poderia escrever um post dizendo que estava decepcionada com o Gaiman ou algo que o valha, mas o fato é que livros para criança são livros para criança e assim devem ser lidos (e criticados). Muito embora a orelha da obra indique que é leitura para todas as idades, simplesmente não é (e aí quem está ‘enganando’ o leitor é a editora, não o autor, que sempre se refere à Coraline como um livro infantil). Então, desde já vamos aos fatos: é um ótimo livro infantil. Mas para quem já leu Anansi Boys e Lugar Nenhum, dá para saber que é a raspinha do que o Gaiman é capaz de escrever (e talvez por isso em um primeiro momento eu tenha me sentido decepcionada).

Um ponto bem interessante são as imagens criadas pelo Gaiman. Aqui é coisa de gente grande mesmo, até porque é Coraline é uma história de terror (na realidade, uma espécie de Alice no País das Maravilhas de terror). A descrição da “outra casa” e as personagens que a habitam são descritos com uma riqueza de detalhes que é admirável porque não faz da narrativa algo chato, mas colabora justamente para o tom de horror (vide o “outro pai” quando chega mais no final do livro).

Outra coisa bacana, só para variar, são as ilustrações do McKean. Infelizmente são poucas, no começo achei que era uma por capítulo mas depois o padrão começa a falhar. Mas o fato é que McKean consegue transpor para o desenho muito do que o Gaiman descreve, também ajudando na construção do tom mais sombrio da história.

No mais, acho bacana o Gaiman ter se aventurado no campo do horror para crianças – até porque quase ninguém o faz. Para quem gostar do livro, ano que vem sairá uma animação baseada na história (e se eu não me engano é em 3D) – já tem teaser rolando na internet e tudo o mais. E se gostar muito muito muito mesmo, assista MirrorMask, que também lida com a idéia de criança indo para um ‘outro mundo’ com uma mãe malvada e blablabla (mas no caso, a parceria Gaiman/McKean rende um filme que no mínimo serve como um colirio para os olhos).

Em tempo: acho que a essa altura todo mundo já está careca de saber que Neil Gaiman virá para a FLIP desse ano, certo? De qualquer modo, não custa informar, né? Diga-se de passagem, ele já confirmou no blog que virá mesmo.

5 comentários em “Coraline”

  1. Alexandre Esposito – Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Mas trago na cabeça uma canção do rádio em que um antigo compositor baiano me dizia "tudo é divino, tudo é maravilhoso".
    Alexandre Esposito disse:

    Interessante você ter falado hoje de Gaiman. Depois de muuuuitos meses retomei meu hábito de ler diariamente (só nos 45 minutos de ônibus de ida e volta – somados – do trabalho, mas já é melhor que nada, né?) e hoje vou começar a ler Stardust, que comprei assim que vi o filme. Sei que é bem diferente, mas whatever. Eu gostei bastante do filme. Se for melhor, melhor ainda.

  2. Então, eu li Anansi boys e curti muito. Você disse que o Coraline era voltado pra crianças, depois disse que se parece com “Alice no país das maravilhas”. Se o enredo e a escrita forem no mesmo nível que em Alice, sem dúvidas é uma obra primorosa.

    Assim como Alice, gato malhado e andorinha sinhá, etc, diversos livros são “voltados para criança” mas cheio de metáforas e interpretações. Espero que este seja mais um deles. Abs

  3. Poisé, não fui muito feliz na comparação, faltou dizer de forma mais clara exatamente em que ponto é igual: no enredo, só. Menina vai para outra “realidade”, completamente distorcida. Gaiman é excelente, mas ainda não chegou ao nível do Carroll no que diz respeito à manipulação das palavras.

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