Papéis Avulsos (Machado de Assis)

O Machado de Assis contista sempre se apresentou aos poucos para mim. Fora a coletânea Contos Fluminenses, não lembro de ter buscado outras coletâneas, mas os contos de forma avulsa mesmo. Sem nem pensar duas vezes penso em A Igreja do Diabo, Missa do Galo e outros textos que mostram que quando o assunto era prosa, Machado de Assis sabia muito bem o que estava fazendo. E justamente por isso quis conferir a edição de Papéis Avulsos que saiu pela Penguin & Companhia das Letras: mesmo que já conhecesse alguns contos, sabia que seria um prazer reler.

Minha grande surpresa é que mesmo as releituras viraram novas leituras. Porque o trabalho com as notas de Hélio Guimarães (professor de Literatura Brasileira na USP) tornou textos já conhecidos como O Alienista e O Espelho algo completamente diferente, ampliando a noção do Rio de Janeiro e do Brasil de Machado e, mais do que isso, mostrando a pluralidade de referências do escritor, que citava autores então modernos como Allan Poe e Longfellow, além dos clássicos.

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O Dom do Crime (Marco Lucchesi)

Poucas obras nacionais mexem tanto com o imaginário popular quanto Dom Casmurro, de Machado de Assis. Algumas vezes mesmo aqueles que terminaram o ensino médio com um certo trauma da obra, ainda assim embarcam em discussões sobre o romance, que invariavelmente acabam na velha pergunta “Capitu traiu ou não traiu?”. A crítica literária já se debruçou sobre essa questão, mas a verdade é que nunca há de se saber. E por não existir resposta que talvez tantos escritores busquem romancear sua visão do que aconteceu.

É o caso de Marco Lucchesi, com seu romance de estreia, O Dom do Crime. Tomando como ponto de partida um crime passional que ocorrera no Rio de Janeiro nos tempos de Machado de Assis (mais precisamente em 1866), Lucchesi acaba por nos mostrar através do romance que Capitu é apenas uma vítima em uma sociedade machista que ainda absolvia criminosos por crimes de “limpeza de honra”, tomando como referência a ideia de que Machado inspirou-se no crime para criar sua famosa personagem. Continue lendo “O Dom do Crime (Marco Lucchesi)”

Histórias de Natal

Natal? Agora, Anica? Sim, eu sei que é dia 27. Mas eu estou caradepaumente copiando um post que coloquei no Meia Palavra no dia 25/12, só porque não gosto de deixar o blog sem atualização por muito tempo (e nesta semana estranha entre o natal e o ano novo a tendência é que ele fique às moscas mesmo). O original você pode conferir aqui.

É quase um top5 de histórias com Natal como pano de fundo. Quase top5 porque são cinco mas elas estão organizadas de forma aleatória, e não de favoritismo (como acontece com os top5). Aproveito e já deixo o espaço aberto aqui: você lembra de alguma história com ano novo como pano de fundo? Não consigo pensar em nada agora, fora Harry& Sally (mas aí já é cinema). Se você lembrar, comenta aí e refresque minha memória, hehe.

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Quem é Capitu?

Eu sei que ao mesmo tempo que diversas pessoas babam por essa personagem, às vezes até querer atribuir mais mistérios do que aqueles que Machado já deixou, existe lá também uma infinidade de pessoas que tremem só de lembrar que Capitu é personagem de Dom Casmurro (também conhecido como “aquele livro chato que fui obrigado a ler”). Eu, apesar de “obrigada” a ler Dom Casmurro, confesso que estou no primeiro time.

Não que eu tenha uma adoração tremenda pela personagem. Admiro sim, é a capacidade do Machado de ter incluído em nosso imaginário essa figura que é, por si só, uma interrogação. E acredito que justamente por isso que Quem é Capitu?, recém-lançado pela editora Nova Fronteira, é tão especial: ao invés de focar no mistério básico da traição ou não, ele vai além e mostra faces e faces não só de Capitolina, mas da obra Dom Casmurro em si.

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Sobre Capitu

Segundo Fábio Lucas, na introdução do livro Dom Casmurro lançado pela Editora Ática, “sob a forma de um memorial de acusação, temos que considerar o relatório como força re-construtiva do protagonista e fixadora da imagem dos demais figurantes”.

É ao narrar sua história que Bentinho, ao invés de justificar sua vida através de acusações contra Capitu, acaba por gerar a dúvida sobre se ela seria de fato culpada. Mais do que isso, ao evidenciar a tendência que Capitu tinha de dissimular, acaba criando em torno dela uma aura mística, um mistério que só é menor ao da sua traição.
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