Balanço Literário do Mês: Janeiro

Já que é um ano novo que começa, resolvi fazer algo diferente sobre meus registros literários. Ok, não sou a primeira a fazer um esquema Nick Hornbyniano de registro mensal de leituras, mas a ideia nem é ser original, só de anotar minhas impressões das leituras de forma um pouco mais informal do que faço nas resenhas. Vou comentar sobre o que li, sobre o que estou lendo e sobre os livros que chegaram (nessa categoria encaixam-se os que ganhei, os que comprei e os que foram enviados pelas editoras para resenhar). Então para janeiro temos:

Livros lidos: A sombra da guilhotina (Hilary Mantel), A menina que não sabia ler (John Harding), Coisas Frágeis, vol.1 (Neil Gaiman), Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoiévski), O Dom do Crime (Marco Lucchesi), Adoro Morrer (Tibor Fischer), A Casa do Canal (Georges Simenon), 125 contos de Guy de Maupassant (Guy de Maupassant), Sussurro (Becca Fitzpatrick).

Leituras em andamento: O Palácio de Inverno (John Boyne) e Never let me go (Kazuo Ishiguro).

Livros que chegaram: Never let me go (Kazuo Ishiguro), Sussurro (Becca Fitzpatrick), A Casa do Canal (Georges Simenon), A Batalha do Apocalipse (Eduardo Spohr), Férias! (Marian Keyes), O Estranho Mundo de Zofia (Kelly Link), The Unfortunate Fursey (Mervyn Wall), Prosa de Gaveta (Guilherme Tauil), A Simbólica do Espaço em ‘O Senhor dos Anéis’ de J.R.R. Tolkien (Maria do Rosário Monteiro) e 125 contos de Guy de Maupassant (Guy de Maupassant).

***

Sim, eu entendo que uma pessoa que lê no mesmo mês Fiódor Dostoiévski e Becca Fitzpatrick apresenta uma leve incongruência sobre os gostos, mas já comentei no post sobre Sussurro que não vejo nada de mal em de quando em quando ler só para me divertir. E me diverti mesmo com Sussurro, leve e bacaninha tal e qual os livros da coleção vagalume costumavam ser.

E no mesmo esquema de diversão, teve ainda o Neil Gaiman com o primeiro volume de Coisas Frágeis. Continuo sem entender o motivo pelo qual a Conrad resolveu partir Fragile Things em dois, até porque obviamente “gastou” o que tinha de melhor da coletânea no primeiro volume (uma dica de que não estavam planejando um segundo volume, heim?). Não que o segundo volume seja ruim, conheço já uma boa parte do que está lá e até por isso não me animei a ler logo depois de ter conferido o volume 1. Mas blé, é cheio de poesia. E gente, eu adoro o Mr. Gaiman com todo o meu coraçãozinho, mas dá para contar nos dedos as que ele fez que realmente prestam (verdade seja dita, só curto mesmo The Day the Saucers Came e Instructions).

Em janeiro finalmente conheci Tibor Fischer, de quem a Sol tem comentado tanto nos últimos tempos. Curti, mas não tanto quanto ela, eu acho. É sempre um problema isso, quando você pega algo emprestado sabendo que a pessoa quer muito que você goste, e no meio da leitura a coisa não é assim, uma experiência que mude sua vida. Eu sei disso porque já emprestei livros para amigos (e gente, eu nunca empresto livros!) esperando que sentissem o mesmo que eu e não deu certo – e a sensação que dá é quase de que estão falando mal do seu filho ou algo que o valha.

Estou com um problema semelhante com The Passage, que o Fábio simplesmente adorou e recomendou tão fortemente que comecei a ler, mas achei tão pentelho que já estou quase jogando para a lista dos abandonados. Ele disse para eu não desistir, e pelo menos acho que não chegou a ficar tão chateado quanto com Ender’s Game– essa foi engraçada, ele perguntou o que eu estava achando, eu disse que achava meio infantil e aí ele escondeu o livro e disse que eu não merecia ler. Acabou que até hoje eu não consegui terminar o livro.

Acho que aí entra um pouco do bom e velho “fator expectativa”. Se uma pessoa que você considera ter bom gosto aprecia taaaaanto um livro, isso quer dizer que é bom. E aí você fica esperando ele ser bom, ou entender por que aquela pessoa acha bom e no final das contas está mais é preocupada com a experiência de leitura da pessoa que te emprestou o livro do que com o livro em si.

E já que falei de criar expectativas, qual o problema das editoras na hora de traduzir títulos de livros? Como assim “A menina que não sabia ler”? Fiquei um bom tempo me enrolando para ler só por causa desse título, achando que seria um drama repeteco de A menina que roubava livros. Se por acaso não tivesse lendo uma resenha dizendo que era livro de terror, jamais teria colocado na minha lista de livros para ler. A Leya tem trazido livros bacanas para o Brasil, mas dá cada bola fora que vou te contar (tipo O Morro dos Ventos Uivantes com aquele “O livro favorito de Bella e Edward” estampado na capa hahaha).

Em compensação, essa coletânea de contos do Guy de Maupassant eu tenho namorado desde que saiu em pré-venda. Sou fã do Maupassant, e era o tipo de livro que eu TINHA que ler – e acabou que eu TINHA tanto que ler que devorei as quase 800 páginas em menos de um mês. Outro catatau devorado foi A sombra da guilhotina, leitura que de certa forma deu mais vontade de ler os livros do Darnton sobre Revolução Francesa. Ai, ai esses livros que dão vontade de ler livros!

A Casa do Canal foi interessante pelo final, confesso. Passei uma boa parte do livro esperando aquela estrutura de livros policiais, em alguns momentos eu já até pensava BOOOORING, mas aí a conclusão fez toda a leitura valer a pena. E ainda sobre crimes, eu infelizmente não consegui ler O Dom do Crime como deveria ter lido (aceitando a teoria de que Machado se inspirou em um determinado crime para fazer Dom Casmurro). Isso porque eu acredito na teoria da grega do Graça Aranha e aí ó, piuft. Lá se foi minha capacidade de ser a leitora ideal do romance. Se você não conhece a teoria da grega do Graça Aranha dá uma fuçada no Hellfire que eu já contei a história aqui.

Sobre o que estou lendo no momento, há, finalmente consegui criar o hábito de ler mais de um livro ao mesmo tempo. Estou com o Palácio de Inverno na cabeceira da cama e Never let me go ao lado da poltrona de amamentação. Como amamento muito mais do que durmo, a leitura de Never let me go está mais avançada. No começo estava achando meio chatinho, mas acabei de chegar em um momento “WTF?!!!!”, e o pior é que a coisa é contada como se fosse super normal. Enfim, o livro finalmente me conquistou. O Palácio de Inverno é doce e encanta desde o começo. Essas histórias contadas por velhinhos são sempre assim, e isso é um golpe sujo do escritor para ganhar nossa simpatia, e tenho dito.

E só para variar, não dei conta de ler tudo o que chegou esse mês, e sei que alguns ficarão anooooos na minha estante até que um belo dia eu pegue e devore pensando “Caramba, por que não li esse livro antes?”. Acho que os que mais têm chances de sair da lista de livros para ler são A Batalha do Apocalipse e O Estranho Mundo de Zofia, mas é óbvio que tudo dependerá do que chegar em fevereiro…

10 comentários em “Balanço Literário do Mês: Janeiro”

  1. taizze – Aprendiz de jornalista e apreciadora do ócio que se meteu a fazer resenhas para jogar aos ventos sua humilde opinião.
    Izze disse:

    aaah, que bom que tu ta gostando d’O Palácio de Inverno. Esse seria um livro que, se tu falar mal, vou sentir que ta xingando meu filho hauhauahua

    Gostei da retrospectiva do mês, deu vontade de copiar xD

    1. faça no rizzenhas tb ^^ vc vai ver, é legal repensar em um livro um pouco depois de já ter feito a leitura. alguns amadurecem bem, outros vc começa a achar que nem eram tuuuudo isso e por aí vai.

  2. Muito bacana essa retrospectiva hornbyniana, chega deu vontade de ler o Frenesi Polissilábico novamente. 🙂
    Tô tentando começar o Coisas Frágeis mas tá difícil, até agora não consegui me encantar com o Gaiman. Só gostei mesmo do Belas Maldições que aí eu não sei o quanto tem de Gaiman ou Pratchett em cada trecho.

    1. se eu não me engano a parte das crianças é o gaiman, o resto o pratchett. lembro do gaiman falando sobre isso num faq do livro, mas agora não tenho certeza

  3. Adorei a ideia Anica, falar dos livros de um jeito mais informal sem ter o lado restritivo que a resenha às vezes impõe. Deu até vontade de fazer algo assim no blog.

    Quanto às traduções de títulos, esse do A Menina Que Não Sabia Ler foi o fim da picada mesmo. Me pergunto o que se passava na cabeça do tradutor na hora da escolha… o.O

    1. eu acho que deve ter sido decisão editorial, e não do tradutor. mas foi uma bola fora, e sem contar que pega meio mal querer pegar carona no sucesso de livro de outra editora, né?

      e sobre fazer algo parecido no seu blog, dou o maior apoio. foi o que comentei com a izze ali acima, é diferente falar do livro passado um tempo da leitura. ^^

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