Sede de sangue (Bakjwi)

“E lá vai a Anica, comentar mais um filme de vampiros!” você deve estar pensando. É, mais um filme de vampiros, mas se serve de consolo, esse é bem diferente do que temos visto por aí, a começar que é realmente bom (não apenas divertido, digamos assim). Sede de sangue (que reza a lenda chegou nos cinemas brasileiros em abril desse ano) é dirigido por Chan-wook Park, o mesmo de Old Boy e cia. que eu vergonhosamente ainda não vi, então não posso dizer se é fiel ao estilo de direção ou se tem alguma inovação sobre isso, mas de qualquer forma vale destacar novamente: está BEM acima da média no que diz respeito aos filmes de vampiros atuais.

Sede de sangue é longo (eu assisti a versão do diretor, 145 minutos), o que permite um excelente desenvolvimento das personagens principais. Não é só uma história de um sujeito que vira vampiro e tem que lidar com isso, porque você consegue enxergar as pequenas (e lógico, as evidentes) implicações disso ao longo de cenas que em teoria poderiam ser deixadas de lado (e que normalmente o são em outros filmes). Aqui temos Sang-hyeon, um padre que cansado de ver pacientes do hospital onde trabalha morrendo acaba se voluntariando para uma experiência de vacina para um vírus extremamente perigoso.

A experiência obviamente dá errado e o padre bate as botas, para então milagrosamente ressucitar e ser conhecido como o único sujeito que conseguiu sobreviver ao vírus VE. Logo ele ganha fama de milagreiro e pessoas passam a pedir para que ele reze por elas, para que se curem de seus males. Esse primeiro momento do filme é um pouco mais arrastado, mas como disse vale pela preparação do que vem a seguir: Sang-hyeon acaba reencontrando uma família que costumava visitar quando criança, e volta a se relacionar com eles. E, entre eles está Tae-ju, por quem se apaixona.

Por coincidência, é quando se encanta por Tae-ju que começam a aparecer os primeiros sinais mais óbvios de que ele se tornou um vampiro, como o fato de não poder se expor à luz do sol. Aqui a história se desdobra do drama (o padre lutando entre a fé e a ciência) para o romance (quando temos a questão do celibato e aí o contraste entre fé e instinto). E aos poucos Tae-ju vai ganhando espaço na história, que vai ficando cada vez melhor, especialmente porque é bem temperada com um humor negro que beira ao nonsense em alguns momentos. É quase como se  diretor aproveitasse a história do padre vampiro para fazer um menu degustação do que há de melhor em cada gênero, mas de uma forma coesa, que funciona.

Ainda acho que o ponto alto de Sede de Sangue é Tae-ju, a personagem é encantadora. Eu sei que quem assistiu ao filme me achará uma esquisita por dizer isso, mas eu gostei muito daquela inocência quase selvagem da garota misturado a um egoísmo absurdo, que no final das contas aprendeu com o tempo que o importante é ela primeiro, e os outros que se resolvam depois. E vamos lá, em tempos de vampiros apaixonados, é muito bom ver alguém reagindo como ela à notícia de “oi, eu preciso de sangue humano para viver”.

Mas tudo funciona muito bem ali, mesmo as cenas mais sem sentido – aquela coisa oriental de manter um pé na insanidade para criar o efeito de horror. Eu não sei se já chegou nas locadoras, mas definitivamente vale a pena conferir. Verdade seja dita, até fiquei com vontade de parar de enrolar e conhecer os outros filmes do Chan-wook Park.

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