O Coringa e o Oscar

tdk-aug3-jokr-high-res-2Desde que saíram as indicações do Oscar de 2009, uma das coisas que mais têm agitado a nerdaiada é o fato da premiação ter simplesmente ignorado O Cavaleiro das Trevas, deixando para o filme apenas indicações mais técnicas (edição de som, maquiagem, efeitos sonoros, efeitos especiais, edição, etc.) e ficando apenas com a indicação póstuma para Heather Ledger como ator coadjuvante pela interpretação do Coringa. Eu, devo ser uma das poucas fãs de Batman que acha que esse filme não é tuuuuuudo isso e que no final das contas a academia não errou ao excluir o filme dos prêmios principais.

Caindo na real, o que esse Batman tem de tão diferente do anterior, o Batman Begins? “Orra, Anica! Tem o Coringa! Muito foda o Coringa, o Ledger fez um trabalho de interpretação superior ao Jack Nicholson, Coringa-eô!”. Hum. Certo. Vamos conversar um tico sobre o Coringa então.

Criado na década de 40 por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, o Coringa é provavelmente um dos vilões mais adorados dos quadrinhos. E eu só uso “provavelmente” porque eu não teria como provar o “certamente”, mas ainda acho que é a segunda opção. Até quem não lê quadrinhos sabe quem é o sujeito do terno roxo e cabelos verdes. É aquele antagonista que leva uma história de “bandido e mocinho” para outros níveis, porque ele faz o próprio herói se questionar, repensar as atitudes.

E a principal questão que ele invariavelmente levanta é do que é loucura, e o quão loucos nós que nos achamos “normais” também não somos. E é por isso que ele faz Batman, o sujeito obcecado desde criança pelo combate ao crime por causa da morte dos pais, perguntar até que ponto o que ele faz é certo ou é normal. Até que ponto vestir-se de morcego é tão “certo” quanto o que se veste de roxo.

A loucura de Coringa é agridoce. Ele é um psicopata com senso de humor, e por isso a representação é justamente a da figura com o sorriso eternamente estampado no rosto. O Coringa não é um palhaço ao estilo “alívio cômico” como era o Cesar Romero da série de TV.  Nem um pavão espalhafatoso como era o Nicholson no filme do Burton. Mas também não era o insano rabugento interpretado pelo Ledger. Me desculpem fãs de Dark Knight, mas eu ainda acho que ele perdeu a essência básica da personagem: tendeu demais para a loucura, esqueceu do humor. Porque até na hora da piada ele parecia sério.

Não que a interpretação dele não tenha sido boa. Nossa, eu lembro daquele movimento que ele fazia com a língua e dá até asco.  Mas ele não atingiu a perfeição, e a história de Dark Knight não permitiu isso. Tanto é que o diálogo entre o Batman e o Coringa no final do filme não chega a ser a sombra do diálogo entre Batman e o Coringa no final de A Piada Mortal. A culpa não é do Ledger, é claro. O roteiro deixou a desejar em vários pontos, e por isso que eu ainda acho que o filme não é tão espetacular assim que justifique tanta gente estar p* da vida porque não foi indicado nas categorias princiapis. Mas convenhamos, faltou um pouco do humor, da auto-crítica que o Coringa das HQs carrega para ele ser assim tão perfeito.

Ainda acho que perfeito o Ledger estava em Brokeback Mountain, e perdeu o Oscar de melhor ator porque competia com o Philip Seymour Hoffman fazendo um daqueles papéis de caracterização que a academia adooooora premiar, no filme Capote. Agora, vir com essa de “prêmio póstumo” quando tem o Downey Jr. em Tropic Thunder e o Josh Brolin em Milk, já me parece querer forçar a barra.  Os prêmios técnicos já fazem mais do que justiça ao Dark Knight, nerdaiada. E se estão de bobeira aí, não esqueçam de ver o fan film que fizeram do Asilo Arkham. Eu ainda acho que daria um filme muuuuuuuito mais legal.

14 comentários em “O Coringa e o Oscar”

  1. Alexandre Esposito – Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Mas trago na cabeça uma canção do rádio em que um antigo compositor baiano me dizia "tudo é divino, tudo é maravilhoso".
    Alexandre Esposito disse:

    O forte de Dark Knight e o seu roteiro não é o Coringa, que sim, está espetacular e merece sim o prêmio, mas a forma como construiu um filme que não é sobre Batman, e sim sobre Harvey Dent.

    Ele é o protagonista. É um filme sobre sua ascenção e queda vistos pelo Batman, e se aproveitando de todo o contexto construído a partir do (já ótimo) Batman Begins.

  2. Eu acho que o Dark Knight é um excelente filme do Batman. É perfeito? É totalmente fiel? Claro que não. Nem O Senhor dos Anéis é 100% fiel ao livro, mas nem por isso é um filme maizomeno.

  3. hummmm..só pra provacar querida Anica (rs)… sem minha opinião pessoal ainda, mas se não está baseado em fidelidade, no que se basearia o Ledger, ou o roteiro, para atingir a “perfeição”?

  4. ué, no que eu disse acima “é o que poderia ser feito e não foi”. encontros batman/coringa têm um potencial absurdo, mas não foi aproveitado como poderia em dark knight (independente dessa leitura do knolex sobre ser um filme do dent, já que estou falando de ‘encontro batman/coringa’). =]

    (Vale destacar, caso não tenha ficado claro no post: eu não desgosto do filme, nem acho ruim. Só não acho que ele seja TUDO isso, interpretação do Ledger inclusa, nem acho que vale tanto chororô por ter sido ignorado nas categorias principais.)

  5. 🙂 eu entendi o que vc disse e concordo em grande parte, apesar de eu não esperar do filme a mesma coisa que vc. Eu gosto muito do filme, mais do que dos outros Batmans…mas penso em cinema mesmo. Quando se faz adptações não dá pra se apegar muito, enquanto expectador, no que foi construido nos quadrinhos, ou nos livros. São linguagens muito diferentes. E tradutores, no sentido de leitores, muito diferentes também, com vários conceitos. Quanto ao Ledger, pelo que entendo da construção do trabalho dele, acho que a opção foi mesmo pra fugir de qualquer expectativa que pudessemos ter a partir do que já era conhecido. E como personagem construido acho brilhante, apesar de bem diferente da imagem que eu tenho do Coringa extraida dos quadrinhos. E olha, tenho visto tantos atores fazendo porcarias que dentro da proposta que ele se impôs acho que ele atinge a perfeição, mas naquilo que propôs, entende. POr isso perguntei em que vc se baseava, para entender se vc se baseava mesmo nos quadrinhos apesar de não falar em fidelidade. Sò isso.
    No mais, acho também que ele merece Oscar tanto quanto os outros que vc tão bem citou, e não tiraria o nome do Sean Penn em MIlka, que acho nem foi indicado.

    beijos e desculpe o mau jeito da pergunta anterior

  6. Também não achei The Dark Night essa maravilha toda, mas é, sem dúvida, um bom filme.

    Agora, acho que não dá para desmerecer a atuação do Ledger levando-se em conta como é o Coringa nos quadrinhos ou em outros filmes. Um Coringa menos sério não seria uma boa num filme tão sombrio como esse Batman.

    Quanto ao Robert Downey Jr em Tropic Thunder… realmente, merece o oscar. Aliás, ele se superou esse ano, hein? O cara praticamente fez de Iron Man um filme excelente.

  7. ô, Simone, sua pergunta antes estava ok, não precisa pedir desculpas O_o gostei do seu comentário sobre adaptações =] sobre o sean penn com o milk, ele foi indicado, mas a ator principal ^^

    shaun, 2008 foi o ano do downey na minha opinião. confesso que nunca achei o homem de ferro legal, mas no filme estava ótimo. e em tropic thunder não tem nem o que dizer. só aquele momento que ele volta a agir como australiano (o que ele tb não é) já mostra como ele fez um trabalho excelente. por mim o oscar era dele :g:

  8. Eu entendi o seu post. Só discordo dele. E não falei só da Máscara. Falei também da questão da institucionalidade (que tá no final do filme, quando o Bat-sinal é quebrado e o Batman tem que fugir da Polícia). Mas pra mim tá tudo relacionado.
    Se você tiver paciência de ler os posts sobre heróis (tem o hyperlink), acho que tudo que eu disse ficará mais claro.
    Mas de todo jeito, obrigado pelo comentário.
    Manoel Galdino

  9. Alexandre Esposito – Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Mas trago na cabeça uma canção do rádio em que um antigo compositor baiano me dizia "tudo é divino, tudo é maravilhoso".
    Alexandre Esposito disse:

    Ah sim, só pra deixar claro: embora eu tenha achado DK FODA, não acho nenhum absurdo ficar de fora das categorias principais do Oscar. O filme que senti falta nelas foi Wall-E.

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