Serena (Ian McEwan)

Você provavelmente já passou por essa situação: gostou muito de um livro, queria demais que outras pessoas também lessem para conversar sobre ele com você, mas no momento em que vai tentar explicar pela primeira vez o que faz dessa obra algo tão bacana, se dá conta de que é um daqueles casos de “quanto menos souber, melhor”. E não é no sentido de estragar alguma surpresa do enredo (como aquele sacaninha que vem contar o final de O Sexto Sentido para quem ainda não viu o filme) – até porque livros realmente bons não se sustentam apenas em um plot twist para serem considerados como tais. Mas é que ao falar do que encantou em determinado romance você corre o risco de estragar a experiência de leitura da outra pessoa, chamando atenção para pontos que deveriam ser descobertos a seu tempo, como parte do processo de leitura. E eu digo tudo isso para pedir desculpas e dizer que esse post não é para você que deseja saber algo sobre Serena antesde ler o livro, mas para quem já leu o romance de Ian McEwan.

(Se vale de consolo para você que ainda não leu o livro, eu posso resumir brevemente que Serena é uma história que envolve espiões mas não tem nada daquele estilo “James Bond”, e é muito mais sobre a relação das pessoas com a Literatura do que qualquer outra coisa. E sim, é lindo. E sim, você deveria ler. Obrigada pela compreensão, espero que volte mais tarde.)

Então que Serena é um romance narrado em primeira pessoa pela narradora-protagonista Serena Frome, que para mim chegou como mais uma personagem para a galeria dos odiáveis de Ian McEwan. Não, ainda não é uma Briony (precisa tomar muito Nescau para chegar aí), mas inicialmente não tem como gostar da garota, tão egocêntrica e aparentemente tão apaixonada por si mesma. Vou enfatizar o inicialmente e pedir um tanto de paciência que depois volto para o motivo de ser só no começo. Retornando, Serena conta para o leitor como é que, após um breve romance com um homem mais velho, acabou sendo contratada pelo MI5, serviço de Inteligência Britânico. Quem espera toda a ação eglamour típicos das histórias de espiões pode se decepcionar: o cargo inicial da jovem é bastante sem graça, e pelo menos uma boa parte do começo do livro de McEwan se sustenta quase que só na curiosidade do leitor em saber por que o ex-amante de Serena a indicou para aquele trabalho. Mas aí chega o projeto Tentação e a narrativa realmente engrena. Continue lendo “Serena (Ian McEwan)”

Desejo e Reparação

Eu tenho cá minhas birrinhas pessoais sobre alguns filmes. Veja o caso de Desejo e Reparação, que chegou nos cinemas do Brasil no começo do ano passado e que só fui conferir agora. Inspirada em uma obra de Ian McEwan (um dos queridinhos da crítica atualmente, devo dizer), eu resolvi deixá-lo completamente de lado por causa da “sacada” da distribuidora do filme de lançar o filme com um título bem “Austeaniano”, tentando estabelecer uma relação com a atriz principal, Keira Knightley, que tinha conquistado corações como Elizabeth Bennet um ano antes.

Bobagem, eu sei. Mas a curiosidade era grande, então ainda em 2008 resolvi ler Reparação (Atonement em inglês), até por causa dos diversos elogios à obra. E o livro realmente me agradou, lembro que fiquei encantada com o trabalho do McEwan com as personagens (aquela coisa de serem reais, não caricatas) e mais ainda com a conclusão e todo o significado sobre a arte de escrever que ela trazia. Mas não foi uma leitura que, digamos assim, mudou minha vida.

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