O Segredo da Cabana

cabin0Quando assistíamos mais filmes de terror juntos, eu e o Fábio tínhamos como ‘nota de corte’ um cinco no IMDB. Abaixo de 5 era pouco provável que assistiríamos ao filme. 5 estava liberado, 6 ficávamos curiosos. Acima de 7 era certeza de que veríamos algo bom. É por isso que ao ver O Segredo da Cabana com 7 no IMDB (e aparecendo em um punhado de listas de sugestões de filmes do gênero) fiquei bem curiosa. Ok, a sinopse falava de cinco amigos em uma cabana na floresta (dá para ser mais clichê que isso?), mas muitos artigos elogiavam o filme por ter reinventado histórias desse tipo. Uou, expectativas lá no alto, vamos lá.

Eis que nos primeiros minutos…. AHNNNN?? Sério que estão apresentando os cinco esteriótipos típicos de qualquer filme com adolescentes/jovens no cinema? Piadinhas com maconha, meninas pagando calcinha nos primeiros minutos? E isso era para ser uma reinvenção? Olha lá, olha lá! Tem até o tiozão sinistro do posto de gasolina no meio do nada falando qualquer coisa que é para deixar o pessoal com medo do lugar para onde eles estão indo! Clichezãoooo! Já estava achando que tinha sido enganada pelos sites de cinema que costumo ler quando a história paralela, em uma espécie de laboratório-quartel-seja-lá-o-que-for, começa uma reviravolta que fez de O Segredo da Cabana um ótimo filme (e tive que concordar com o que eu tinha lido sobre ele). Atenção, spoilers a partir daqui (e é um filme que vale a pena ver sem saber muito sobre ele, vai por mim).

Aqui é importante ressaltar que nem tudo é revelado logo de cara, mas já dá para ter uma boa ideia do que se trata. Quem leu algo de Lovecraft já saca na hora em que falam em ‘old ones’ o que é que aquelas pessoas estão fazendo ali naquela espécie de laboratório. A ideia é fazer uma espécie de ritual envolvendo o sacrifício dos cinco jovens que estão na cabana, que logo descobrimos que não é nem um pouco “abandonada” como parece. Espelhos falsos, temperatura e iluminação controlados até mesmo na floresta. Toda aquela região é uma espécie de laboratório.

E é aí que o filme fica bom. Porque o sacrifício consiste em simular um filme de terror, no final das contas. Repare no quadro de apostas que aparece em um momento antes de o “perigo” da cabana se revelar:

Você vê ali praticamente todo tipo de monstro que possa ter atacado em um filme de horror, incluindo ali uma homenagem ao Sam Raimi em The Evil Dead com a “Angry Molesting Tree”. Mesmo as situações de confronto dos jovens com o “monstro” que eles acabam escolhendo (sem consciência da escolha, é óbvio), todas elas são uma reprise de clichês de filmes de terror, mas porque os “cientistas” QUEREM aquilo. Um dos momentos em que mais dei risada no filme foi quando eles estavam ansiosos pela hora em que uma das garotas mostraria os peitos (alou, regra número um de filme de terror, tem que ter peitinhos!), e aí iluminam uma clareira para que ela, que estava com medo de transar ali no meio da floresta, finalmente acabe cedendo às investidas do namorado. E quando as coisas não dão muito certo… “

Hadley: These fucking zombies. Remember when you could just throw a girl in a volcano?

Sitterson: How old do you think I am?

Observe a cara de frustração dos cientistas quando o “líder” Curt fala para que eles fiquem sempre juntos. O filme todo é assim, uma situação depois da outra lembrando muito aquele livro do Seth Grahame-Smith, o How to Survive a Horror Movietem até a regra da virgem (“We work with what we have“). Assim, de um jeito meio torto mas de qualquer modo bem engraçado, acaba funcionando como uma espécie de metáfora, onde os cientistas poderiam ser os “diretores” de um filme de terror, e os “old ones” somos nós, a audiência.  Até a competição entre eles e o Japão parece na realidade fazer uma menção aos filmes de horror japoneses (a cena das garotinhas cantando para o fantasma é hilária, diga-se de passagem).

E aí nesse ponto já falei tanto em humor e variantes que fica a pergunta: mas é um bom filme de terror? Não acho. É uma comédia, e que vai agradar fãs de terror – mas não pelo que normalmente agradaria. Não vou negar que a cena no elevador (com alguns monstros se revelando) não seja bem assustadora, até porque muito do horror ali fica por conta da sugestão, como a bailarina com aquele rosto cheio de dentes. Mas ainda assim, as cenas que deveriam ser assustadoras acabam sendo mais engraçadas, porque sempre tem a visão dos cientistas para o que está acontecendo. A interrupção acaba com qualquer possibilidade de construção de tensão.

Mas isso não quer dizer que o filme seja ruim. Eu adorei, gostei muito mais do que Evil Dead (que também vi ontem à noite e é beeeee assustador). O negócio é saber que a intenção aqui é zoar o porrilhão de clichês do gênero, e não necessariamente assustar. Sem decepções sobre isso, é diversão do começo ao fim.

PS. Já posso assumir que sou groupie do Joss Whedon?

 

3 comentários em “O Segredo da Cabana”

  1. Eu tava querendo comentar com alguém sobre o excelente texto que o Xerxenesky fez sobre o filme (não exatamente sobre o filme, mas cê entendeu), e pensei “porra, quem, além de mim, viu o filme?” Aí lembrei que cê também curte curte terror, logo, iria curtir um filme de terror que é construído a partir da ~aparente~ desconstrução dos clichês de filmes de terror. Aí vim no Hellfire e touché!

    Eu vi O segredo da Cabana por puro vício. Não li uma única crítica, antes de ver, nem olhei a nota no IMBD. Vi porque é aquela coisa “uou, filme de terror, vou ver”. Não é bem um filme de terror, como você já falou no post, é uma comédia construída com elementos de filmes de terror, mas, né, a sinopse (ainda bem) não fala muito.

    O “old ones” foi sacal. Muito sacal. E fez com que eu começasse a me preparar para o que viria. Como a ideia era construir/desconstruir os clichês de filmes de terror, eu estava tentando me preparar psicologicamente para o momento em que os palhaços fossem aparecer. Não adiantou, claro, eu gritei e comecei a tremer (meu ataque de pânico habitual quando os palhaços aparecem na minha vida, hahahaha).

    E o lance de “aplacar a fúria” dos deuses (que somos nós) foi lançado, pelos cientistas, de forma mais clara em, pelo menos, dois momentos: na hora do sexo da loira lá com o namorado que um dos carinhas falou algo como “temos de agradar o cliente” e quando o novato perguntou se não era errado eles estarem vendo e o carinha falou “não somos os únicos que estamos vendo”.

    Enfim, eu gostei bastante do filme também. E indico pra todo mundo que eu sei que curte terror, porque não tem como a gente ficar sem gargalhar quando os clichês começam a aparecer, um após o outro, para serem ressignificados e darem origem a uma outra proposta fílmica.

    P.S.: Meu amor pelo Whedon só cresce.

    1. Pior que já vi uns três filmes de terror depois desse e agora fico sempre pensando “cabin in the woods!” cada vez que aparece um clichê, haha

      O texto do Xerxenesky é muito bom mesmo =D

  2. Nao sei quem é a pessoa que escreveu esse comentário acima mas sinto que devemos ser amigas pois sintetizou tudo que queria dizer. Vi por vicio em terror, amei o filme e precisava encontrar alguem pra dividir mas nao sabia quem me entenderia.

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