Coração Satânico (William Hjortsberg)

A leitura de Coração Satânico de William Hjortsberg enfrenta uma série de dificuldades externas. A primeira é que o livro ganhou uma adaptação cinematrográfica excelente e imperdível nos anos 80, mas quem viu o filme sabe que aparentemente assisti-lo acaba com a graça de ler o original. Segundo que infelizmente a obra em português encontra-se esgotada, então conseguir uma tradução requer uma busca em sebos, o que pode não ser muito fácil.

Mas vencidos os obstáculos, a verdade é que trata-se de um dos melhores romances policiais que já tive em mãos e que sim, vale a pena ler mesmo já sabendo do plot twist que temos na história. E se você é fã de histórias noir, então tem realmente que ir atrás de uma edição de Coração Satânico, nem que seja a versão original em inglês (chamada Falling Angel).

A narrativa nos mostra o detetive particular Harry Angel ganhando um novo caso: ele deve saber se o músico Johnny Favourite ainda está vivo ou não. O cliente de Angel, Louis Cypher, oferece poucas informações como ponto de partida para o investigador, mas aos poucos vamos descobrindo um pouco mais da vida do cantor, e sabendo que de bonzinho o sujeito tinha pouca coisa.

Angel é o típico detetive de histórias policiais. Ele não se dá bem com os investigadores da polícia, é um cínico que fuma e bebe compulsivamente, está sempre com seu inseparável trench coat e parece desconfiar de todo mundo, o tempo todo. O espaço da narrativa é Nova York, e ao pesquisar sobre o cantor Favourite, temos uma verdadeira descida ao submundo (inferno), o que vai desde músicos até circo de horrores.

O modo como a trama é desenvolvida prende a atenção do leitor do início ao fim, com momentos em que não dá vontade de largar o livro. E repito: mesmo já conhecendo o enredo e sabendo o que acontecerá na conclusão. Conseguir despertar esse tipo de interesse em quem está lendo uma história é para poucos, e Hjortsberg dá conta disso muito bem.

Fora o fato de que eu não conseguia imaginar Harry Angel sem ser com o rosto de Mickey Rourke e Louis Cypher sem ser Robert DeNiro, a verdade é que ter assistido ao filme antes de ler Coração Satânico não estragou em nada a experiência. Até porque ele segue aquela regra básica de que na maioria das vezes, o escrito é melhor do que o que podemos conferir na telona: algumas personagens, como Epiphany, são muito melhor desenvolvidas, e mesmo o relacionamento dela com Angel parece mais complexo.

Romance excelente, acima da média. O desfecho é de tirar o fôlego, especialmente o modo como o autor marca as descobertas do detetive.  É impressionante o que Hjortsberg consegue fazer com um monte de clichê. É mais do que um mistério, é uma história sobre a busca do eu. Se ainda não leu e nem viu o filme, comece pelo livro – provavelmente entrará entre seus favoritos do gênero.

4 comentários em “Coração Satânico (William Hjortsberg)”

    1. é por isso que não gosto de emprestar livros /o
      fui dar uma sondada no estante virtual e achei só um exemplar do coração satânico (isso há uns dias, não sei agora). só consegui ler porque foi em inglês, no kindle. tá difícil de conseguir mesmo

    1. eu tinha certeza que vocês já tinham comprado antes da viagem +_+ compre logo, dani, você vai ver como vale a pena. eu a cada dia que passa tenho ficado mais feliz com o meu, especialmente quando consigo ler (sem nem pagar hehehehe) livros difíceis de achar como o coração satânico o/

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