A Amiga Genial (Elena Ferrante)

amigagVou poupá-los da introdução “Quem é Elena Ferrante?” até porque já falei sobre isso ao comentar The Days of Abandonment (segundo dos nove romances já publicados pela autora). Se você está meio perdido e não sabe qual é o problema da identidade, é só clicar aqui ou ler a seguir a versão resumida: Ninguém sabe quem ela é. Não faz diferença saber quem ela é. Pronto? Pronto, então vamos lá para A Amiga Genial.

Primeiro volume da série napolitana, A Amiga Genial foi recebido lá fora com muito barulho e chegou recentemente no Brasil pela Biblioteca Azul da Editora Globo. A saber, os quatro romances da série seguem a vida de duas amigas, Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila), sendo que o primeiro conta eventos da infância e adolescência das personagens. Pelo Prólogo sabemos que já em idade avançada Lila simplesmente desaparece, não deixa vestígio algum de sua existência, e Lenu escreve os livros para contar tudo o que lembra da amiga, um tanto como vingança (embora o leitor ainda não sabe sobre o que é a vingança). É meio que a moldura que amarrará a história dos quatro livros, acredito.

“Mas… mas… é só isso?”, você até poderia perguntar. Nunca é só isso. O bacana da obra da Elena Ferrante é aquele mergulho dentro da cabeça de suas personagens, expondo seus pensamentos em sua totalidade: dos bons aos mesquinhos. Além disso, o espaço toma conta da narrativa. O bairro napolitano descrito por Lenu surge quase como personagem, uma sombra que constantemente cai sobre a vida das meninas, influenciando suas ações. E assim, mesmo que o grande conflito em algum período da vida da protagonista seja pura e simplesmente tirar nota para passar na escola, ou fugir das pedras atiradas por garotos, você percebe que essa é só a superfície, porque tem muito mais ali.

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A História Secreta (Donna Tartt)

É, eu dei uma sumida. Mas sempre que eu penso “Ah, dane-se, quase doze anos escrevendo aqui, vamos fazer outra coisa da vida”, cruzo com um livro que enche minha cabeça de ideias e meudeusmeudeus eu preciso falar sobre ele. Embora ler seja um ato particular, o que vem após a leitura não é. Não digo só pelo ato de recomendar leituras para terceiros, é mais de expôr uma visão e buscar pessoas que também tenham algo para compartilhar sobre a experiência. É meio como disse o Nick Hornby naquele texto que já citei aqui:

Books come to me through recommendations, reading, browsing — sometimes through my own bookshelves — but I can’t really take part in the cultural conversation that, I suspect, isn’t really happening anyway. Everyone reads books like this, surely? Everyone switches from Jane Austen to Hilary Mantel to an old PD James that someone who was staying in the spare room left behind? (Even when I’m in the right place, it’s at the wrong time. In 2009, a passionate recommendation from a reader of the column led me to an obscure 1965 novel that the splendid New York Review of Books imprint had made available. I read it, loved it, and recommended it forcefully. If anyone was listening, then they did so only slowly: the novel was called Stoner, and by the time everyone else was reading it, I could no longer talk about it in any detail.)

E aqui estou eu, abrindo um post para falar de um livro escrito por Donna Tartt no começo da década de 90. Se deu muito falatório na época do lançamento eu não sei, porque em 1992 eu ainda estava variando minhas leituras entre um Stephen King e alguma coisa do Pedro Bandeira. A tradução saiu por aqui em 1995 – aparentemente ganhou edição nova depois que O Pintassilgo deu as caras (nota mental: a capa da edição da década de 90 é mais bonita).

De qualquer forma, mais de 20 anos de existência dão a impressão de que tudo já foi dito sobre A História Secreta, mas ainda assim eu quero falar sobre A História Secreta. O que significa que eu não vou ficar me cuidando muito sobre spoilers, até porque a própria Donna Tartt já abre o livro dizendo quem matou quem, há.

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