A História do Amor. Ahhhhh, A História do Amor. Pega um título desses e já toca O Amor e o Poder na minha cabeça e penso que lá vem um daqueles livros fofos de romances improváveis que vá lá, eu curto mas no fim é sempre mais do mesmo. Vou confessar aqui que o livro só apareceu no meu radar por causa de um post no tumblr. Pois é. Aparentemente todo mundo já tinha ouvido falar, já leu ou morre de vontade de ler, e eu não fazia a menor ideia de que existia esse livro por aí. O tal do post reforçava um pouco minha ideia sobre qual seria o enredo da obra, no final das contas. Era esta imagem:
A essa altura além de estar questionando meu gosto musical, você já deve estar prevendo que eu estava completamente enganada sobre a natureza da história, certo? Pois bem, enfatizo: completamente enganada. Tem sim seus momentos de fofura, e com um título desses é óbvio que girará em torno de relacionamentos amorosos das personagens, mas A História do Amor é tão mais do que isso. É tão lindo. Tão triste. Tão surpreendente. Tão. Tão. Tão.
Vá lá, partindo do princípio: no romance temos a vida de diversas personagens que aparentemente pouco têm em comum se encontrando por conta de um livro (chamado de A História do Amor). Abre com o imigrante polonês Leopold Gursky, que já no fim da vida passa a relembrar seu grande e único amor, um sujeito tão solitário que diz gostar de ser visto pelas pessoas para que deem pela falta dele rapidamente caso ele morra. Mas passa também por outras personagens, como a adolescente Alma Singer, que tenta descobrir mais sobre um livro de onde seus pais tiraram seu nome. Podemos dizer que esses são os dois círculos principais, e por acaso os dois momentos do livro narrados em primeira pessoa – os capítulos das outras personagens chegam em terceira pessoa ou em forma de outros gêneros textuais (trecho de diário, prefácio de livro, etc.).
O bacana é que no caso dos capítulos em primeira pessoa – aí incluindo o diário também – há uma necessidade de marcar a voz de cada personagem de forma diferente. Oras, é óbvio: se você tem um velho quase no fim da vida e uma guriazinha que está começando a ter as primeiras experiências amorosas, você não pode narrar os eventos da mesma maneira. E Krauss consegue diferenciar bem o estilo dos dois, não só estruturalmente (Leo segue pelo fluxo de consciência, Alma segue por tópicos), só que no estilo mesmo. Seja por repetições de frases (como o constante “And yet.” de Leo), seja pela força das imagens criadas (como a trilha de papéis deixadas pela mãe de Alma), você consegue distinguir bem um narrador do outro sem que precise de qualquer indicação mais clara (como acontece em alguns livros nos quais os títulos dos capítulos são o nome de quem narra).
E você pensaria que essa alternância poderia de alguma forma afetar a forma como as personagens seriam desenvolvidas, mas a ligação com todas ali é quase instantânea. Não sei se pelo tanto de divagação, se pelo background apresentado pela autora ou se por uma combinação disso, mas antes de chegar em 5% da leitura eu já sabia que a) eu precisava saber o destino daquela personagem, b) eu amaria aquele livro.
Tem obra que é assim, encanta não só pelo que conta, mas como conta. Há algo no estilo de Krauss que não prende a atenção do leitor, mas te faz pensar (tal como uma personagem diz em determinado momento) que esse é o livro que você gostaria de ter escrito se soubesse escrever.
Aliás, é evidente que para uma book nerd histórias que giram em torno de um livro acabam atraindo ainda mais, A questão da paixão por um título em especial, da relação das pessoas por ele. Tem um capítulo que descreve a história d’A História do Amor que é simplesmente genial, especialmente quando se concentra em um único exemplar que chegará nas mãos do pai de Alma Singer. Deixo aqui um trecho:
E então temos o modo como as vidas desses estranhos se conecta, que é justamente através do livro A História do Amor. Nada surpreendente, eu sei. Uma bagagem de leitura mediana já aponta que é isso que as personagens terão em comum, é o que alinhava personagens tão diferentes. Mas sem querer ser a doida do spoiler e já sendo (dentro da caixinha para quem não quiser saber não clicar)…
Sabe o que eu adoro em tudo isso? Que saber esse tipo de coisa não estraga a leitura. Não é um livro que dependa de eventuais surpresas no enredo para ser bom. Repetindo: com 5% eu já sabia que iria adorar o livro, e de fato adorei. Valeu cada segundo, marcou e deixou saudades. Eu gostei dos trechos de Leo, Rosa, Litvinoff e mesmo de Bird, mas acho que minha parte favorita é a de Alma. É tão doce e ao mesmo tempo tão triste, o modo como lida com as memórias do pai falecido, de como descreve a mãe que vive com um eterno coração partido, e mesmo o que sente pelo amigo Misha… chama muito a atenção como ela é tão visual (e eu tenho uma dificuldade tremenda para “ver” o que leio, mesmo assim fecho os olhos e consigo lembrar de cada passagem descrita pela menina como se eu estivesse presente). Não é só questão de ser visual, mas de como são imagens bonitas. “In another room, my mother slept curled next to the warmth of a pile of books“. Como fala tão bem da solidão e das saudades sem ter que usar essas palavras.
E chegando ao fim, o modo como ficção e realidade se mesclam no desfecho não poderia ser mais adequado. Você lê a última frase e tem vontade de voltar e ler tudo de novo – é esse tipo de livro. Um dos meus favoritos do ano? Um dos meus favoritos do ano.
(Em tempo: saiu pela Companhia das Letras em 2006 )
meu deeeeus, comecei a ler sua resenha e parei no “tão tão tão” pra procurar o bendito pra ler também! 😛
hahahah espero que você goste tanto quanto eu gostei =D