There Once Lived a Woman who Tried to Kill Her Neighbor’s Baby

There Once Lived a Woman who Tried to Kill Her Neighbor’s Baby chegou nos Estados Unidos em 2009, através de uma tradução de Keith Gessen e Anna Summers publicada pela Penguin. O livro traz uma coletânea 19 de contos da escritora russa Lyudmila Petrushevskaya, selecionados pelos tradutores e divididos em quatro categorias:  Song of the Eastern Slavs, Allegories, Requiems e Fairy Tales; todos englobados pelo subtítulo “contos de fadas assustadores”.

Por contos de fadas é importante ressaltar que esse não é um livro indicado para o público infantil. O tom predominante das histórias é o horror, mostrando como a história de um país acaba se refletindo na obra de um escritor, aqui Petrushevskaya (nascida em 1938) traz consigo a herança do pós-guerra (extremamente forte na cultura russa), com todo o pessimismo e melancolia desses tempos.  Pense nos contos de “There once lived a woman…” como se Crime e Castigo virasse contos de fadas, e então você terá uma boa ideia de como se apresentarão enredo e personagens ao longo das histórias.

A melhor parte da coletânea, pelo menos para quem gosta de terror, é certamente a primeira (Song of the Eastern Slavs) com histórias arrepiantes envolvendo fantasmas. Incident at Sokolniki é assustadora, mesmo que o leitor tenha uma vaga noção de qual será o desfecho da história da esposa do piloto que reaparece depois de ser dado como morto durante a guerra. Revenge é o que possui uma frase que dá título ao livro, e também é um dos melhores de toda a coletânea.

Em Allegories o ponto alto vem com Hygiene, no qual um sujeito bate na porta de uma família avisando que uma praga está se espalhando pela cidade e que eles estarão a salvo se mantiverem os hábitos de higiene. As imagens que Petrushevskaya cria não só para esse conto mas os demais nessa categoria são extremamente fortes, como a menina e o gato no desfecho de Hygiene. Continuam ecoando na memória do leitor muito tempo depois de acabar o texto.

Os presentes em Requiems são os mais melancólicos da coletânea, mesmo que como nos demais contos de “There once lived…” traga sempre o fantástico em ambientes comuns, com pessoas aparentemente comuns e extremamente solitárias. O mais impressionante aqui é The God Poseidon, mas o início de There’s Someone in the House vai gelar a espinha de quem já esteve sozinho em casa à noite.

A última parte (Fairy Tales) lembra muitos os contos de Kelly Link em O Estranho Mundo de Zofia, com uma boa mescla do absurdo com o ordinário. O destaque fica por conta de Marilena’s Secret, uma história envolvendo circo, mágicos e outros elementos fantásticos. Claro, lembrando aqui que por conta do tom bastante sombrio das histórias, o conceito de contos de fadas tem mais a ver com o fantástico do que com algo voltado para o público infantil.

Em suma, é uma excelente coletânea que deixa no leitor a curiosidade para conhecer mais da obra de Lyudmila Petrushevskaya. Apesar do tom pessimista de grande parte dos contos, há algo nas narrativas que encanta – como se a escritora russa mostrasse que é possível tirar beleza de algo feio. Agora é torcer para que o título interesse alguma editora brasileira, para lançar logo uma tradução para o português por aqui.

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