O Caçador de Pipas (Khaled Hosseini)

Capa do livro O Caçador de PipasLiteratura tem dessas coisas: desperta paixões, e conseqüentemente gera grupos de seguidores fanáticos que não suportam ouvir uma crítica à obra amada. Veja meu caso, por exemplo: se você chega e diz que Allan Poe é uma droga, eu passarei hoooooooras da minha vida tentando provar o contrário. Então, fanáticos do Hosseini, deixo desde já o recado: calma, eu entendo vocês.

Mas o grande fato é que O Caçador de Pipas foi uma decepção para mim. Até porque nas últimas vezes que arrisquei ler algo da lista dos mais vendidos, eu acabei me surpreendendo positivamente (vide Budapeste, A Estrada da Noite, A Menina que Roubava Livros e Deus, um Delírio). Mas no caso de o Caçador já na metade do livro tinha concluído que tratava-se de uma obra superestimada.

Vamos por partes. Tem uma história bonita e tocante? Tem. Mas um romance não é o enredo. Ele tem que ter aquele algo a mais, mostrar que o escritor é um escritor de fato e sabe manipular as palavras como um pintor domina as cores e um músico as notas musicais. Contar histórias todos nós contamos, todos os dias, isso faz parte de nós. Agora, saber escrevê-las, é só para raros.

No caso do Hosseini, o texto simplesmente não flui como poderia. A idéia do flashback logo após o narrador receber a ligação é até interessante, o problema é que quando retornamos ao momento em que ele recebe a ligação, você já está tão atolado de antipatia pela personagem principal (o narrador) que você quer mais é que ele se exploda.

Aliás, tem isso também, a questão das personagens. Tomemos o caso de A Menina que Roubava Livros: são pequenas anedotas que vão moldando o caráter de cada uma delas, dando diversas cores. Aqui temos um narrador que era fracote e queria a todo custo agradar o pai (no final das contas, a única personagem de fato interessante) se contrapondo ao inseparável servo/amigo que era, obviedade das obviedades, o oposto dele. E aí mesmo em momentos mais emocionantes, como

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na morte do pai dele, falta paixão. Para alguém que passou a vida tentando agradar a figura paterna, chega até a ser incoerente.

Aquela coisa: ruim o livro não é. Só não é TUDO isso que falam por aí. Vale como um registro social do Afeganistão também (aliás, toda vez que falo desse livro com alguém sempre escuto a mesma coisa “Até ler o livro achava que Afeganistão era só caverna, bomba e Bin Laden”. Aqui fica a indagação: “Então, por que diabos nós achamos que temos o direito de criticar a ignorância dos norte-americanos sobre o Brasil?”). Mas eu dificilmente indicaria a leitura desse livro para alguém, e mais dificilmente ainda colocaria em uma lista de livros que mexeram comigo.

Em tempo: é bem provável que eu esteja decepcionada com a narrativa de Hosseini porque engatei O Caçador de Pipas com O Ensaio sobre a Cegueira do Saramago. Talvez em uma releitura eu mude de idéia, mas, sinceramente falando, não acho que a releitura virá muito em breve.

11 comentários em “O Caçador de Pipas (Khaled Hosseini)”

  1. De todos os fãs do livro eu ouvi a mesma coisa: que o filme não presta. Se o filme não presta e eu não curti muito o livro, então vou deixar pra lá :ahhh:

  2. zuleica – Vinte e tantos anos foi assim, minguados fins-de-semana para encontros pessoais. Os livros, jornais e revistas eram os dedicados amigos substitutos, dispostos a me acompanhar sem queixas à qualquer lugar. Os fins-de-semana agora estam mais extensos, estou mais disponível, mas mantenho em parte o hábito e não desejo modificá-lo. Por isso Veríssimo, para mim, é íntimo. David Coimbra, indispensável. Carnegie meu conselheiro. Lowen, Estés, Gibran, Bonder, Verne, Clark, Andrews, A. Rochais e outros são parceiros na mesa de debates que existe em meu mundo mental e emocional. Recorro a eles ao tomar decisões, em busca de inspiração, afinal “amigos assim” se pode ocupar tranqüila e serenamente. Neste espaço compartilho com você as pérolas desta convivência. Confira e opine
    kuinzytao disse:

    Todo mundo falava desse filme e do livro, porém ninguém queria me contar nada. Curiosa fui ver o filme. Não vou poder fazer uma crítica do filme, explico: Sabem que comportamento é o meu foco, portanto, quando eu vi a covardia daquele personagem e o argumento do pai quando relatava suas preocupações com aquele garoto, eu fiquei chocada, afundei na cadeira e não esperava nada dele, menos ainda alguma transformação. Nada do que ele fizesse me convenceria.
    O fim para mim foi convincente, uns nascem para salvar, outros para serem salvos. Acho que ele foi salvo.

  3. Minha sogra leu, tava louca pra comprar o tal do livro.
    Conseguimos comprar em um sebo por 18 reais no começo do ano, ela foi toda feliz pra PG com o livro, mas sabe que nem perguntei o que ela achou?
    Quando ela vier de volta vou pedir pra trazer, agora que você falou fiquei curiosa.

    BjoS!

  4. Olha a covardia também Dona Lovejoy!!! Onde já se viu ler um livro da moda com um ‘clássico’?
    Merece umas palmadas.

    Quanto a livros bem escritos, digo: sua descrição foi ótima, hoje parece que os livros carregam uma fórmula. Ou ela é uma narrativa sem parar cheia de anedotas ou é cheia de frases de efeito (por isso Paulo Coelho faz sucesso). Pessoas adoram frases que podem decorar e soar inteligente, profunda, etc. E se bem me lembro há uma passagem em O Caçador de Pipas que aparece uma frase tão cheia de efeito e fora de contexto que até decepiciona (preciso achar esse livro e escrever por aqui).

    ps: eu quase mandei um Caçador de Pips, etc.

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