Do tempo da vovó

wildeBom, são quase 3 anos de Hellfire, acho impossível que eu não tenha comentado por aqui sobre minha paixão pelo Oscar Wilde – que hoje em dia é só uma admiração profunda, uma vez que a gente cresce, tromba com uns sujeitos mais interessantes e monogamia literária é um saco, afinal de contas.

Acabou que por conta disso resolvi escolher o Wilde como tema de seminário, e lá vou eu colher livros sobre o fulano e as obras do fulano para me preparar para a apresentação. Aí a Jo emprestou o livro que ela ganhou do Lê, chamado Sempre seu, Oscar: Uma biografia Epistolar e uou, esse negócio de cartas virou meu tipo favorito de biografia agora.

Eu já tinha lido o De Profundis e sei como o tio Wilde escrevia bem cartas, mas aquela para Bosie era só amargura – é outra coisa ver um Wilde sendo… Wilde. E é curioso, especialmente no que diz respeito às cartas enviadas para poetas como Mallarmé e Yeats (eu gostaria de trocar cartas com fulanos assim, hehe). Disso saem jóias como:

Para Cyril Wilde
3 de março de 1891
Essa noite vou visitar um grande poeta, que me deu um maravilhoso livro sobre um Corvo.

Sim, é exatamente o que você está pensando. Foi o momento em que Wilde conheceu a obra do Poe. Eu sei que isso é irrelevante para vocês, mas eu achei fantástico reconhecer esse momento – quem apresentou Poe foi Mallarmé (e para quem não sabe, não exisitiria Simbolismo francês se não existisse Poe).

Eu sei, eu sei. É um livro para fãs… Mas eu devo confessar que é o tipo de obra que fez com que eu me lembrasse de porque, aos 15 anos, quando li esse fulano me apaixonei. Tem qualquer coisa no modo como ele olhava a vida que é realmente sedutor – e não estou falando aqui só do sarcasmo.

A parte triste é pensar que bem, mesmo que apareçam Oscar Wildes por aí, não existirão mais biografias epistolares charmosas como essa. O e-mail substituiu a carta com grandes vantagens: é mais veloz e prático. Por outro lado, as pessoas não se dão mais ao trabalho de escrever como escreviam antes, com linhas e linhas de opiniões e pirações.

5 comentários em “Do tempo da vovó”

  1. Eu juro que não tenho saco de ler biografia, nem querendo muito saber mais sobre a figura agraciada com a obra. Uma exeção, porém, é o velho caso literário que tenho com o Gorki. Mas existe uma diferença muito grande entre biografia e auto-biografia gorkiana.

    E sobre o Wild, bem… ler uma referência dele sobre o Poe é no mínimo peculiar. É quase como Churchill dizendo que vai se encontrar pela primeira vez com “um certo Rooseveld”.

  2. sim, existe e-mail mas como antes as pessoas que escreviam abobrinha em papel (mas nunca ninguém via), parece-nos hoje que houve uma explosão de coisas superficiais e bobas.

    A gente não precisa escrever só huahauhau, nem “meu, concordo”

    E volta e meia, precisamos voltar ao velho papel… mesmo que seja imprimir o que foi escrito aqui :dente:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.