Kirk O’Bane

Quem adolesceu no início dos anos 90 como eu, não tinha disponível ainda as maravilhas da Internet. Se você curtia o som de um cara, você comprava o cd, pedia para seu amigo gravar o cd para você ou ficava hooooooooras esperando sua música favorita tocar na rádio para gravar. Também não tínhamos acesso às notícias e demais informações como temos hoje em dia. Não que isso fizesse a nossa adolescência pior, só era diferente.

Um dos casos que melhor ilustram isso é o do sujeito que dá nome ao post. “Kirk O’Bane, Anica? Você pirou? Quem é ele?“. Digamos que trata-se de uma piada internet para quem já leu Um Grande Garoto, do Nick Hornby. Para quem não leu: estou falando do Kurt Cobain.

Nunca fui fã do Kurt – pelo menos não naquele sentido mais bitolado que normalmente vem embutido à palavra. Tanto que no meu diário de 1994 o único registro sobre a morte do Kurt é um “O Kurt se suicidou” escrito com caneta preta no topo da página da quinta-feira, 7 de abril (ao contrário da morte do Senna, que fez com que eu colocasse recortes de jornais e revistas relacionados a ele em todos os dias de maio). De qualquer forma, era um sujeito constante desde que comecei a “adolescer” (por exemplo, até hoje lembro da versão que meu irmão fez para In Bloom “EEEEEEEEEDUARDO É UM CARA MUITO CHAAATO (etc.)”).

E aí ele se matou e tal. Na época eu não tive acesso à carta de suicídio dele (muito embora se eu não me engano a Courtney chegou a ler a carta no velório do Kurt, e foi ali que pela primeira vez eu ouvi os versos do Neil Young: It’s better to burn out than to fade away), até porque eu não tinha internet. Não tive notícia de qualquer teoria conspiratória até uns cinco ou seis anos depois. Aliás, acho que teorias conspiratórias são heranças da internet e do Arquivo-X.

Enfim, eu não participei de nenhuma comunidade “Luto – Kurt Cobain” no Orkut, eu não baixei o Unplugged da MTV, eu não acessei artigos da Wiki sobre a morte dele. Eu não ouvi nenhuma das músicas procurando avisos de que um dia ele faria aquilo, eu simplesmente vivi aquele momento. E mesmo que não tenha sido fã, eu devo dizer: ninguém passou por aquele suicídio sem alguma marca1 .

Sobre a piada interna com quem já leu Um Grande Garoto, um dos maiores problemas em relação à versão para o cinema é que eles simplesmente apagam a Ellie da história – e ela rende os melhores momentos no livro. Talvez porque o Hornby tem aquela paixão louca por música, mas o fato é que ao fazer da Ellie uma personagem obcecada pelo Kurt Cobain, ele simplesmente fez com que todos os que viveram aqueles tempos de certa forma também se identificassem.

Primeiro, Marcus quer se aproximar da menina. O adulto diz que para chegar nela, ele precisa falar do que ela gosta, e então pergunta do que ela mais fala. E ele diz “Um jogador de futebol aí, o Kirk O’Bane” – tempos depois descobrimos que trata-se do Kurt. Mais para o final do livro, em uma das melhores passagens que já li (incluindo TODOS que já li), Marcus tenta evitar que Ellie lesse (em uma estação lotada) as manchetes dos jornais que todos tinham em mãos: ASTRO DO ROCK COBAIN MORTO.

Agora para e pensa. Se o Hornby que já não era adolescente na época carregou uma marca com o suicídio, imagina nós que smell like teen spirit (omg, lembro do Kurt explicando o título dessa música em uma entrevista para a Bizz). Grande sujeito. Performance em palco era nula, mas era sem sombra de dúvida um roqueiro (daqueles com QUE mesmo). Talvez um dos últimos com “pegada”, como o Fábio costuma dizer.

Em tempo: a Converse lançará um modelo com escritos retirados dos diários do Kurt, saindo por algo em torno de 50 a 65 dólares. Um luxo, ahn? Notícia velha lá do g1 (lembrei agora enquanto procurava por uma imagem do Kurt para ilustrar o post).


  1. quer um exemplo disso? leia o excelente post do Sky chamado 1994. É de longe um dos melhores posts que já li 

7 comentários em “Kirk O’Bane”

  1. O Grande Garoto é o melhor livro do Nick Hornby na opinião da minha namorada (que também é fã do careca).

    Bah, a morte do Kurt foi um impacto do caralho na minha vida. Foi foda MESMO. E valeu pelo elogio, anica. 😳

  2. só gosto do Kurt com um violão na mão
    e olhe lá!
    a ex-vocalista da minha ex-banda tem uma K na mão
    mas não é tattoo, é cicatriz
    não sei o que é pior!

  3. Só comecei a gostar do Mito Kurt Cobain quando li “Mais Pesado que o Céu”, mas eu não lembro se o suicidio dele me marcou, de certa forma. Talvez porque eu não entendesse na época ou porque não era “antenado” nessas coisas musicais. Vai entender.

  4. Taih uma morte que não me marcou….
    E, mesmo eu não gostando do Kurt/Nirvana, foi pq nessa época eu era um mero gordinho de 10 anos morando no interiorrrrrrrrrrrrrrrrrrzão de São Paulo. Nem sabia da existência dele…..

  5. :excla: Olha…
    Concordo que quando Kurt morreu eu era apenas uma criança, que quase nem ouvia rock de verdade, mas hoje, quando eu leio artigos sobre o Kurt/Nirvana e vejo fotos do mesmo, meus olhos se enchem de lagrimas.
    Sou fãn sim de nirvana e concerteza de seu líder, mas nao pelas seções de overdose que ele teve ou pelo seu suposto ”suicidio”, sou fãn sim de nirvana pelas letras que, mesmo sendo ”nada a ver” conquistaram o mundo do rock e conquista até hoje.
    Nirvana(quando falo NIRVANA dou ênfase a seu lider KURT) foi, é e sempre será o Espirito Juvenil de todos nós.

    Obrigado.

    Paz, Amor e Empatia. :excla:

  6. Bem, Eu hj tenho 14 anos
    nem era nascida quando Kurt Cobain morreu…
    Mais hj graças a um tio eu curto rock
    E concerteza AMO de verdade o Nirvana
    e Kurt Cobain…Mesmo não sendo nascida ainda quando Kurt morreu…Eu vejo a morte dele como uma grande decepção pra mim, pois sei que se ele estivesse vivo ele faria mais sucesso do que nunca e mais letras geniais…
    E agora e sempre eu AMO Nirvana e seu líder Kurt Cobain…
    E concordo mito que é mito será sempre imortal. :grinlove:

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