Agora é que são elas (Paulo Leminski)

elasNo último dia 20 aconteceu na Livraria Cultura aqui de Curitiba um evento de lançamento do livro Toda Poesia, do Paulo Leminski. Se você, caro amigo caçador de autógrafos, já torceu o nariz pensando “Lançamento sem o autor? Pffft!” tenho que dizer que foi um dos eventos mais bacanas que já presenciei: a ideia foi de criar uma espécie de sarau, onde pessoas leram poesias do Leminski ou tocaram músicas que de alguma forma se baseavam na obra do poeta. Teatro lotadíssimo, um clima bacana e, por que não dizer, uma amostra grátis de um pouco do que aquele livro de capa laranja berrante tem para oferecer. Saí de lá morrendo de vontade de reler Toda Poesia. Saí também com um Agora é que são elas embaixo do braço.

Sobre o título, eu tinha uma vaga lembrança de um folder presente na bagunça do quarto do meu irmão (que eu adorava explorar em busca de cds para emprestar). O folder era de uma peça de teatro, que agora graças à Internet posso confirmar que era uma adaptação dirigida pelo Fiani, apresentada pela Cia Máscaras de Teatro (um beijo, Internet!). Mas talvez por não saber o quem é quem na época, fiquei com a ideia errada gravada na cabeça: de que Agora que são elas era um texto do Leminski escrito para teatro, e não um romance. Então na hora que abri o livro na Cultura tive uma baita surpresa – e por isso resolvi comprá-lo na hora. A saber: o livro foi originalmente publicado em 1984 pela Brasiliense (e lá vão quase 30 anos!), mas ganhou ano passado uma nova edição pela Iluminuras, que também relançou Catatau, com uma capa que faz jogo com a de Agora é que são elas, fica a dica para quem tem TOC. Continue lendo “Agora é que são elas (Paulo Leminski)”

Top5 livros em 2009

Continuando com a tradição e aproveitando a onda de retrospectivas de final de ano, resolvi elaborar o top5 de livros lidos esse ano. Lembrando que assim como aconteceu em 2008, não são especificamente lançamentos de 2009.  A surpresa para esse ano ficou por conta dos autores nacionais. Li pouquíssimos, mas mesmo assim eles são maioria na lista. E é isso.  Se quiserem comentar sobre os melhores livros que vocês leram esse ano, o espaço dos comentários está sempre aberto. No mais, espero que alguns dos títulos sirvam de sugestões para quem está querendo ler algo mas não tem ideia do que.

TOP 5 LIVROS EM 2009!

5. Frenesi Polissilábico (Nick Hornby)

Eu estava quase deixando o Seth Grahame-Smith entrar com How to survive a horror movie, mas depois lembrei de quanto me diverti me identificando com a relação de Hornby com suas leituras. É para ser divertido e consegue sê-lo do começo ao fim. Lembro até agora de algumas passagens como quando está indignado com os rumos que uma história tomou e aí comenta: “…I just sort of lost my grip on the book. Also, someone gets shot dead at the end, and I wasn’t altogether sure why. That’s a sure sign that you haven’t been paying the right kind of attention. It should always be clear why someone gets shot. If I ever shoot you, I promise you there will be a really good explanation, one you will grasp immediately, should you live.” O senso de humor do Hornby afiadíssimo como sempre, falando de algo que eu adoro. Tinha que vir para o top5.

4. O Filho Eterno (Cristovão Tezza)

Eu já ouvi comentários de que ele se inspirou bastante (digamos assim) no livro Uma Questão Pessoal, de Kenzaburo Oe. Como só li O Filho Eterno, prefiro não entrar nesse campo. A verdade é que embora breve, a obra de Tezza é forte, daquelas que realmente mexem com o leitor fazendo não só com que pense sobre o que está ali escrito, mas também sinta. Como já comentei antes, é a melhor prova de que um livro não precisa ter dezenas de inovações estilísticas para ser um bom livro. Uma história que ganhe o leitor como acontece em O Filho Eterno já basta.

3. Areia nos Dentes (Antônio Xerxenesky)

Eu preciso confessar que o que chamou minha atenção inicialmente era o enredo, envolvendo zumbis. Um faroeste com zumbis, pense só. E a medida que você vai conhecendo Mavrak (cidade que é quase uma personagem dentro do romance) logo percebe que não se trata de uma obra sobre zumbis, mas com zumbis. O conflito do narrador com suas lembranças, uma tentativa de conhecer-se através do passado, reconstruir-se. Para não falar de recursos que Xerxenesky utiliza, rendendo momentos ótimos que vão além da contação de história.

2. Catatau (Paulo Leminski)

Leminski não se dedicou tanto à prosa quanto à poesia, o que não deixa de ser uma pena se considerar os trabalhos com os contos (como pode ser visto na coletânea Gozo Fabuloso) e com Catatau, o romance ideia. Quase que uma releitura tupiniquim (e caótica, muito caótica) de Esperando Godot de Beckett, aqui temos um Descartes alucinado no Brasil, esperando por Artiscewsky. O leitor é tragado pelo fluxo de consciência do narrador (Descartes), deixando a lógica completamente de lado.  Há ritmo, quase como se fosse para ler em voz alta, um romancepoema inesquecível.

1. World War Z (Max Brooks)

Mais zumbis? Sim, mais. Mas mesmo que você não seja lá muito fã de histórias com mortos-vivos, vale a pena a leitura pelo que Max Brooks faz com o que já é um tema tão batido. A ideia da contrução da história a partir de depoimentos dos sobreviventes do que seria uma guerra mundial contra os zumbis é perfeita para uma metáfora sobre como é fácil simplesmente deixar a humanidade de lado. É uma obra marcante, uma pena que ainda não tenha tradução para o português, embora eu ache que com o filme que está para sair logo chega por aqui.

Catatau (Paulo Leminski)

Ganhei o livro há quatro anos e confesso que sempre começava mas depois largava no meio. Minha teoria era de que Catatau deveria ser lido em um fôlego só. Quando percebi que jamais conseguiria ler dessa maneira, larguei mão e resolvi ler aos poucos, como pessoas normais fazem com os livros, sabe? De qualquer forma continuo achando que a experiência teria sido milhares de vezes mais legal se eu pudesse ler assim, e mais: ler em voz alta.

Catatau é isso, uma experiência. Um “romance ideia”. É uma leitura diferente, com uma intenção diferente partindo do autor. Nas palavras do próprio Leminski: “O Catatau é o fracasso da lógica cartesiana branca no calor, o fracasso do leitor em entendê-lo, emblema do fracasso do projeto batavo, branco, no trópico.”1

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  1. LEMINSKI, Paulo. Catatau Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. p.271