It’s Kind of a Funny Story (Ned Vizzini)

funnystoryEu sei que isso parece meio estranho (ainda mais considerando o que eu escrevi sobre O Oceano no Fim do Caminho de Neil Gaiman), mas costumo separar a vida do escritor de sua obra. Não gosto de ficar procurando detalhes na biografia que justifiquem esta ou aquela passagem da história, até porque aprendi cedo com Tio Wilde a lição de que isto pode ser uma arapuca: muitos e muitos leitores de O Retrato de Dorian Gray costumam ver em Gray a figura do ex-amante de Wilde, Sir Alfred Douglas. A tentação de estabelecer a relação é grande demais, porque há muito ali no romance que bate com a história dos dois – Wilde se desdobraria em Basil (o artista apaixonado por seu modelo) e Lord Henry (o homem mais velho e experiente). Tudo muito bonito só que… O Retrato de Dorian Gray foi originalmente publicado em 1890, e Wilde só conheceria Bosie um ano depois. Pronto, morreu teoria.

Mas aí temos casos como It’s Kind of a Funny Story de Ned Vizzini, e aí é simplesmente impossível escapar da relação vida e obra, até porque o próprio Vizzini passou alguns dias internado em uma ala psiquiátrica para tratar da depressão, tal como seu protagonista. Pior: no fim do ano passado o autor (então com 32 anos) se suicidou, deixando mulher e filho. “Um sujeito de sucesso, com pessoas que o amam e outras que dependem dele, como assim pode tirar a própria vida?”, alguns podem pensar. Outros já chegam com a resposta pronta “É coisa de covarde”. Falta talvez o exercício de empatia, de se colocar no lugar do outro para tentar compreender, o que a Literatura acaba ajudando a fazer. Assim, com It’s Kind of a Funny Story o efeito de vida do autor misturada com a obra foi bastante perturbador: ver a depressão com os olhos de quem sofreu desse mal chega a ser doloroso, especialmente se você tem conhecidos que fazem tratamento para tal.

Continue lendo “It’s Kind of a Funny Story (Ned Vizzini)”