Breves comentários sobre o que tenho lido

Rapidinhas.

The Lover’s Dictionary (David Levithan): Não lembro o que me levou a ler, acho que estava nos títulos similares de alguma coisa que gostei lá da Amazon. O livro é bacana, o problema é que a ideia não é nova, pelo menos não para mim: já comentei por aqui sobre meu amor por Pequeno Dicionário Amoroso, filme da década de 90 que chegou até a ganhar uma versão em livro. A mecânica do livro é contar a história de um casal a partir de verbetes de dicionário, que se relacionam com o que está sendo narrado. A diferença do livro do Levithan é que, ao contrário do roteiro do Halm e do Torero, a narrativa não é linear, dá saltos entre o presente e o passado, o que cria dois efeitos bacanas. O primeiro é que você fica curioso para saber o motivo do rompimento do casal, o segundo é se eles reatam ou não. Tem algumas passagens bem interessantes (daquelas que dá vontade de grifar), e eu provavelmente teria me emocionado mais se tivesse lido em tempos de dor de cotovelo (como foi o caso de Pequeno Dicionário Amoroso). Resultado: valeu a pena para passar o tempo. Sugestão: procure o filme nacional, é muito legal.

Poesia é não (Estrela Ruiz Leminski): Uma vez lembro de ter lido algo escrito ou citado pelo Antonio Xerxenesky, falando sobre não se resenhar textos de amigos. Mas vá lá, não é uma resenha, é só uma breve opinião que funciona mais para registro quando alguém me perguntar “Ei, você leu x? O que achou dele?”, etc. Enfim: gosto muito de como ela experimenta não só com as palavras, mas também com imagens, colagens. Tem senso de humor (o que eu adoro, e o que acho que falta na poesia atual) e vale ressaltar que a formação musical acaba influenciando bastante em muito do que ela coloca ali. Ouvi em qualquer lugar que o livro foi adotado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola do MEC, o que me parece ótimo, já que tira um pouco daquela imagem que muito jovem tem de que “poesia é coisa do século passado (ou melhor, retrasado, já que o passado já tinha internet e talz)” – melhor ainda porque a linguagem da Estrela é jovem, até no sentido de querer romper com o convencional. Resultado: lembrei que gosto de poesia. Sugestão: aproveita que está lendo a Estrela e procure pela obra do Paulo Leminski e da Alice Ruiz e faça uma reunião de família.

Crescendo (Becca Fitzpatrick): Lembro que gostei muito do primeiro livro da série Hush, Hush, e minha sobrinha também. Aí comprei o segundo para dar de presente para ela, meio que no esquema do Homer dando uma bola de boliche para a Marge, saca? Bem, aí acabou que ela viajou, o tempo passou e o livro ficou aqui, e eu achei dia desses e resolvi ler. E poutz, que chato. Não consigo entender como uma história que era tão bacana consegue cair tanto assim, de um título para o outro. Pensei seriamente na possibilidade da autora ter contratado um ghost writer para o primeiro livro. a história é cheia de uma embromação sobre o Patch estar dando mole para a ~~ arquirrival ~~ da Nora, um rolo meio bizarro sobre quem é o pai da menina e yadda yadda yadda, sobre o que você no final das contas não dá a mínima, parecendo páginas e páginas de uma belíssima encheção de linguiça. Resultado: não tenho o menor interesse de ler os outros. Sugestão: fique só com o primeiro, que é divertido.

O Torreão (Jennifer Egan): Ainda empolgada com a leitura que fiz este ano de A Visita Cruel do Tempo, pedi emprestado para a Kika O Torreão, até porque li aqui e ali que era uma “história de terror”. Bom, acabei a leitura com sensações meio contraditórias sobre o livro. Por um lado, achei até legal, e a parte que se passa no castelo é realmente assustadora, tensa e faz a leitura valer. O problema é que Egan opta por uma série de histórias dentro da história. Temos Danny no Torreão, aí a história do presidiário Ray (que é quem está escrevendo a história de Danny) e finalmente a história de Holly, a professora de escrita criativa de Ray. O problema aqui é que a partir do momento em que tudo fica claro na narrativa (quem é Danny, Ray e Holly), estamos nos aproximando de um desfecho – que se desdobra em três desfechos. Fica simplesmente enfadonho. E pior: a história de Holly não faz absolutamente nenhuma falta dentro da narrativa, poderia ser apenas Danny e Ray (embora eu preferisse só Danny, há toda uma tentativa meio fraca de plot twist que depende da existência da história de Ray).  Resultado: é só ok. Sugestão: se possível, leia antes de A Visita Cruel do Tempo, para não criar muitas expectativas.

A brincadeira favorita (Leonard Cohen): É aquela história de sempre: você quer muito, muito, muiiiiiiiiiiito ler um livro, e aí quando finalmente o tem em mãos, suas expectativas estão lá no teto e qualquer coisa que não seja uma obra prima não agradará tanto assim. Eu reconheço a beleza d’A brincadeira favorita de Cohen. Ele tem uma mão muito boa para criar imagens belíssimas, frases que são quase versos. O problema é que a obsessão de Breavman com as mulheres começa a cansar ali para a metade do livro – começa a ficar repetitivo, embora belo. Há mais do que isso, é claro, é um romance de formação, vemos o amadurecimento de Breavman aos poucos. O problema é que muito do que pauta essas mudanças na vida da personagem são as mulheres. Nisso que eu acho que cansou um tanto. Então no final das contas eu não detestei, mas eu certamente esperava muito mais. Queria de verdade que existisse um botão de desligar expectativa, sinto que isso tem estragado um pouco algumas leituras para mim. Resultado: bom, mas eu provavelmente esquecerei bem rápido. Sugestão: mulher por mulher, vá lá buscar uma antologia do Vinicius de Moraes.

Resposta certa (David Nicholls): Cheesus, que livro IRRITANTE. Que narrador CHATO. Que plot IDIOTA. Sério, sensação de tempo jogado fora, e olha que eu dei muita chance para ele – passei da metade antes de bater o martelo e decidir que a vida do jovem nerdzinho pobrezinho espinhentozinho apaixonadinho pela menina riquinha e popularzinha não dava. Ah, Anica, mas você não achou legal o jeito como o Nicholls usa o esquema de perguntas e respostas para os títulos de cada capítulo? Claro. Mas fala sério: você não acha que quando a maior qualidade (e talvez única) do livro está no título, tem algo de errado? Não entendi a escolha pelo tempo da narrativa também deu um efeito bastante estranho, até porque o escritor não o sustenta o livro todo. Argh, que coisinha ruim. Resultado: sim, abandonei. Sugestão: fica com Um Dia, que esse sim é legal.

EDITADO: Não aguentei a ideia de largar um livro quando já tinha passado da metade, aí resolvi terminar ontem à noite. Não, não mudei de ideia. Na verdade piorou, porque acabou confirmando a previsão que eu fazia do clichê filme-adolescente-dos-anos-80. Blé!

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Saldo final: MEUDEUS, depois desse Resposta certa como preciso ler alguma coisa BOA. Boaaaaa mesmo, daquelas que eu fique com vontade de mexer no meu top5 anual até. Por via das dúvidas estou indo de Daniel Galera com Barba Ensopada de Sangue, até porque se o romance inteiro for como o capítulo que está na Granta, tem muitas chances de eu ficar bem contente com a leitura.

16 comentários em “Breves comentários sobre o que tenho lido”

  1. Adorei as rapidinhas… Nossa, que bom que vc escreveu sobre o “Resposta Certa”, já nem estava com vontade de ler… agora que não vou mesmo! Amei “Um Dia” e fiquei me perguntando se este seria bom…

    Estou lendo o chileno “Dez Mulheres” e amando!!
    Engraçado como vários livros que li ultimamente são romances em formato meio de contos…. “Suicidos Exemplares”, “Meu tipo de garota” e agora “Dez mulheres”. Todos muito interessantes!!!

    Abração,

    Flávia Cardoso.

  2. Eu li os mais curtos do Bolaño. O 2666 tá parado na parte dos… nossa, nem lembro mais em que parte parei. Mas tem um bom tempo que tá lá, esperando eu terminar =F

  3. Tô remando há meses para terminar A Brincadeira Favorita… me sinto mais aliviada de não estar curtindo, estava super culpada! E achei O Torreão chato, mas tão chato que fiquei com má vontade de começar A Visita Cruel do Tempo (mas é a expectativa, né? Ouvi falar que era história de terror e os olhinhos brilharam. Não é, na minha opinião).
    Sobre A Resposta Certa, assisti ao filme e curti bastante. Acho que ser com o James McAvoy colaborou… mas sério, comédia romântica bacaninha.
    Ah, e estes posts mais descompromissados estão muito legais. Você pretende continuar com a Shakespeare escrevia por dinheiro? Eu adoro 🙂

    1. Eu achava que era um filme em pré-produção ou algo assim, nem fui atrás de mais informação. aí agora li seu comentário e WUUUUT, o Mcvoy como Brian? Pela descrição do livro só consigo imaginar o Bukowski hahahahaha

      Sobre o Shakespeare escrevia por dinheiro, é bem provável que eu escreva algo como o que fazia lá, mas sem o nome (que era necessário para dividir uma coluna da outra) e sem a data fixa (pq a ideia do hellfire é tocar as coisas por aqui sem compromisso mesmo hehe)

  4. Pelo jeito só eu gostei de Torreão. Mas, sei lá, minha expectativa não era um livro de terror, então talvez isso ajude as coisas. Estou treinando ler sem expectativas, e isso tem ajudado bastante, realmente. Por outro lado, eu sou uma leitora realmente muito fácil de agradar…

    Li The Help recentemente, e DEUS, como eu chorei. Ainda estou digerindo o fato de este ser o primeiro romance da autora.

    Agora comecei (outro) técnico de “microhistória” chamado “Em casa”. Praticamente um livro de anedotas de como uma típica casa inglesa tomou seu formato atual, assim como porque é mobiliada do jeito que é. Uma delícia de livro, que só está durando na minha bolsa pq me envolvi com esse bendito NaNoWriMo…

    1. Quase comprei The Help na cultura por causa da nossa conversa aquele dia, kika! Mas aí lembrei que to com alguns na fila para ler no kindle e deixei para outra hora hehehe

      Como está indo o nano?

      1. 31000 palavras até agora… deveria estar em 40mil, mas fiquei 10 dias sem escrever, então acho que ainda dá pra recuperar… só que o Drive deu pau e agora estou escrevendo só no meu arquivo offline.

        Eu te empresto o The Help, quando vc quiser

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