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“Posso acreditar em coisas que são verdade e posso acreditar em coisas que não são verdade. E posso acreditar em coisas que ninguém sabe se são verdade ou não. Posso acreditar no Papai Noel, no coelhinho da Páscoa, na Marilyn Monroe, nos Beatles, no Elvis e no Mister Ed. Ouça bem… eu acredito que as pessoas evoluem, que o saber é infinito, que o mundo é comandado por cartéis secretos de banqueiros e que é visitado por alienígenas regularmente – uns legais, que se parecem com lêmures enrugados, e uns maldosos, que querem nossa água e nossas mulheres. Acredito que o futuro é um saco e é demais, e acredito que um dia a Mulher Búfalo Branco vai ficar preta e chutar o traseiro de todo mundo. Também acho que todos os homens não passam de meninos crescidos com problemas de comunicação(…)”

Vi o Neil Gaiman (sujeito que a Ptah diz ser muito cheiroso) lendo esse trecho de Deuses Americanos na TV certa vez. Eu me apaixonei completamente, simplesmente precisava ler esse livro. Aí chegou a edição brasileira, com sua capinha chiquetoza com letras metálicas. Comecei a ler e…

… foi uma das maiores decepções literárias da minha vida. Moral da história (ou do post?): empreste os livros antes de comprá-los, especialmente se eles custarem mais de 40 reais.

Veja só, sempre que falo em dinheiro lembro daquela citação do Wilde sobre o cínico ser o cara que sabe o preço de tudo e o valor de nada. Mas não doeria em vossos corações pensar que gastaram mal um dinheiro que poderiam aplicar em uma obra como o Catatau do Leminski?

Sou só eu que calculo tudo na vida baseado em valor de livros que eu gostaria de ter? Credo, acabei de lembrar da conclusão de um top 5 meu, o Gente que quero ser quando crescer:

“A conclusão que tiro desse top 5 é que meu futuro será funesto: serei gorda, careca, anti-social e provalvelmente incompreendida. O lado bom é que talvez ganhe livros de graça.”

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Hoje li uma entrevista ma-ra-vi-lho-sa com Guimarães Rosa, realizada por um alemão chamado Günter W. Lorenz. Acho que foi a primeira oportunidade que tive de conferir um pouco de que homem ele era. Do tipo filho da puta apaixonante, se me permitem o palavrão.

A começar que ele não cedia entrevistas, e exigiu que o Lorenz tratasse aquilo como um diálogo. Diálogo esse recheado de momentos como esse:

LORENZ: Isso significa que você iniciou sua carreira como lírico?
ROSA: Não, tão grave assim não foi.

O discurso do Rosa é simplesmente perfeito, e isso que ele estava falando em Alemão. Ele consegue escapar das perguntas que não queria responder com uma sutileza surpreendente. Para não dizer do valor das idéias que ele expôs nessa entrevista, valeu mesmo a leitura.

“(…) Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço do infinito. Eu vivo no infinito, o instante não conta.”

E pensar que como diplomata ele provocou Hitler e salvou vários judeus… Outros tempos, outros tempos…

***

Off with her head!!!!!!!!

Eu queria mesmo, mas já não estou mais conseguindo acreditar como antes. Quer dizer, eu estou errada sempre? Há sempre uma boa razão para me tornar a pessoa má, paranóica, mimada e idiota que parece ter compulsão por estragar tudo?

Então o que faço? Vou viver como eremita evitando tropeços na convivência com outros humanos? Tento algum curso do tipo “Surte, mas na hora certa” no Instituto Universal Brasileiro? Calo a boca e vou dormir?

É, eu vou dormir.

“Oh my ears and whiskers, how late it’s getting!”