Oscar 2014: O dia seguinte

Ok, aqui estou eu de novo com minha caneca de café, lutando contra o sono e pensando se realmente valeu a pena dormir tão tarde. Não entenda mal: todo mundo para quem eu torcia ganhou, quem eu torcia contra voltou de mãos abanando e Ellen esteve bem na apresentação. O problema é que foi tão previsível e sem graça. Sei lá, a cerimônia do ano passado não foi muito diferente mas lembro de ter me divertido muito mais enquanto assistia, isso desde o tapete vermelho, que neste ano contou basicamente com dois momentos: Jennifer Lawrence tropeçando mais uma vez (ganhando comentários divididos entre “ha, ha essa jen!” e “haja vontade de aparecer”, o que dá uma boa dica de como a imagem dela ficou desgastada em um ano) e o Benedict Cumberbatch fazendo isso:

cumberbatch

Ah, tá, teve a piada do Jared Leto como Jesus. Ok, de repente eu que estava com sono desde o começo da cerimônia, então desconsiderem qualquer comentário mais ranzinza. Falando no Jared Leto, foi a escolha óbvia (e merecida) para melhor ator coadjuvante – sei que fiquei devendo um post sobre O Clube de Compras Dallas, mas resumo minha opinião aqui: teria sido perfeito não fossem as cenas meio “romance de sessão da tarde” entre Woodroof e a médica. Ouvi comentários (maldosos) de que só faltava a personagem de Leto ser judia para completar o que seria o tipo de personagem para quem sempre dão prêmios, mas sério, assistam ao filme e vejam o que ele fez com o Rayon. É lindo. Tem uma cena em especial que eu acho que vou demorar para esquecer, em que ele sabe que vai morrer e está na frente do espelho se maquiando que olha, você tem que ser muito insensível para achar que foi só a perda (absurda) de peso ou alguns esteriótipos que deram esse prêmio para o Leto. Discurso dele foi total self-service, chegou uma hora que achei até que ele ia falar meu nome, há.

Aí depois de começar com um prêmio mais “importante” vem aquela trilha de musicais, homenagens e prêmios técnicos e a Ellen teve que rebolar para manter a audiência acordada. Vou ser bem sincera: comparada com o McFarlane ano passado, achei melhor. Deu umas boas cutucadas logo no início (como naquela falando sobre 12 anos de escravidão: “We should get started. It’s going to be an exciting night. Anything can happen, so many different possibilities. Possibility No. 1: 12 Years a Slave wins best picture. Possibility No. 2: You’re all racists. And now please welcome our first white presenter, Anne Hathaway”, e aí teve a selfie que bateu o recorde de tweet mais retweetado, a pizza para a galera… enfim, ela deu um jeito de mesmo com uma apresentação meio morna conseguir agradar e oferecer alguns momentos marcantes (ou vocês acham que as pessoas vão esquecer tão rápido do Brad Pitt comendo na festa no melhor estilo gente como a gente?):

Só faltou o guaraná dolly

Então voltando para a questão da previsibilidade da premiação este ano. Eu fiquei meio surpresa com a quantidade de posts admirados com os prêmios para Gravidade, considerando as premiações anteriores ao Oscar (Globo de Ouro, sindicatos), era meio certo que Gravidade ficaria com vários técnicos e que Cuarón era favoritíssimo para o Oscar de diretor. Não vou nem entrar em grandes comentários sobre o pessoal odiando o filme no twitter sem nem ter assistido, numa vibe meio André Forastieri com 12 anos de escravidão. Sério, vão ver. Tecnicamente ele é realmente impecável e não à toa levou todos aqueles prêmios.

Mas aí quando temos várias confirmações dos favoritismos, acaba que parte da graça da noite fica por conta dos discursos mesmo. Este ano acho que as mulheres fizeram bonito. Chorei horrores com o discurso da Lupita Nyong’o:

It doesn’t escape me for one moment that so much joy in my life is thanks to so much pain in someone else’s. And so I want to salute the spirit of Patsey for her guidance. And for Solomon, thank you for telling her story and your own.”

To the aspirational way she rounded things off… 

When I look down at this golden statue, may it remind me and every little child that no matter where you’re from, your dreams are valid. Thank you.

E a Cate deu uma bela cutucada na indústria, ao lembrar que as pessoas assistem a filmes com mulheres. “The world is round, people!“. Não era discurso, mas gostei bastante da homenagem que o Bill Murray fez para o Harold Ramis – pode até ser parte do roteiro, mas pareceu dar ares de imprevisível para a noite, como já dito, bastante previsível.

Bom, sobre o prêmio do Matthew McConaughey, como comentei no post do esquenta, ele era favorito porque está em um período espetacular mesmo, então não pensem que só o Woodroof de Dallas levou esse Oscar, embora eu ainda ache que ele fez um ótimo trabalho neste filme. De novo, faltou o post sobre ele, mas preste atenção em como o McConaughey consegue enfatizar bem a diferença entre ser sábio e ser inteligente: ele no fundo é um ignorante (a começar pela homofobia), mas isso não faz dele uma pessoa que saiba tirar o melhor das oportunidades. E se você continua na dúvida, faça como eu fiz: assista Clube de Compras Dallas e depois veja um episódio de True Detective. É impressionante a diferença de uma personagem para outra, e de como ele dá conta disso. Então eu sei que o pessoal que torcia para o DiCaprio ficou chateado e tudo o mais, mas esse não era o ano dele. Se não fosse o McConaughey, daria Chiwetel Ejiofor.

Ano passado as gurias combinaram as cores, este ano foram os caras

E foi meio que isso. Ótimo Her ter levado melhor roteiro original, e eu sei que não é comum (ou é, né, ano passado também aconteceu isso) prêmio de melhor direção e melhor filme não coincidirem , mas achei ótimo o reconhecimento ao 12 anos de escravidão, as únicas apresentações musicais que prestei atenção foram a de The Moon Song e Let it Go. Resumindo: tudo ok, mas tão ok que acabou ficando sem sal. Para quem perdeu, já tem lista do Total Film e do BuzzFeed com os melhores momentos. Acho que o fato de a lista do Total Film ser tão curta já dá para entender o que quero dizer com a falta de graça da cerimônia deste ano. E segue o listão dos vencedores:

Melhor filme: “12 Anos de escravidão”, de Steve McQueen

Melhor diretor: Alfonso Cuarón – “Gravidade”

Melhor atriz: Cate Blanchett – “Blue Jasmine”

Melhor ator: Matthew McConaughey – “Clube de Compras Dallas”

Melhor ator coajuvante: Jared Leto – “Clube de compras Dallas”

Melhor atriz coadjuvante: Lupita Nyong’o – “12 anos de escravidão”

Melhor roteiro original: Spike Jonze – “Ela”

Melhor roteiro adaptado: John Ridley – “12 anos de escravidão”

Melhor animação: “Frozen – Uma aventura congelante”

Melhor filme estrangeiro: “A grande beleza”, de Paolo Sorrentino

Melhor documentário: “A um passo do estrelato”, de Morgan Neville

Melhor documentário em curta metragem: “The lady in number 6”, Malcolm Clarke

Melhor curta-metragem: “Helium”, Anders Walter

Melhor curta de animação: “Mr. Hublot”, Laurent Witz e Alexandre Espigares

Melhor trilha sonora: Steven Price – “Gravidade”

Melhor canção original: “Let it go”, de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, por “Frozen – uma aventura congelante”

Melhor edição de som: Glenn Freemantle – “Gravidade”

Melhor mixagem som: Skip Lievsay, Niv Adiri, Christopher Benstead e Chris Munro – “Gravidade”

Melhor direção de arte: Catherine Martin e Beverley Dunn – “O Grande Gatsby”

Melhor fotografia: Emmanuel Lubezki – “Gravidade”

Melhor maquiagem: Adruitha Lee e Robin Mathews – “Clube de Compras Dallas”

Melhor figurino: Catherine Martin – “O Grande Gatsby”

Melhor montagem: Alfonso Cuarón e Mark Sanger – “Gravidade”

Melhores efeitos visuais: Tim Webber, Chris Lawrence, Dave Shirk e Neil Corbould – “Gravidade”

E para fechar, melhores tweets da noite:

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