Eu não ia falar de política

Não mesmo. O que não deixa de ser um sinal de como a política no Brasil tem me desanimado. Não é que eu seja alienada ou que eu não goste do assunto, mas sou tão descrente da tal democracia (embora concorde com Churchill que é o “menos pior” dos sistemas), que bem, não dá vontade de falar disso. Aí que agora em 2010 o circo todo tinha Dilma, Serra e Marina no picadeiro. E por alguma razão especialmente na internet o que se viu (especialmente no primeiro turno) foi uma discussão idiota que mais parecia coisa de torcida de time. Como comentei no twitter, o PT x PSDB virou o novo Fla-Flu.

Digo “discussão idiota” porque era tudo na base de “Se você vota ‘x’ você é burro” ou em “argumentos” repetitivos do tipo “X não tem experiência”, “X é corrupto” ou ainda “X está recebendo apoio de candidato com quem bateu boca na eleição passada”. Cansativo. Esta briga eu não comprei e vou continuar não comprando. Meu voto no primeiro turno foi para o que considerei o “menos pior”, mas foi um voto sem vontade e sem qualquer confiança. Voto de quem acha que no final das contas eles estão no picadeiro, mas nós é que somos feitos de palhaços.

Mas o que mais preocupou (e irritou!) durante essa campanha, foi a facilidade com a qual esses políticos venderam suas almas ao Senhor (há!), abraçando a causa evangélica para tentar abocanhar os votos deixados por Marina Silva. Por mais que se saiba que muito do que é prometido não chega a ser cumprido (muito? estou sendo boazinha), é revoltante pensar que o que está pautando as ditas “propostas” do segundo turno é a religião.

Assuntos importantes como a questão do aborto e dos direitos dos homossexuais viraram uma luta às avessas: ganha mais voto quem for mais retrógrado. Fala-se tanto de estado laico, e o que temos é esse show de horrores que parece ligar decisões referentes a individualidade e liberdade de uma pessoa à religião. E pior, em muitos casos, uma religião que talvez nem seja a dela.

Como já foi comentado por aí, não importa o resultado nesse domingo, quem ganhou as eleições foram os evangélicos. Conseguiram fazer uma candidata escrever uma carta esquisitona afirmando que não mexerá na lei do aborto e acabei de ver hoje Serra fazer o movimento mais estabanado e idiota dessa eleição: dizer para os evangélicos que vetará lei que criminaliza a homofobia. Estado laico, né? Pfft. Que piada.

Resumindo: se formos rankear prioridades na vida de um ser humano, de acordo com os políticos primeiro se defende a liberdade de culto, depois a “liberdade” de fazer o que bem entender com seu próprio corpo. Eu sei que pode soar um pouco ingênuo da minha parte, mas eu esperava um candidato que tentasse equilibrar as coisas, buscando acima de tudo a LIBERDADE. Mas parece que não é o caso nem com candidato A, nem com candidato B. E assim, no final das contas, chegando perto do dia de votar novamente o sr. Serra perde meu voto e Dilma ainda não ganhou minha simpatia. É. Acho que pela primeira vez na minha vida votarei em branco.

7 comentários em “Eu não ia falar de política”

  1. Sabe o que é o pior de tudo? É que vivemos em um país onde isso é determinante para o povo. Nossos candidatos são patéticos? Essa disputa é ridícula? Pois bem, te digo que a culpa é nossa. Fomos nós que fizemos essas duas perebas chegarem até onde chegaram. Fomos nós que demos força para que a política no Brasil tenha se transformado num circo. Enfim, fomos nós que votamos no Tiririca.

    Quanto a votar em branco, fiz no 1º turno e farei de novo no 2º. Eu sei que é difícil, mas eu uso como consolo o fato de eu estar homenageando aquele golaço de falta do Branco contra a Holanda em 1994. Funciona.

    1. é por isso que não gosto da democracia. dá chance para um bando de idiota votar “de brincadeira” (ou não) num tiririca da vida. ¬¬’

      eu nunca votei branco nem nulo porque achava que estava tirando o corpo fora, de certa maneira. mas gostei dessa homenagem ao branco, vou pensar nisso na hora de votar hehehe

  2. “Ganha mais voto quem for mais retrógrado.”
    Isso não é surpresa, hermana.
    A classe média [relacione esse média a medíocre] é cada vez mais retrógrada.
    Tem um verniz de modernidade.
    Mas é velha, mofada, conservadora.
    Sim, ganha mais voto quem for mais retrógrado.
    Nossa república sempre foi assim.
    Presidente brasileiro moderno são palavras que não podem ser usadas na mesma frase.
    Triste.

    1. o que mais me surpreende nisso é que é a mesma classe média que acha o obama tudo de bom, não? quer dizer, só é legal se a “modernidade” não for aqui.

  3. Daniela – Porto Alegre/RS – Professora, vegana, feminista, aprendiz. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. Uma esquisitona [r]existindo.
    Daniela disse:

    São nesses momentos que acredito ainda mais que a ditadura militar no Brasil foi um sucesso! Conseguiu atingir seus objetivos e continua mesmo sem ser o regime atual. Deixaram o povo no cabresto e sem forças (ou melhor, vontade) de sair…

  4. Claro que modernidade só é legal se não for aqui.
    Modernidade é pra ir visitar nas férias.
    Aqui não mexam em nada.
    Filho gay, por exemplo, o dos outros é moderno, já se for o meu…
    Acomodação é a palavra, irmã. E os marketeiros sabem disso.
    Não importa o partido, vai desde o “eu tenho medo” da Regina Duarte até o atual pânico de perder bolsa família e prouni.

  5. Acho que não preciso acrescentar nada ao que você disse. Tambem tenho me prostrado à margem da disputa e da discussão. Não por falta de interesse no processo democrático, longe disso; minha área de pesquisa é justamente essa.

    Mas o estado da política no Brasil é uma nojeira. Os candidatos mentem descaradamente e tentam abertamente fazer lavagem cerebral. Apelam pra tudo e todos. Tudo é válido. É triste.

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