Dália Negra (James Ellroy)

Primeiro, vamos aos fatos: 1) Não, eu não vi o filme de Brian de Palma inspirado nessa obra de James Ellroy (que também escreveu Los Angeles: Cidade Proibida). 2) Comprei Dália Negra em uma promoção da Livrarias Curitiba e eu se fosse você aproveitava e dava uma garimpada lá, livros por apenas R$9,90 (e o que é melhor: não são todos de auto-ajuda, como costuma acontecer em promoções assim). Acertado tudo isso, vamos então ao livro em si.

Eu já tinha ouvido falar na história do assassinato da atriz Elizabeth Short – sabe como é, difícil ter acesso à Internet e em algum momento não ficar sabendo de casos que nunca foram solucionados. O que James Ellroy se propõe a fazer é escrever o que acredita ser a conclusão do crime, a partir de anos colhendo informações sobre o assunto.

E aí você para e pensa: nossa, uma coisa é você ouvir falar de um crime, outra completamente diferente é se dedicar por anos em pesquisas sobre esse. Bom, o que acontece é que Ellroy usou a “investigação” sobre o assassinato da atriz como uma válvula de escape pela perda da mãe. E considerando isso, o leitor em dado momento começa a se questionar até que ponto a obsessão do policial que investiga o caso, Bleichert, não é de alguma forma a obsessão do autor.

E no final das contas, muito mais do que um simples policial (ou ainda, um mero whodunnit) montado para mostrar quem matou a Elizabeth Short, o livro vai além ao explorar a reação das personagens envolvidas com o crime. A dica para como a história será desenvolvida é justamente a abertura, na qual o narrador (Bleichert) fala de como conheceu o colega de trabalho, Blanchard. Uma boa parte da narrativa foca na construção da relação dos dois policiais, além de Kay Lake, namorada de Blanchard.

É esse trio que leva Dália Negra além, e prende sua atenção até o fim.  Porque quando o leitor chega perto da última parte do livro, o caso de Short ainda interessa, é claro, mas outras perguntas surgiram no meio do caminho e uma surpresa atrás de outra levam a lembrar de roteiros dos filmes noir, o que não deixa de ser uma referência interessante, se considerar que o período clássico do estilo começa na década de 40, que também é quando  Elizabeth Short é assassinada.

A visão do pós-Guerra nos Estados Unidos também é bem interessante, emprestando ainda mais cor para a história e especialmente para as personagens. Dália Negra não é um policial comum. É denso, complexo e em muitas vezes bastante violento. Vale a pena ser lido pelos fãs do gênero, nem que não seja encontrado em alguma livraria por apenas R$9,90.

5 comentários em “Dália Negra (James Ellroy)”

  1. Esse livro é bem bacana mesmo, eu li quando era molequinho e fiquei super fissurado!

    Também tem um jogo da história, foi ele que me fez ler o livro. Era um jogo em 8 CDs, coisa extraordinária quando eu comprei… Haha!

  2. Lembro que eu queria muito ler esse livro há algum tempo, mas não lembro porque xD

    Só sei que procurei feito louca nas bibliotecas e não encontrava ele. =/

  3. Olá, boa noite, td bem?
    Desculpe a intromissão, estudo História do Design, e recomendaram o livro Ubik para ler. Li ele, e acabei me apaixonando pelo enredo e universo do livro UBIK. Fui pesquisar um pouco mais sobre o livro e vi uma análise sua no site http://www.meiapalavra.com.br, e achei interessante a discussão que fez em relação a obra prima de Philip K. Dick. Se possível, você poderia ou saberia descrever e analisar as relações entre religião, ciência e tecnologia, que a história tem?

    1. Olá, Rodrigo =] Já tem algum tempo que li “Ubik”, então a memória não cooperaria muito para falar da relação entre o livro e religião, ciência e tecnologia. Mas pensando por alto acho que o livro do Dick que melhor trabalha essa tríada é o “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, até porque a religião aparece de forma bem clara (em “Ubik” eu acho que se mistura com a ideia de morte, o que deixa a comparação um pouco mais difícil de fazer).

  4. Não assista a adaptação do Brian de Palma desse livro. A história contada na tela não tem a mesma alma do livro em si (que é brilhante!). Recomendo, do mesmo autor, Jazz Branco (que também está pra ser adaptado).

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