Arnaldo Jabor partiu meu coração

Em uma manhã de segunda-feira, durante uma aula de Técnicas de Reportagem e Entrevista. Lembro como se fosse ontem: passei na biblioteca da PUC e por acaso peguei “Eu sei que vou te amar”, aquela edição com a Fernanda Torres e o Thales Pan Chacon na capa. Eu estava em uma fase preciso-ler-muito-para-esquecer (e aí você pergunta “Esquecer o quê?” e eu digo “Dos amores não resolvidos, ué”).

E aí ele partiu meu coração, porque ao invés de esquecer, eu lembrei. E foi de alguma forma tão marcante, que não só eu lembro até hoje do exato momento em que ele partiu meu coração, como ainda lembro do que senti na hora (e de quantas vezes fiquei relendo trechos dos livros para quem quer que eu encontrasse na frente).

Então, vocês devem imaginar que não é surpresa alguma eu ter ficado toda serelepe quando soube da nova edição de Eu sei que vou te amar, que saiu há pouco pela Objetiva. Chegou ontem aqui em casa, e eu já fui devorar (mesmo sabendo de cor quase todo o livro).

E sim, a edição está bem caprichada, um mimo. E logo no começo, você lê Jabor dizer que:

“Em geral, os filmes saem de livros. Este livro saiu de um filme. Não é o roteiro, mas um breve romance.

Há vinte anos, Eu sei que vou te amar foi visto por mais de 4 milhões de pessoas, ganhou Palma de Ouro para a Fernandinha e virou meio cult para jovens, ávidos para entender esse mistério de amor e sexo.

Com o tempo, vejo que o texto virou uma síntese (oh, doce pretensão!…) de todas as “discussões de relação” – as chamadas DRs -, que são infinitas, mas, no fundo, são iguais.

Nós, óbvios, estamos aí dentro.”

O que não deixa de ser um Arnaldo Jabor explicando porque partiu o coração da Anica há quase dez anos atrás. E estava tudo indo muito bem, no final das contas o “perdoei” por aquela segunda-feira de manhã (a verdade é que poucos foram os autores que renderam um momento como aquele), mas então começo a ler e sinto que algo não estava certo.

Não, antes que digam, não fui eu que mudei. Ééééé… Jabor partiu meu coração mais uma vez, só que agora em uma madrugada de quinta-feira. Ele alterou o texto de Eu sei que vou te amar. Por enquanto só consegui confirmar uma passagem (justamente porque era uma das minhas favoritas), mas sim, ele mudou o texto.

E sabe, eu não ligo para mudanças que visem atualizar a ortografia, ou simplesmente arrumar alguns erros que passaram batidos em algum momento. Mas eu não consigo gostar de mudanças como partir de:

“Minha querida, se eu disse coisas que destroem nosso amor, perdão… é por medo demais… medo de ver uma coisa crescer tanto… com você eu quis mais que um casamento… ou uma felicidade de família feliz… eu quis tocar uma verdade”

Para:

“Ah… minha querida, eu tenho medo é dessa simbiose da gente… com você quis mais que um casamento… eu quis tocar uma verdade”

Ok, a história é dele e ele mexe como quiser. Eu só acho que no sentido literário da coisa as obras deveriam ficar como estão, porque são Jabores diferentes tocando na mesma obra. É purista ao extremo, eu sei. Mas é como se o Chico (ou coloque aqui seu músico preferido) resolvesse pegar a letra de Todo Sentimento (ou coloque aqui sua música preferida) e enxugasse alguns versos, entende?

Blé, mesmo que não entendam, minha sugestão é que vocês dêem uma garimpada em sebos e procurem pela edição anterior (no Estante Virtual tem até por 8 reais).

7 comentários em “Arnaldo Jabor partiu meu coração”

  1. zuleica – Vinte e tantos anos foi assim, minguados fins-de-semana para encontros pessoais. Os livros, jornais e revistas eram os dedicados amigos substitutos, dispostos a me acompanhar sem queixas à qualquer lugar. Os fins-de-semana agora estam mais extensos, estou mais disponível, mas mantenho em parte o hábito e não desejo modificá-lo. Por isso Veríssimo, para mim, é íntimo. David Coimbra, indispensável. Carnegie meu conselheiro. Lowen, Estés, Gibran, Bonder, Verne, Clark, Andrews, A. Rochais e outros são parceiros na mesa de debates que existe em meu mundo mental e emocional. Recorro a eles ao tomar decisões, em busca de inspiração, afinal “amigos assim” se pode ocupar tranqüila e serenamente. Neste espaço compartilho com você as pérolas desta convivência. Confira e opine
    kuinzytao disse:

    A descrição da sensação chega a criar imagem, de tão franca:
    […]medo de ver uma coisa crescer tanto…[…]
    E a sensação ganhou nome,’simbiose’.
    Muitas pessoas morrem de medo disso, é uma sensação incomum, portanto amedrontadora. Ele percebeu(que pena) tarde o que estava por acontecer. Ao menos percebeu, não ficou bloqueado pelo terror. Em termos literários, concordo com você, a primeira versão tem a magia e segunda entendimento.

  2. Realmente, foi uma mexida infeliz. E não acho que ele tenha o direito de mudar a história. A obra depois de pronta se torna um ser independente, ganha uma vida só sua. E também sou do clubinho dos puristas, ora bolas!

  3. Engraçado, outro dia eu parei pra analisar aquela música do Jabor q a Rita canta que na real é do Jabor, Rita Leee e Roberto de Carvalho “Amor é sexo” e pensei que o Jabor deve ter repensado na sua forma de amar
    Eu meio q decorei as falas do livro…mas de uma certa forma eu não sinto mais daquela forma.Ainda não sei se isso é bom ou se é ruim só sei que mudou…voltando ao Jabor, antes de entrar pra faculdade eu também pirava nisso de alterar textos e tals mas dai vc tem que adaptar uma cena da “Tempestade” ou “Esperando Godot” 🙄 e tem que alterar o conteúdo e manter a forma putzzz dai você percebe que Becket e Shakespeare não estão ai pra imprimir suas ‘novas expectativas a cerca de (e nem pra reclamar hehehe)tudo a que motivaria a mudar suas intocáveis obras.
    O fato é que eu achei o máximo o Jabor ter mudado “seu” texto…ele está ai envelhecendo e pontuando suas considerações sobre o amor!!!!Tamanha liberdade pra um escritor quase que pronvinciano como ele!!!
    Sim, eu continuo a gostar dos seus ecritos!!
    Não, eu não faço parte dos clubinho dos puristas(nem sei que clube é esse hehehhe)
    A-DO-RO vc Anica!!!! :mrpurple:

  4. Eu não acho errado repensar a forma de amar, só acho errado mudar o texto. Ele poderia escrever outro apontando a nova forma de pensar, e pronto. Mexer em algo pronto dá a sensação de que ele tinha medo de não ter capacidade de criar algo tão grande para mostrar o novo ponto de vista.

    De qualquer forma, a “mexida” nem foi uma alteração de ponto de vista, o sentido é o mesmo, no final das contas (como a kuinzytao apontou). Mas ele simplesmente enxugou o texto. Tem muito mais a ver com mudança de estilo do que com novas idéias.

    Neste caso, o novo estilo (mais enxuto) não me agrada. A imagem da “ou uma felicidade de família feliz” ainda é forte para mim, dentro de todos os ‘n’ significados que ela possui e da forma como ligava perfeitamente o “mais que um casamento” com “eu quis tocar uma verdade”.

    Enfim, só minha opinião. O livro também já não me diz o que dizia naquela época, na realidade eu releio as páginas e sinto nostalgia, não aquele “Uau, esse cara me entende!”. Mas bem, as pessoas mudam, os livros mudam.

  5. Nunca fui grande fã do Arnaldo jabor devido aos comentários dele, peguei um certo medo dele. Também, doravante, contudo, entretanto, por acaso, concordo com a moça do primeiro comentário que diz que a obra ganha via própria e não pode ser alterada em sua raiz. uma correção ou outra é aceitável, mas não a mudança.

    Anica, save me. Sou refém aqui!!! Não tenho mais acesso ao orkut, ao gmail, a vida… 😆

  6. Das duas uma.Ou o Jabor tambem frequenta o mesmo templo(“que os fins justificam os meios”) dos diretores da globo e dos imperialistas da direita,ou virou um velho burro,incompetente e puxa-saco.Triste ne?E eu que nos velhos tempos,pensava que gostava de ouvi-lo. :nana:

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