Historinha

Tinha um cara chamado Arnaldo, que fazia coisas muito bacanas no cinema mas por causa de algumas maluquices do governo Collor nos anos 90, teve que arrumar um outro jeito de ganhar pão: jornalismo.

E sabe, ele se deu muito bem nessa área, escrevendo crônicas memoráveis n’O Globo, sem contar alguns ótimos comentários que tecia no Jornal Nacional. Mas aí o Arnaldo ficou doente, criou compulsão por polêmica e então começou a falar e escrever coisas que bem, se não eram artificiais, eram tolinhas mesmo.

Mas não dá para desconsiderar que sim, ele contribuiu muito para a cultura nacional em seus bons momentos. A coletânea de crônicas A Invasão das Salsichas Voadoras, por exemplo, é recheada daquela ironia que ele praticava tão bem quando não visava apenas a polêmica pela polêmica.

E mais do que isso. O Arnaldo nos presenteou com um dos romances mais lindos do cinema nacional: Eu Sei que Vou te Amar. Da mesma forma que Pequeno Dicionário Amoroso, saiu um livro do filme cuja leitura é simplesmente deliciosa: você devora o livro sem nem se dar conta do que está acontecendo ao redor.

E o filme? O filme é lindo. Fernanda Torres (novinha, novinha…) está excelente, e Thales Pan Chacon tão bom quanto. A química dos dois é surpreendente, especialmente se pensar na forma que eles conduzem os diálogos mais tensos, ou os momentos mais sublimes do amor deles.

E o Arnaldo? Bem, levando-se em conta que por causa dele temos momentos como…

O que me faz sofrer é sentir que o que encheria qualquer mulher de felicidade, ou seja, ter teu maravilhoso amor e as coisas lindas que você me diz, tudo isto me causa ansiedade e me leva ao desespero. Quanto mais eu penso em me entregar a você totalmente, tanto mais terror eu tenho do que seria de mim se teu amor ardente apagasse…

Ou ainda…

As mulheres… as mulheres são umas putas escrotas mais malvadas que os homens porque elas param de amar e o homem não pára nunca de amar! A mulher pára!!,.. A mulher pára!!… O homem não! A que horas, minha senhora, a senhora parou de me amar e começou a amar fulano de tal? Bem.. eu ia andando pela Rua do Ouvidor fazendo comprinhas com seu dinheiro, quando mais ou menos às três e quarenta e cinco do afternoon, do pommeriggio, de la tarde.. eu parei de te amar!

Assim como…

Será que eu nunca mais vou te esquecer? Será que nunca mais vou olhar para um espelho sem ver você refletida? Será que nunca mais vai chover sem eu ver a chuva molhando o teu rosto?

Eu confesso que até dou um desconto para os tropeços atuais, e me encho de esperança que qualquer dia desses pinta o velho Arnaldo aí, para surpreender.

6 comentários em “Historinha”

  1. claudiamay – claudiamay é formada em Letras pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Mestre e Letras - Inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina, Doutoranda em Letras - Inglês pela UFSC.
    Claudia disse:

    ^^ Já liberei os comentários. Tinha esquecido disso tudo.
    Vou favoritar o seu por aqui, me parece bem interessante.
    Abraço!

  2. Particularmente, o Arnaldo é um mal jornalista. Sério. Claro que eu não vou tecer razões para isso, afinal, o próprio fato de analizar e rotular um jornalista é arbitrário. Portanto, eu sou absolutamente arbitrário em dizer isso. Talvez, porém, seja a cara dele, o jeitão, as sombrancelhas. Algo estraga o Jabor.

    Mas, oras, devo muito do meu modo de ver o mundo e escrever a esse puto jornalístico. Afinal, quem não deve? :uhu:

  3. Os comentários dele no JN são divertidos. Não dá pra levar muito a sério, mas é interessante.

  4. Claudia on 10 Janeiro, 2006 at 10:13 am said:

    ^^ Já liberei os comentários. Tinha esquecido disso tudo.
    Vou favoritar o seu por aqui, me parece bem interessante.
    Abraço!

    que bom que vc voltou a escrever, eu gostava do seu outro blog ^^

    newspaper editor on 10 Janeiro, 2006 at 10:42 am said:

    Particularmente, o Arnaldo é um mal jornalista. Sério. Claro que eu não vou tecer razões para isso, afinal, o próprio fato de analizar e rotular um jornalista é arbitrário. Portanto, eu sou absolutamente arbitrário em dizer isso. Talvez, porém, seja a cara dele, o jeitão, as sombrancelhas. Algo estraga o Jabor.

    Mas, oras, devo muito do meu modo de ver o mundo e escrever a esse puto jornalístico. Afinal, quem não deve? :uhu:

    Sem contar que, excluindo a mania que ele tem de querer criar polêmica, é um dos raros momentos de ‘inteligência’ e ‘questionamento’ na TV aberta. :dente:

    Lukaz on 10 Janeiro, 2006 at 11:12 am said:

    Os comentários dele no JN são divertidos. Não dá pra levar muito a sério, mas é interessante.

    O problema é que tem uma grande maioria que leva, e aí ele consegue exatamente o que quer: criar polêmica. Homem muito inteligente, esse Jabor :mrpurple:

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