Morango Sardento e o valentão da escola (Julianne Moore)

Você provavelmente já viu Julianne Moore em algum filme. A atriz atuou em produções famosas como Minhas Mães e Meus PaisEnsaio sobre a cegueiraAs HorasMagnólia e O grande Lebowski, um currículo certamente invejável. O que pouca gente sabe é que Moore também já se aventurou pelo mundo das letras, escrevendo para crianças a série de livros com a personagem Morango Sardento (Freckleface Strawberryno original), que começou a ser publicada aqui no Brasil no ano passado, pela Cosac Naify com o primeiro título, Morango Sardento (com tradução de outra atriz, Fernanda Torres, e texto da quarta capa escrito por uma conhecida sardentinha brasileira, Debora Bloch).

Agora chega por aqui o segundo livro da série, também pela Cosac Naify: Morango Sardento e o valentão da escola, agora com tradução de Denise Fraga e texto da quarta capa por Mario Bortolotto. Continuando a parceria com a artista vietnamita LeUyen Pham, o livro traz uma história sensível e alegre sobre um tema que costuma ser bastante difícil, o bullying.

No livro Morango Sardento vai ao Passatempo, um lugar onde as crianças que chegam mais cedo na escola ficam até o horário de entrar. O lugar parece ser muito divertido, exceto em dias de chuva como o da história. Aí não tem nenhuma opção a não ser jogar queimada (eu cresci conhecendo o jogo como “caçador”), o que também poderia ser divertido não fosse o valentão Pedro Bomba, que machuca e assusta todas as crianças que jogam com ele.

Não há outro termo para descrever que não seja “fofo” quando vemos a solução de Morango Sardento para enfrentar o medo de jogar com Pedro Bomba: ela faz de conta que é um monstro, e fica atrás dos outros colegas. As expressões da personagem, através da arte LeUyen Pham são realmente encantadoras. Moore sugere que os valentões só tem fama, e que podem ser inclusive bons amigos – uma mensagem interessante a se passar quando o assunto é bullying, tema do qual ela provavelmente entende já que sofreu um pouco disso quando criança, uma época em que os colegas faziam piadas sobre seu cabelo vermelho e sardas (como ela conta em entrevista sobre a personagem, que obviamente é inspirada em momentos da vida pessoal da autora).

Embora soe a uma solução um tanto ingênua para o problema, Moore tem uma visão interessante sobre isso: em entrevista ao Estado de São Paulo, conta que “as crianças que agridem foram também maltratadas ou tem medo mortal de alguma coisa”, e é a partir disso que vem a solução para o problema de Morango Sardento sobre o jogo de queimada contra Pedro Bomba – e quem jogou queimada/caçador na infância sabe que sempre havia um fortão que judiava das outras crianças, por isso a identificação com a personagem deve ser imediata.

Combinando muito bem o texto com a arte, mantendo um tom leve e até mesmo engraçado, Morango Sardento e o valentão da escola é um bom livro, e mostra de forma positiva uma outra faceta da atriz Julianne Moore que até então eu desconhecia: além de encarnar personagens, ela também sabe muito bem escrever histórias sobre eles. Em tempo: aqui tem um video bem legal de Denise Fraga falando sobre como foi traduzir o livro.

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