Grotesco

As pessoas costumam associar o termo grotesco com algo necessariamente “ruim”, atribuindo um valor negativo para a palavra. Mas o termo grotesco vai além, e pode ser algo muito, muito bom. Tem um livro batutinha que os interessados no assunto podem ler chamado O Grotesco, de Wolfgang Kaiser (editora Perspectiva).

Lá ele define a palavra muito bem quando fala de “suspensão de realidade“.  Aquela coisa de mundo de pernas para o ar, vacas voando e céu cor-de-rosa. Na realidade, eu associaria o termo não com algo ruim, mas com outra palavra: onírico.

E por que estou falando disso? Para que vocês entendam o que quero dizer ao classificar Behind the Mask: The Rise of Leslie Vernon como grotesco. As distorções feitas ao longo da história fazem deste provavelmente um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos. A idéia inicial por si só já é grotesca: uma jornalista (na realidade, a sensação que dá é que é uma estudante de jornalismo) fará o documentário da década, mostrando o surgimento do novo serial killer da América, entrevistando o próprio – por acaso, o tal do Leslie Vernon do título.

Boa parte do filme tem esse tom de documentário (neste sentido lembra, pelo menos em estilo, A Bruxa de Blair). O ponto principal é: Leslie Vernon e a repórter fazem parte de um mundo no qual Jason Voorhees, Freddy Krueguer e Michael Myers são pessoas reais e Leslie Vernon está continuando a trilha seguida por eles. Assim, toda a explicação de Leslie sobre como se preparar para os ataques fica simplesmente hilariante, porque você vê “o outro lado” de filmes como A Hora do Pesadelo.

Por exemplo, uma das cenas mais engraçadas é quando ele fala do condicionamento físico exigido para fazer o efeito de que o vilão está caminhando tranqüilamente quando as vítimas correm desesperadas. Outros detalhes, como a própria criação do “mito” por trás do assassino (incluindo um passado no qual uma cidade tenha maltratado uma criança, casas assombradas e afins) também fazem parte dos ótimos momentos do filme.

Assim, todos aqueles “clichês” dos filmes, como por exemplo, o retorno dos assassinos que imaginávamos mortos ou a resistência quase sobrenatural destes para todo tipo de mal (fogo, porrada, tiro…) são zoados, justamente por estar sendo apresentado como algo sério. É ver a primeira aparição do Robert Englund (famoso por interpretar o Freddy) para entender.

Mas o legal mesmo é quando chegamos lá pela última meia hora do filme. Aqui há uma virada muito bem pensada, e o tom de documentário fica para trás. Se não quiser estragar a surpresa, não leia o parágrafo seguinte…

Neste caso, a “virada” é que a repórter e a equipe finalmente vêem o plano de Leslie em funcionamento. Não vou dar muitos detalhes porque tem mais surpresas que são ainda mais bacanas do que essa, entretanto a questão é: ganha muitos pontos pela criatividade.

E mais pontos ainda pela cena nos créditos, ao som de Psycho Killer dos Talkinh Heads. Muito bom mesmo, vai entrar na minha galeria dos nota 10. Notícia ruim? Parece que não tem sinal desse filme passar por aqui nos cinemas ou chegar nas locadoras…

4 comentários em “Grotesco”

  1. 10000 vezes pior que o Bubba Ho-tep.

    A idéia é excelente, mas mal conduzida. O filme não se decide se é um terror ou se é uma comédia, e por isso acaba sendo um terror que não dá medo e uma comédia sem graça.

    Outro problema é a falta de uniformização das câmeras. Tu não sabe quando é o documentário e quando é a “vida real”.

    Enfim, podre.

    BTW, tu viu que saiu livro novo do Zusak?

  2. Eu não sei pq o fato de vc não gostar não me surpreende :dente:

    Fiquei sabendo do livro novo mas não sei se terei coragem de conferir. As personagens do Menina ainda estão vivas demais para mim, e vou querer ler o novo livro procurando por elas, o que é uma m* (decepção na certa, saca?).

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