Fingidor é o poeta, não o leitor.

woman_reading.jpgOntem estava lendo uma resenha de um livro novo que saiu na França, chamado Comment Parler des Livres que l’On n’A pas Lus? (Como Falar dos Livros que Não Lemos). O autor, Pierre Bayard (psicanalista e professor de Literatura Francesa) sugere algumas estratégias de como ludibriar as pessoas falando de livros dos quais você não passou da vigésima página ou sequer leu.

O que não é exatamente algo inovador. A pirralhada da internet hoje em dia está ganhando o “Green Card” para a vida adulta fazendo exatamente isso: falando de livros (e filmes, e bandas, e situações) que mal conhecem. Para qualquer aperto em uma conversa na qual você queira parecer mais maduro do que realmente é, Google é logo ali.

Sim, eu sei que já comentei disso aqui. Mas esse livro do Bayard de certa forma me preocupa, porque estamos ficando cada vez mais vazios – porque essa formulação de “personagens” de vasta bagagem literária não se aplica mais só aos adolescentes morrendo de vontade de passar por “gente grande”. Tem “gente grande” fazendo isso, por estar morrendo de vontade de ser chamado de “inteligente”.

Mais ainda, o que chama minha atenção para isso é que o número de pessoas que de fato leram as obras das quais falam está ficando cada vez mais reduzido, em comparação com aquelas que pegam uma resenha ou resumo em um site qualquer. E a experiência da leitura em si, como é que fica? Aquelas pequenas frases brilhantes, com as quais só você – que é único como leitor – pode se identificar? Já era.

Deve haver em alguma prateleira o Manual do Intelectual Mirim, não é possível. Livros que você tem que ter lido para passar por um cara bacanão. Não leu Crime e Castigo? Loser! Desconhece Oscar Wilde? Loser! Não tem em sua lista de leitura alguma distopia? Loser! E por aí vai. Eu não entendo. Quando foi que o ler para parecer legal substituiu o ler porque é legal?

Sinceramente, perda de tempo. Respeito muito mais aqueles que dizem que não querem ler Machado porque é rebuscado demais (embora esta não seja uma verdade) do que esse monte de gente que finge que lê.

12 comentários em “Fingidor é o poeta, não o leitor.”

  1. Lucas – Campo Grande – Camiseta M. Calça 42. Come carne. 2 braços. 2 pernas. 2 olhos. O que mais você precisa saber?
    Lukaz disse:

    Sabe o seu post me lembrou? Hard Candy (Menina Má). O carinha conquistava a amizade das gurias pegando comentários de outros na internet.

    Só que eu penso que isso é um fenômeno que sempre existiu e só agora estão dizendo que não pode. Todo mundo já ficou meio de lado em uma conversa por não ter visto ou lido alguma coisa e não quer se sentir assim de novo. O problema não é a quantidade de gente que faz isso, mas as pessoas que SÓ fazem isso. Não veem nada, não leem nada e ficam posando de intelectuais.

    É praticamente uma raça de Super-PIMBAs. :dente:

  2. Sim, eu acho que se é só para “não ficar de fora”, é pratica comum e acontece desde sempre (acho que eu cheguei a postar aqui a lista dos livros que as pessoas mais mentem que leram né?). O foda é gente mentindo para fazer tipo, quando na verdade tem cabeça oca. Mais ainda, os cabeças ocas que vão na onda e pensam que a outra pessoa (a fingidora) é brilhante 🙄

  3. Fabio, vc continua postando com o email errado. E os comentários hoje estão meio confusos. Aquele meu post mais comprido foi uma resposta pro Lukaz :mrpurple:

  4. Isso se encaixa justamente nos profiles cools de Orkut. Onde todas as pessoas viram aquele filme que você sempre quis, lêem os livros que você sempre quis e são belas como você sempre quis ser.

    A aparência hoje em dia conta como tudo; essa demonstração de que fez algo que seria essencial para um convivio social. Saiu uma reportagem na Folha mês passado sobre autores famosos que não leram clássicos tais como: Crime e Castigo, O Retrato de Dorian Gray, etc.

    Creio que seu post abriu uma parte interessante: “Quando foi que o ler para parecer legal substituiu o ler porque é legal?”

    Também gostaria de saber, mas dizem por aí que inteligência é afrodisíaco, talvez se você conseguir enganar alguém “menos” inteligente, quem sabe: SCORE.

  5. Interessante. Mas, afinal, qual o valor da leitura quando esta é pratica de maneira vazia, sem sentimento nem gosto? Quer dizer, quando se lê algo somente porque DEVE ler? Nenhum, na minha opinião, exceto por um valor social de inclusão intelectual (bonito, hein?).
    Mais que isso: o que realmente me preocupa é toda vez que alguém me pergunta como é que eu pude não ler tal livro, ou assistir tal coisa. Eu começo a acreditar que intelectualidade se tornou fetiche, e ser inteligente hoje nada mais é que desejo de consumo. Sim, é importante conhecer os clássicos. Eu mesmo já li muitos. Mas ainda acho mais importante ainda ser autêntico.
    E se a mulecada de hoje se contenta em vagar pela net, seja pelo Google ou pelo Technorati ou qualquer coisa parecida, que se contentem. Continuo na minha individualidade egoísta muito feliz.

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