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Barata“Momentos de iluminação literária” (ou “Da influência de traduções e seus mau entendidos”):

Leandro mostrou hoje a edição desse mês da Revista da Língua Portuguesa (custa 7,90 então é melhor pedir emprestado mesmo, he he). Várias reportagens interessantes, mas sem sombra de dúvida a que me deixou mais surpresa foi a de Gabriel Perissé, entitulada O imaginário em metamorfose.

Pois bem, do que se trata tal matéria? Que temos ali uma questão de tradução (e interpretação) herdada por décadas e décadas. Diga lá, quando falam de Kafka e A Metamorfose, qual é a primeira coisa que vem em mente?

… ah, o cara acorda transformado em barata e talz!“, você me diz. E não é que Kafka em nenhum momento fala de barata? No livro, Gregor Samsa (o “cara”) transforma-se em ungeheueren ungeziefer, o que traduzindo literalmente seria “monstruosa sevandija” que no caso seria um parasita ou verme imundo. Mas não barata.

Na reportagem Perissé revela que a escolha para a tradução desse termo um tanto incomum foi antes de tudo “inseto”, sendo que alguns associam a idéia de inseto à barata por ela ser tão repulsiva para nós, pobres humanos, quanto qualquer parasita ou verme.

Agora o mais interessante: Kafka pediu para o capista da primeira edição que não desenhasse o ‘inseto’. Se bem que é de se pensar: se tivessem levado esse pedido a sério, não teríamos a música Uma Barata Chamada Kafka (alguém lembra? hehe…).