Daisy Jones & The Six (Taylor Jenkins Reid )

Quando tinha lá meus 12 anos indo para os 13 lembro que encontrei em uma locadora perto de casa uma VHS de um documentário chamado A Year and a Half in the Life of Metallica. Era uma espécie de diário de produção do Black Album na primeira parte, e a turnê de lançamento do disco na segunda (a saber, eram duas VHS, o que aumentava o preço da locação). Nessa época Metallica não era exatamente minha banda favorita, mas depois desse documentário me encantei de tal jeito pelo grupo que por dois anos batizei meus diários com nomes de membros da banda (a saber, Lars e Jason).

Já vão aí mais de 20 anos e tenho poucas lembranças do documentário em si (lembro do Kirk chamando um táxi HEY OH TÁXI, HEY OH TÁXI e até hoje quando preciso acenar para um táxi a cena vem na memória), mas enfim, o essencial era trazer o fator humano. Aproximar um pouco mais, aquela espiada na vida dos caras que criaram músicas que você adora. E é nessa linha que meu coração se encheu de nostalgia ao ler Daisy Jones & The Six, de Taylor Jenkins Reid. Contando a história de uma banda fictícia dos anos 70 através de depoimentos de membros da banda e pessoas com quem conviveram e trabalharam, o livro se concentra exatamente nisso, lembrar que há pessoas atrás das suas músicas favoritas.

O bacana é que pelo formato de relato oral a autora cria os mais variados efeitos a partir da contradição das histórias de cada um. Um deles e o que primeiro se nota é o cômico, quando por exemplo um membro da banda tem certeza que tem uma fofoca quente para o entrevistador, mas do depoimento anterior de outros dois membros a gente sabe que ele está completamente equivocado.

Outro efeito é o tom romântico da história, se concentrando na tensão entre Daisy Jones e o líder dos Six, Billy. É o tipo de enredo que qualquer um que acompanha comédias românticas já conhece muito bem: duas pessoas que se odeiam forçadas a conviverem em nome de um bem maior (no caso, a carreira artística) e que aos poucos vão percebendo o quanto têm em comum e passando a se aproximar. O diferencial é que a história começa anos antes de eles se conhecerem, então temos um pouco dos eventos que fizeram deles o que são no momento em que se encontram.

O problema é que achei que o destaque dado a isso meio desnecessário dentro da história, que já tinha por si só uma série de conflitos paralelos como qualquer boa história de banda tem. Por exemplo, para mim, o que faz o livro legal mais do que a relação complexa entre Daisy e Billy, é como a autora pega três mulheres e mostra seu processo de amadurecimento, e de como o sucesso na vida pode ser diferente para cada uma delas. Há a que quer simplesmente casar e ter filhos, a que não quer saber de nada além da carreira, a que tem tanta coisa para resolver antes de pensar em terceiros.

Uma delas, Camila, está sempre nas margens da história, porque não é parte da banda (é esposa do líder). Mas ao mesmo tempo parece ser a que mais exerce influência na narrativa, não só porque as decisões de Billy estão condicionadas à personagem. Há um momento mais para o fim em que o entrevistador inclusive muda o estilo de se apresentar na história por causa de Camila.

Karen Karen é outra personagem que também está sempre nas bordas, mas que quando aparece sempre faz valer seu ponto na história. Provavelmente a que melhor representa a transição do papel da mulher na década de 70, que passa a ganhar mais liberdade e autonomia (e opções). E tem as melhores frases, é a que menos aceita bullshit dos homens da banda e nisso me conquistou completamente (antes da chegada de Daisy, ela era a única mulher no meio de cinco homens).

Por fim, tem a Daisy Jones. É bizarro falar disso de uma protagonista, mas eu não gostei da Daisy. É aquela personagem maravilhosa, linda, para quem tudo vem fácil e sem o menor esforço. Eu provavelmente teria achado extremamente problemática dentro da trama se não tivesse outras personagens apontando isso, de como ela vivia em uma bolha de privilégio e das consequências dessa bolha no modo como enxergava os outros (e do que esperava dos outros). Resumindo: mimada bagarai.

Mas mesmo não gostando da personagem, a história dela dentro da banda é legal de acompanhar (a mulher tentando fazer arte, deixar de ser a musa para criar suas próprias canções) e acabei o livro com aquela sensação meio estranha de que mesmo conhecendo as regras do jogo (ficção, né, minha gente), adoraria que a banda fosse real. Que as músicas fossem verdadeiras e eu pudesse escutá-las, ou que vídeos dos shows descritos estivessem disponíveis no Youtube.

A notícia boa é que aparentemente o livro caiu nas graças da Reese Witherspoon e vai virar série. Minha esperança é que montem uma banda fictícia tão legal quanto a Stillwater do Quase Famosos – que eu obviamente revi logo após terminar a leitura de Daisy Jones & The Six. A tradução aqui no Brasil sai pela Paralela no fim de maio e já está em pré-venda na Amazon.

Em tempo: mais um livro que deve ser muito bacana de ouvir em formato de audiobook. Ah, sim, e a Random House fez uma playlist no Spotify com bandas da época.

2 comentários em “Daisy Jones & The Six (Taylor Jenkins Reid )”

    1. eu tenho um problema, vivo me encantando por banda fictícia. além do stillwater que comento no post tem spinal tap e the rutles, tudo em playlist pessoal hahahaha

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