As melhores leituras de 2015

E láááá vai mais um ano, e láááá vai mais uma lista de melhores leituras. “Anica, por que melhores leituras e não melhores livros?“. Eu sei lá. Sinto que leitura deixa claro que é algo extremamente pessoal, uma lista com critérios totalmente subjetivos (e às vezes malucos) e assim, minha, só minha. Eu posso ler um livro que está todo mundo adorando e também gostar bastante, mas se não rola aquele TCHAN – como aconteceu com o Fates and Furies, por exemplo, o livro fica de fora.

Este ano estou elaborando a lista sem medo de deixar o último livro de 2015 de fora (porque é uma praga, todo ano sempre depois de fechar a lista eu me encanto por um livro, tipo o How to build a girl da Moran no ano passado). O negócio é que comecei a ler A Little Life e considerando o combo 700 páginas + correria de fim de ano, sei que só termino este em janeiro. Então é isso, né.

Opa, não, não é. Tem mais uma coisa aqui que eu queria comentar. Fechei um top 10 e de todos os títulos só dois foram escritos por homens. Se estou abrindo este parêntese logo de cara é porque quero enfatizar algo: não segui nenhuma hashtag do tipo #leiamulheres porque por mais que eu ache a ideia bacanuda, simplesmente não funciono com esse esquema. Eu vou procurando o que estou no clima para ler, eu começo MUITO livro que acabo abandonando nos 20%, e por aí vai.

O que eu quero dizer é que não foi algo de caso pensado, não foi um “nhai, cota em lista literária para as moléres”, simplesmente aconteceu. Sobre isso tem um artigo que compartilhei lá no Facebook há uns meses que eu acho que ilustra bem a situação: Agora só leio livros escritos por mulheres e isto é o que eu aprendi. Esse trecho em especial:

Mas existe realmente uma diferença entre a literatura escrita por homens e por mulheres? Acho que sim. Para começar, parece que as mulheres escrevem mais sobre mulheres. Há mais protagonistas do sexo feminino, e como há mais, são mais variadas, e como são mais variadas, são mais interessantes, mais humanas, mais de verdade. Estamos acostumados a que os protagonistas de quase tudo sejam homens e superamos esse detalhe para nos identificar com nossos personagens favoritos, mas é tão, tão refrescante abrir um livro e encontrá-lo cheio de mulheres de todos os tipos!

Ah, sim. Se você precisa de uma ajudinha para embarcar nesse trenzinho comigo, tem um projeto muito bacana rolando em várias cidades chamado Leia Mulheres (aqui tem matéria da Folha explicando tudo).

Anica, caracoles, cadê a lista?“. Eta, desculpa. Ok, esse ano tem top10. Ano passado foi cinco, né. Mas sei lá, eu queria fazer até top20 porque tem gente que me parte o coração deixar de fora e eu estou pensando em uma lista aqui de “livros que li, curti bagarai mas acabei me enrolando e não escrevi post no bró e queria tanto compartilhar amor com vocês mas fica para a próxima” e opa, estou me enrolando de novo. Tá, agora vai. Fora de ordem, como de costume.

A Amiga Genial (Elena Ferrante): Cooooomo começar uma lista de melhores leituras de 2015 sem citar Elena Ferrante? No começo do ano tinha lido The Days of Abandonment (e gostado muito) mas não poderia me preparar para a febre Ferrante que chegou na época do lançamento de A Amiga Genial pela Biblioteca Azul da Globo. A saber: estou falando da tetralogia completa, até porque o meu favorito é o terceiro livro, Those Who Leave And Those Who Stay. Falei sobre todos os volumes, um post para cada livro. Para saber mais sobre os quatro livros é só clicar aqui.

Estação Onze (Emily St. John Mandel): Chegou por aqui pela Intrínseca. Eu acho que o que mais gostei no livro foi como pegou um assunto já meio batido (pessoas sobrevivendo em um cenário pós-apocalíptico) e fez algo novo e tão, tão humano que por si só já serve como uma homenagem ao Shakespeare, figura importante em toda a trama. O mais espantoso é que ela lida com um monte de linha narrativa, trocentas personagens e mesmo assim você consegue se envolver com cada um, como se fosse parte da Traveling Symphony. Para saber mais sobre Estação Onze é só clicar aqui.

Ayoade on Ayoade (Richard Ayoade): AHHHHHHHHHHHHHHHHH que raiva que dá amar um livro que você sabe que pouca gente terá interesse em ler. Mas assim, se você adora cinema e adora rir (isso deveria ser todo mundo, mas não é né), por favor, leia este livro. POR FAVOR. Tem uns trechos dele que eu começo a rir só de lembrar. Estou rindo agora. Sim, lembrei de um trecho. Sério, é ótimo. Ganhou de Furiously Happy como leitura mais engraçada deste ano por pouco (o que fala horrores sobre Furiously Happy, que você também deveria ler, eu acho). Para saber mais sobre Ayoade on Ayoade é só clicar aqui. – sem tradução no Brasil.

Last Things (Jenny Offill): Segundo ano que dona Offill entra na minha lista, mas olha, não tinha como deixar de fora. Romance de estreia da autora, escrito lá em 1999 mas lançado novamente depois do sucesso de Dept. of Speculation, é um daqueles casos de livros que vão se transformando aos poucos para os leitores, e que talvez saber menos antes de ler seja melhor. Adoro a doçura do começo, possível principalmente porque o ponto de vista é de uma criança, Grace. A mãe da menina (Anna) com certeza entrou na minha lista de personagens favoritas. Para saber mais sobre Last Things é só clicar aqui. – sem tradução no Brasil.

Suíte em Quatro Movimentos (Ali Smith): Eu releio o que escrevi sobre Suíte há uns meses e ainda me assombra o encantamento da prosa da Ali Smith. É um negócio bizarro: li Suíte em março, e não só a história ainda está forte na minha memória, mas ainda dá aquele quentinho gostoso no coração de quando você lembra de algo que gostou muito, sabe como? Ok, eu tenho uma queda descarada pelo absurdo (e um convidado se trancando em um quarto e se recusando a sair, pessoas o tratando como espécie de messias e coisas do tipo são bem absurdas), mas não é só o enredo, são as ideias que ela coloca aqui e acolá na cabeça de suas personagens. É lindo, mesmo. Saiu por aqui pela Companhia das Letras (e parece que ano que vem tem How To Be Both? É isso mesmo produção?). Para saber mais sobre Suíte em Quatro Movimentos é só clicar aqui.

Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente (Luisa Geisler): Eu já começo pedindo desculpas porque gostei tanto mas dezembro é um inferno e acho que vou ficar devendo post sobre o Luzes. Enfim, o negócio é: volta e meia eu lia resenhas, sinopses e afins dizendo que “Ike escreve cartas para o amigo Gabriel que está em coma” e nada NADA NAAAAADA me preparava para o que eu leria a seguir. Putz, que livro gostoso. E que livro bonito. E que livro triste. E que livro fofo. E que outras tantas coisas. Eu terminei com lágrimas nos olhos (que vieram um pouco depois de gritinhos animados de EU SEI QUE LIVRO É EU SEI EU SEI É A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER. Bem. É. Ike é um fofo, aquele perdidão na vida como todos nós, no final das contas. Sério, eu deveria escrever um post sobre ele. Não tem link para clicar, como você já deve ter imaginado. Saiu pela Alfaguara no ano passado.

Autobiography (Morrissey): Eu ainda não li List of the Lost, mas as críticas foram tão destruidoras que eu fico aqui achando que o Moz usou ghostwriter para a autobiografia. Porque a autobiografia é fantástica, e não pelas anedotas da vida do Moz (embora sim, seja legal ouvi-lo descrevendo seu contato inicial com bandas que eu também gosto, por exemplo), mas pelo modo como o livro é escrito. Os saltos que ele dá de memória para conto de horror, do humor para guia de tv. Eu gostei tanto que não recomendaria só para quem é fã dele, sabe? De qualquer forma, estou aqui criando coragem para o List (que já ganhou o Bad Sex Award desse ano). Para saber mais sobre Autobiography é só clicar aqui. – sem tradução no Brasil.

Operação Impensável (Vanessa Barbara): Sabe a sensação de achar fotos de um namoro antigo, vocês dois lá sorrindo e felizes, cheio de promessas para o futuro e dois segundos depois de ver a foto vem um monte de pontadas te lembrando da razão para vocês não estarem mais juntos? Operação Impensável condensa esse sentimento em suas páginas. E algo que acho que é um dos (vários) pontos fortes: o livro todo vem salpicado de momentos engraçados, mesmo quando já entra na fase das pontadas – é meio que uma reafirmação de algo que sempre acreditei: não importa o que você está sentindo agora, você ainda vai rir disso. Saiu pela Intrínseca agora no segundo semestre. Para saber mais sobre Operação Impensável é só clicar aqui.


O Primeiro Homem Mau
 (Miranda July)
: Acho que é o melhor exemplo que tive este ano de como nossa bagagem pessoal muda a leitura de uma obra. Li resenhas de homens e de mulheres sem filhos que descrevem o livro como “maluquinho” (e bem, é bem doido mesmo, mas é a Miranda July né), só que ignorando completamente o que acontece depois de Cee ficar grávida – justamente o que achei que o livro tem de melhor. Aliás, toda a maluquice inicial serve como base para mostrar a mudança sofrida por Cheryl após a chegada da criança. O mais irônico é que se aparentemente você precisa ser mãe para se envolver com essa porção final do livro, o que a história deixa bem nítido é que o amor maternal não surge só ao parir. De qualquer modo, pode ser uma falha da obra não conseguir tocar quem “não esteve lá”, mas (como disse lá no começo) é uma lista pessoal então né ¯_(ツ)_/¯. Saiu aqui no Brasil pela Companhia das Letras. Para saber mais sobre O Primeiro Homem Mau é só clicar aqui.

Por Lugares Incríveis (Jennifer Niven): Sempre que leio um YA que penso ser “mais ou menos”, “sem graça” ou simplesmente ruim, fico pensando por que insisto em ler YA. Aí lembro de livros como Por Lugares Incríveis, e bem, é exatamente por causa de obras assim que insisto em ler YA. Como deve dar para imaginar, é daqueles casos com all the feels, e acho bacana que a autora tenha se concentrado mais na bipolaridade do Finch do que na história de garoto encontra garota que normalmente é narrada em YAs.  Saiu por aqui pela Seguinte (da Companhia das Letras) e acabou de ganhar o prêmio de melhor YA lá no Goodreads. Para saber mais sobre Por Lugares Incríveis é só clicar aqui.

4 comentários em “As melhores leituras de 2015”

  1. Sobre Amiga Genial, ver uma “autora” italiana na sua lista me deixou por demais de curioso, coloquei o pedido na ibs.it e não consegui acreditar que em 5 dias já estava com o livro em casa, comecei com uma leitura despretensiosa mas não consegui largar mais o livro, resultado em 2 dias já tinha acabado a leitura. Da metade para o final comecei a tentar esticar o tempo com o livro, mas não conseguia ficar muito tempo sem ler, ao ler a última página fiquei p. da vida com a autora e com a certeza que vou comprar os outros 3 de uma tacada só para não ficar nessa angústia que estou agora.
    Anica uma curiosidade, você sentiu diferença entre as traduções brasileira e americana?

    1. Ary, senti diferença sim. Não digo em termos de qualidade de trabalho, até porque não li os originais em italiano para comparar (nem sei ler em italiano hahaha). Mas a voz da Lenu fica um tanto diferente. Levei algumas páginas de The Story of the New Name até finalmente pegar o ritmo da voz da Lenu na versão em inglês.

      Sobre não conseguir parar de ler, sei bem como você se sente. Zumbizei durante os dias em que li a tetralogia porque ficava acordada até altas horas da madrugada lendo, sem conseguir largar os livros hahaha

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