E foram todos para Paris (Sérgio Augusto)

E-foram-todos-para-ParisAntes de tudo, um relato pessoal. Antes de conhecer Paris, eu pensava na cidade como um clichêzão, não tinha lá muita curiosidade para conhecê-la. Lembro que, ao contrário de Londres, sobre a qual já tinha lido tanto, tanto que já parecia conhecer as ruas que ainda nem visitara, cheguei na Cidade Luz tendo em mente dois destinos: o cemitério Pere Lachaise (meta ainda mais definida: túmulo de Oscar Wilde) e a óbvia Torre Eiffel (seguindo a dica do 1001 lugares para conhecer antes de morrer, de ser a última visita ao local). Sei que no final das contas foram poucos dias, mas serviram para eu compreender porque a cidade é um clichê. Ela é de fato apaixonante. Não dá para visitar Paris e sair ileso. Fica um pouco de você ali, aquela vontade de voltar, de rever lugares que parecem ter saltado da tela de um filme.

E muito dessa saudade que sinto da cidade fez com que eu me encantasse perdidamente por Meia Noite em Paris, filme de Woody Allen lançado no ano passado. Misturando figuras populares da década de 20, de Fitzgerald até Hemingway, a mescla entre figurinhas carimbadas do universo literário e a cidade dos sonhos inevitavelmente tinha que ser encantadora. E creio que não só para mim, já que o filme foi um sucesso (que se refletiu nas livrarias, com leitores procurando os autores que aparecem na história). E é na esteira do sucesso desse filme que o jornalista Sérgio Augusto lança seuE foram todos para Paris: um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald e cia.

Justiça seja feita, o texto do livro é anterior ao filme de Allen (acredito apenas que o interesse das pessoas pela Paris dessa época tenha facilitado a publicação). O original era uma reportagem para a Folha de São Paulo, publicada no caderno de turismo em 18 de janeiro de 1990. Na introdução, Sérgio Augusto conta que com o tempo as pessoas pediram que ele a publicasse como livro, e que várias seguiram esse roteiro cultural proposto por ele na matéria de 16 páginas. E então ele foi lançado como livro pela Casa da Palavra, com algumas alterações (endereços que há 20 anos eram uma coisa e outro dia já são outra) e um tratamento gráfico extremamente caprichado: não é só um guia gostoso de ler, ele é lindo.

A proposta de Sérgio é pegar as principais áreas daquela Paris de 20 e propor um roteiro no qual o turista siga a pé, conferindo casas onde moraram figuras importantes, bares frequentados por eles, praças favoritas e por aí vai. Fora os capítulos que situam o contexto histórico (com uma margem diferente na lateral), E foram todos para Paris é exatamente isso, um guia. Você vai lendo as histórias sobre os lugares e um pouco da vida das pessoas que fizeram daquele momento algo tão especial para a cultura mundial. Ele vem com mapas marcando os roteiros, e várias fotos (sendo as mais legais as que comparam a Paris de antes e a atual).

Silvia Beach, Ernest Hemingway e amigues na frente da Shakespeare and Company (1919)

Por causa disso, o guia pode ser lido de três formas. A primeira, se como eu você é um apaixonado pela cidade e morre de saudades, é um jeito de revisitá-la. Se ainda não conhece, é um jeito de saber mais sobre ela. E tem a terceira maneira, que serve tanto para quem já foi e quem não foi para lá: uma espécie de relato da Paris da década de 20. São várias histórias, envolvendo não só figuras literárias, mas pessoas como a dançarina Isadora Duncan, por exemplo. E contados de um jeito muito gostoso, com aquele tom de “causo”, que eu sinceramente só torcia o nariz para alguns galicismos desnecessários do autor.

É um guia caprichado, dá para perceber que a pesquisa do autor foi profunda. E por conta disso, acredito que seja não só uma boa sugestão de leitura para aqueles que saíram da sala de cinema encantados com a Paris de Woody Allen, mas também para quem já está com passagem comprada e não sabe ainda muito bem o que verá lá.

(Post originalmente publicado no Meia Palavra em 11 de Março de 2012)

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