Dia dos namorados, livros, etc.

Nota: este post foi originalmente publicado no Meia Palavra em 31 de maio de 2012. Como aos poucos estou trazendo meus textos de lá para cá, achei que era o momento adequado para esse. Dei uma editadinha no final com outras sugestões de leitura, então quem quiser conferir o texto original é só clicar aqui.

Someone is staring at you in “personal growth”...
Someone is staring at you in “personal growth”…

Este ano demorou um pouco mais, porém já aparecem aqui e acolá propagandas dos Dias dos Namorados, incluindo as que vendem livros como opção de presente. O que eu achava até engraçado, já que no final das contas a leitura mais e mais é um hábito particular. Mas aí pensando em elaborar uma lista de sugestões, por coincidência cai em minhas mãos Bonsai, que é todo montado na relação de um casal com os livros. Ou seja, embora a experiência de leitura seja única e varie de leitor para leitor, podemos ter momentos compartilhados com outras pessoas, fazer uma obra virar lembrança, uma piada interna, ir além da leitura. Quer exemplos?

Exemplo 1: Menina de 18 anos ao telefone com um carinha por quem era completamente apaixonada porque ele era todo inteligente-cheio-de-mil-referências. Estão jogando conversa fora, quando a garota comenta que o irmão e a cunhada estão assistindo ao filme 1984. O guri fala “Desligue já o telefone e vá ver este filme”. A menina desligou e nem assistiu direito, em uma neura louca pensando que ele só queria era se livrar dela. E mais: naquele dia escreveu no diário como aquele cara era babaca às vezes. Poucos anos depois finalmente leu 1984 de George Orwell. Gostaria de ainda ter contato com o sujeito para comentar com ele como aquele livro era genial, e como ela deveria ter assistido ao filme sem birra naquele dia do telefonema. Mas outros anos depois viu a lista de favoritos dele no Orkut e chegou a conclusão que um relacionamento com um carinha que colocava Amyr Klink no top5 estava mesmo fadado ao fracasso. Incompatibilidade de gostos literários fala alto, sabe como é.

Exemplo 2: Garota começa um relacionamento longo com uma pessoa que sempre sabia quais livros ela queria (e a importância desses para ela). Ele tinha uma listinha de pockets da L&PM para presenteá-la eventualmente, e sabia como ela não aceitava livro que não tivesse alguma dedicatória. No último dia dos namorados que passaram juntos, enquanto se despediam pela manhã o guri fala para ela “Arruma direito seu travesseiro”. A garota sobe correndo para o quarto e encontra um Contos Fantásticos do Século XIX que era seu objeto de desejo desde que fora lançado. E sim, com dedicatória. Alguns meses depois no Natal daquele ano ele dá um DVD para ela. No mês seguinte eles terminaram. Não por causa do DVD, é óbvio. Mas o salto dos livros para o DVD hoje em dia parece ser um interessante sintoma que ela não soube enxergar.

Exemplo 3: O amigo sabia que a garota adorava Hamlet. Eles passavam a tarde trocando emails discutindo diversas teorias, entre elas a de que Shakespeare na fala de Gertrude sobre a morte de Ofélia aponta que a jovem estava grávida quando se suicidou. Aí eles combinam de assistir a adaptação dirigida pelo Kenneth Branagh com uma amiga. A tal da amiga estrategicamente não aparece nesse encontro, mas uma garrafa de Malbec está lá. E naquele dia começa um relacionamento que dura até hoje. A confirmação do casamento chegou não quando ela trouxe suas roupas para o apartamento dele, mas quando uniram os livros que já tinham antes de começar a namorar.

A verdade, pequeno gafanhoto, é que se você resolver embarcar em um namoro com uma pessoa que lê compulsivamente, você terá que aceitar o livro como um dos vértices de um triângulo amoroso. Eventualmente você terá que ler aquele livro do qual a pessoa amada tanto fala, nem que seja para entender por que diabos ela tanto fala sobre ele. Vai ter que se informar sobre os lançamentos, para fazer alguma surpresa que envolva um livro novo daquele autor favorito. Vai acabar deixando passar batido uma ou outra frase obviamente retirada de um livro, que você só não saberá qual. Vai ter que se controlar para não cair na armadilha de tentar achar algum significado escondido em um livro indicado (acredite, às vezes é só porque o livro é bom mesmo). E vai ter que lembrar sempre que livro, só com dedicatória.

Mas pense pelo lado positivo: ao contrário de muitos apaixonados por aí, você já sabe exatamente o que será o presente no 12 de junho.

***

Ah, sim, as sugestões. O Blog da Companhia fez uma boa lista, dividida nas seguintes categorias: Comprometidos, Indecisos e Solteiros. Eu vou seguir por outra trilha. Vamos lá.

Mal acompanhado: Sim, é com você mesmo que estou falando. Você sabe que esse relacionamento não tem futuro, só não sabe bem o motivo para continuar seguindo em frente. Ganhar o presente de dia dos namorados, talvez? Quem nunca, não é? De qualquer forma, é uma boa você já ir preparando terreno para explicar para o/a quase-ex o que é que deu errado. E com isso, a primeira sugestão é bastante óbvia:

– Por isso a gente acabou (Daniel Handler)

– A insustentável leveza do ser (Milan Kundera)

– Juliet, Nua e Crua (Nick Hornby)

– Garota Exemplar (Gillian Flynn)

– O amor é fogo (Nora Ephron)

Bem acompanhado: Meu querido, a verdade é que se você está bem acompanhado então já sabe exatamente que livro seu/sua namorado(a) quer. Ele(a) já terá dito com todas as letras “UAU, CHEGOU O ULYSSES COM A TRADUÇÃO DO CAETANO GALINDO” e outras dicas nada sutis. Mas se quiser um plano b para surpreender, seguem alguns livros que de certa maneira celebram o amor (*toca tema de rádio brega*):

– Um Dia (David Nicholls)

– Não me abandone jamais (Kazuo Ishiguro)

– O filho de mil homens (Valter Hugo Mãe)

– Serena (Ian McEwan)

– Toda Poesia (Paulo Leminski)

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