Então você quer dar livros de presente de Natal?

Eu adoro ganhar livro de presente e defendo abertamente a ideia de que não há presente mais bacana para dar para uma pessoa do que livro. Portanto, é evidente que eu acho que a melhor sugestão de presente de Natal é dar um livro (oh, really?). Poréééém, muito embora seja algo bacana de ganhar, acho que vale o alerta: não é algo fácil de dar. E isso por ‘n’ motivos, mas principalmente porque, ao contrário de um perfume, uma camisa ou um urso de pelúcia, leitores têm a mania de procurar em livros um “significado oculto”, uma mensagem sutil. Leitores mais vorazes costumam ser especialmente chatos de presentear também, seja porque aparentemente eles já leram tudo o que já foi publicado hoje em dia, ou porque eles já estão naquela fase em que sabem exatamente o que querem, então não dá para agradar com qualquer coisa.

Pensando nisso resolvi elaborar não exatamente um post com dicas de livros para dar de presente, mas de dicas para você que resolveu dar livros de presente. O bom é que você pode usar esse guia para outras situações, como aniversário, formatura e casamento (não, seriously, até para casamento é um presente legal). Então pega na minha mão e vamos lá, pequeno gafanhoto.

1. Acredite no poder da Wishlist.

Ok, este é seu mantra não só para natal e não só caso tenha decidido dar livros de presente. ACREDITE NO PODER DA WISHLIST, ACREDITE. Se o sujeito já está facilitando sua vida elaborando uma lista do que ele quer ganhar, para que complicar e fugir disso? É evidente, tem o problema de duas pessoas comprarem o mesmo título, mas para evitar esse problema eu sugiro que você siga sempre essa ordem: título mais obscuro >> autor mais obscuro >> valor mais alto.

2. Só dê de presente algo que você conhece.

A pessoa não fez wishlist? Ok, isso pode ser um problema. Especialmente porque muita gente acha que lista dos mais vendidos é uma espécie de termômetro de qualidade. “Ah, se tá no top10 da Veja é certeza que ela vai gostar!”. E aí você vai lá e compra Cinquenta Tons de Cinza para a tia que você tirou no amigo secreto. Sério, mais vendidos NÃO FUNCIONA. O que funciona é você conhecer o que está dando de presente, saber que tem a ver com o estilo da pessoa ou pelo menos saber que não é uma completa roubada. O que nos leva para…

3. Conheça bem a pessoa que você presenteará.

De novo, considerando o cenário sem wishlist. Não dá para dar livros aleatoriamente, infelizmente. Barba Ensopada de Sangue pode ser lindo para você, mas pode ser um saco para outra pessoa. Você pode se divertir horrores com qualquer volume de Guerra dos Tronos mas sua vó pode achar a coisa toda meio imoral. E por aí vai. Uma das características mais legais da Literatura é de certa forma uma das coisas que fazem com que seja tão difícil dar livro de presente: um livro nunca é o mesmo para duas pessoas. Então se você faz questão de agradar, é bom saber do que a pessoa realmente gosta, até para evitar aquele silêncio constrangedor quando o sobrinho intelectual ganha da tia um livro de auto-ajuda, seguido de um “Você gosta tanto de ler!”.

4. Acredite no poder das edições especiais.

Edições especiais servem para situações especiais caso você não esteja nadando na grana, é evidente. O preço alto por si só já mostra que não é exatamente a sua opção para aquele parente distante que vai passar o natal com sua família. Mas para a namorada bibliófila ou aquele amigo da vida toda apaixonado por um determinado autor, vale uma busca por edições especiais. E por edição especial não digo necessariamente aquelas em capa dura, ou que são lançadas em caixas cheias de firula. Já pensou algo autografado por Neil Gaiman? Dá um certo trabalho garimpar, mas é garantia de sucesso – e aqui não importa muito se a pessoa já tem um livro igual, acredite.

5. Dedicatórias.

Se mesmo assim bater uma insegurança, joga lá uma dedicatória bem bo-ni-ta no livro. Livros podem ser quase como cartões de Natal, com a diferença que eles têm alguma utilidade depois que a data passa. Coloca lá seus sentimentos no momento, dá até para pedir desculpas num livro. E como isso você ainda tem chances de conseguir uma história tão bonita como a que foi publicada no Globo tem uns dias. Não esquece de dizer o que fez você escolher aquele título, quem ganha o livro sempre fica curioso sobre isso. Já escrevi “Estou dando um Voltaire porque reza a lenda que era tão insuportável quanto você”. Sim, sou dessas.

6. O óbvio.

Supondo que você não esteja realmente pensando em surpreender a pessoa, cabe também recorrer ao óbvio. Chega para ela e pergunta: e aí, que livro você gostaria de ganhar? Lógico que o fator surpresa é sempre bacana, mas pensando aqui nas minhas lembranças, os melhores livros que ganhei eram justamente livros que eu dizia para todo mundo que estava louca para ler, e quando chegaram em minhas mãos não eram necessariamente uma surpresa. De qualquer forma, volta para o item 5, o item 5 causa mais efeito do que qualquer surpresa.

Bônus track: MAS ELE TEM MUITOS LIVROS!! COMO POSSO ESCOLHER UM?!! Parafraseando a tia Austen, é uma verdade universalmente conhecida que uma pessoa na posse de uma bela quantidade de livros deve estar necessitando de mais livros. Relaxa. Na pior das hipóteses você vai dar um livro que a pessoa já tem e ela irá até alguma livraria para trocá-lo por outro que ela não tem.

12 comentários em “Então você quer dar livros de presente de Natal?”

  1. Baita guia!

    Outra dica é aproveitar que o bibliófilo em questão já tem vários livros e observar os autores mais lidos, ver se falta algo ou buscar um autor no mesmo estilo.
    Eu, por exemplo, não recuso um William Gibson. Tenho duas das trilogias dele e espero aumentar a coleção agora no Natal.

    Não que alguém aqui vá me presentear, mas, sabe, né, tá dada a dica. 🙂

    1. Valeu, André! E a dica é ótima! Aliás, abre uma nova discussão: por que diabos dizem que é tão difícil dar livros para quem tem muito livro se basta uma olhada rápida na biblioteca do bibliófilo para saber qual é a praia dele? Não entendo isso. >

      1. Nunca se sabe o que esperar de um bibliófilo, acho que esse pode ser o problema.
        Eu, por exemplo, adoro William Gibson e Arthur C. Clarke, mas nunca tive muito interesse em ler Asimov, que pra quem olha de fora, é ficção científica, então deve ser igual.

        1. Isso é verdade. E mesmo entre nossos favoritos, pode acontecer de não termos o livro simplesmente porque tivemos a oportunidade de ler mas não gostamos o suficiente para comprar, né?

          Ah, sobre o Asimov, dizem que este é um bom começo >> http://www.vortexcultural.com.br/literatura/editora-arte-letra-lanca-livro-o-cair-da-noite-de-isaac-asimov/ eu estou pensando em investir, também conheço pouco dele (li só alguns contos +_+)

          1. Gostei do que você escreveu. Muito bacana. E sobre ficção, Asimov é legal (2001, 2010, Rama) mas creio que para começar bem na FICÇÃO é legal em doses homeopáticas rs rs rs como ” O PAGAMENTO” de Philip K. Dick, lá tem 12 histórias bacanas.

    1. Este video da intrínseca está muito legal, mostra direitinho os prós e contras de cada um. E sabe, dá a entender uma coisa que eu sempre achei: um não vai substituir o outro, são complementares.

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