The Paris Wife (Paula McLain)

Muito bem posicionado em listas dos mais vendidos lá fora, The Paris Wife de Paula McLain vem com uma proposta bem interessante: narrar a história de Ernest Hemingway e outras figuras da dita “Geração Perdida” que viveu em Paris na década de 20, sob o ponto de vista da primeira esposa do escritor norte americano, Hadley. De certa maneira, acredito que muito do sucesso do livro tenha acontecido por conta do lançamento do filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, que criou um grande interesse por parte do público sobre os grandes nomes das artes que circulavam por Paris naqueles tempos.

E digo isso porque o livro por si só não explica o fato de ele estar entre os mais vendidos. É uma ótima ideia, porém muito, muito mal executada. O começo ainda passa alguma impressão de que será uma leitura que valerá a pena – Hadley, a narradora, avisa de antemão que não trata-se de um livro de mistério, construído de modo a descobrir quem será a segunda esposa de Hemingway (Pauline, uma amiga de Hadley que conhece o escritor em Paris). A franqueza da narradora conquista o leitor, o problema é que a atenção logo é perdida com devaneios completamente desnecessários para a narrativa.Se a intenção de McLain era uma abordagem mais psicológica de figuras históricas como o próprio Hemingway, ou ainda os Fitzgerald, Ezra Pound, Gertrud Stein e outros, o problema é que ela é romântica e melosa demais. McLain cria uma Hadley que claramente se vê como uma santa que suporta todas as dificuldades que o casamento com Hemingway lhe impõe, em nome do amor que tem por ele. Inicialmente é até compreensível, mas a verdade é que essa fórmula começa a se repetir de tal maneira que fica simplesmente enfadonho – o que é um absurdo se imaginar que a história se passa na Paris da década de 20.

Além disso, o recorte do tempo conta de forma desfavorável para a história de McLain, porque boa parte do tempo da narrativa é o mesmo de Paris é uma festa, de Hemingway. Se o leitor já teve as memórias do escritor em mãos, sabe como ela é deliciosamente escrita, e aí a comparação com os eventos que ambos descrevem é inevitável, e é evidente que McLain sai perdendo nesse placar.

É claro, não é um tempo jogado fora. Há alguns momentos no livro que são realmente interessantes e vale a pena imaginar de fato o ponto de vista de Hadley para determinados acontecimentos, como por exemplo quando ela perde manuscritos de toda a juventude de Hemingway (o evento aparece n’O Livro dos Livros Perdidos) ou o fato de que se não fosse pelo interesse dela em ler O grande Gatsby, o marido provavelmente jamais o teria lido nem começado uma amizade com Fitzgerald.

De qualquer modo, permanece a sensação de uma ideia muito boa, mas que foi mal desenvolvida. O excesso de melodrama torna a leitura cansativa, daquelas que quando você lembra que o livro te espera na cabeceira da cama a sensação da lembrança não é boa, mas ruim, como se fosse uma questão de honra terminá-lo. Se o leitor saiu do cinema após ver Meia Noite em Paris e deseja mais daquela cidade naqueles tempos, continuo achando que a melhor leitura é sem sombra de dúvidas Paris é uma festa do próprio Hemingway.

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