Arte e Letra: Estórias N

Ao comentar a edição anterior da revista Arte e Letra: Estórias (M), falei da importância desse tipo de coletânea para não só apresentar novos autores como também resgatar alguns antigos, famosos em seu tempo mais pouco conhecidos do público moderno. A edição seguinte, N, foge um pouco dessa proposta por trazer em quase sua totalidade nomes já consagrados da literatura, que tem bastante destaque atualmente, cada qual dentro do seu nicho literário. O que obviamente não é ruim – há contos ali que já tem algum tempo que gostaria de ler mas ainda não tivera oportunidade, como por exemplo O cair da noite de Isaac Asimov.

Quem abre a coletânea é Katherine Mansfield, com As filhas do falecido coronel, traduzido por Beatriz Sidou. No melhor do estilo de Mansfield, temos um pequeno recorte de um momento da vida de personagens comuns, que acabam trazendo à tona muito do psicológico das personagens. Aqui, Josephine e Constantia refletem sobre suas vidas após a morte do pai, o coronel.

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Ao Ponto (Anthony Bourdain)

Se você gosta de programas culinários em algum momento já deve ter ouvido falar de Anthony Bourdain. Foi chef em diversos restaurentes de Nova York, mas atingiu fama mesmo após a publicação de seu livro Cozinha Confidencial, no qual contava alguns podres (sem intenção de trocadilho) das cozinhas em que trabalhou, revelando suas experiências envolvendo drogas e muitos truques que a clientela sequer imaginava (como o já famoso conselho sobre não comer peixe nas segundas, porque eles são restos do final de semana).

Cerca de dez anos depois, Bourdain retorna com Ao Ponto, que tem como subtítulo Uma carta de amor sangrenta ao mundo da culinária. Bourdain não é mais chef, agora é estrela de programa de televisão (o No Reservations, lá fora exibido pelo Travel Channel e que no Brasil passa no Discovery Travel and Living). Sua vida está claramente diferente da que levava no período em que escrevera Cozinha Confidencial, até porque agora a equação traz uma nova esposa e uma filha, o que, nas palavras do próprio autor, significa largar a jaqueta de couro e abraçar a maturidade.

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Obax (André Neves)

Vencedor de diversos prêmios literários (entre eles o Jabuti e o Açorianos) André Neves já publicou mais de 30 livros, escrevendo e ilustrando histórias infantis. Com Obax, lançado pela Brinque-Book, fica evidente o cuidado do trabalho de Neves, que neste caso incluiu uma boa pesquisa sobre  o oeste africano, para trazer para as páginas do livro o lirismo e cores da cultura desta região.

O livro conta a história da menininha Obax (que significa “flor” na África ocidental), que jura ter visto uma chuva de flores. Como o lugar em que vive é conhecidamente árido, é evidente que seus amigos e familiares acreditam ser só uma invenção da garota, que viaja o mundo para ver novamente uma chuva de flores e provar que o que vira era de verdade.

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True Blood S04E11: Soul of Fire

Uia, episódio com o maior jeitão de season finale. Não economizaram em nada na ação, já foram jogando algumas cartas que indicam caminhos que a próxima temporada tomará e o melhor de tudo, não perderam tempo com lenga-lenga daquelas que você até resolve dar uma conferida no email enquanto tá passando. Foi realmente um dos melhores episódios da temporada que, convenhamos, teve um miolo meio fraco – quer dizer, parecia fraco, a verdade é que muito do que parecia embromação acabou se mostrando necessário para a construção de Soul of Fire (S04e11) e, acredito, o season finale.

Um bom sinal disso foram as cenas envolvendo Alcide e Sam. Quem lê o Hellfire sabe, eu não suporto as personagens e por mim elas nem existiriam na série. Mas o confronto contra Marcus foi MUITO legal, e ver o Alcide virar macho-macho-man ao invés do bunda mole de sempre também foi ótimo. Aliás, nesta temporada acho que foi a única cena com essas personagens que eu não pensei “Ok, já deu, pode passar para outra parte da história”.

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A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller

Falar que Arthur Miller é um dos maiores nomes da dramaturgia norte-americana é até um lugar comum. Não há quem goste de teatro e em algum momento não tenha cruzado com algum texto seu, sendo que o encontro se dá normalmente com duas de suas obras mais famosas, A morte de um caixeiro viajante (Death of a Salesman) e As bruxas de Salém (The Crucible). A força de seu texto está principalmente no retrato fiel de uma época, o pós-guerra nos Estados Unidos, que tão fortemente moldou a sociedade daquela época, seja com valores como o do “sonho americano” como com a histeria do anti-comunismo.

Miller era um crítico ácido e astuto, e em suas peças em determinados momentos até bastante sutil. Do recorte de um dia comum na vida de pessoas ordinárias é possível tirar tanto que chega a ser injusto reduzir a importância de sua obra só à literatura norte-americana: ele fala de homens, tão reais, tão tridimensionais que poderiam estar falando de suas tristezas, paixões, medos e sonhos em qualquer lugar do mundo. É o que se pode perceber na coletânea A morte de um caixeiro viajante e outras 4 peças de Arthur Miller, lançada pela Companhia das Letras com tradução de José Rubens Siqueira.

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