Por que ler os clássicos? (Italo Calvino)

Já deve ter acontecido em algum momento com você. Por conta de algum livro começou a tomar gosto pela leitura, e queria sempre mais e mais. No início qualquer coisa serve, mas o gosto começa a ficar refinado e aí as escolhas começam a se afunilar. Em uma metáfora tosca, é mais ou menos o mesmo processo que fez com que durante a adolescência você tomasse vinho Sangue de Boi achando ótimo, e hoje em dia não abre garrafa que tenha custado menos de 30 reais. O equivalente dessas “garrafas de mais de 30 reais” no mundo literário são os clássicos. A questão é que nem sempre é fácil definir o que é um clássico, que dirá quais livros são clássicos e quais não são.

E é para auxiliar tanto nessa definição, como também na apresentação de algum desses que Italo Calvino traz para os leitores Por que ler os clássicos?. O livro é na realidade uma coleção de artigos do autor, todos voltados aos grandes títulos literários. O charme dessa obra é que ela não é algo que só possa ser “digerida” por estudantes de literatura, mas tem tudo para encantar e auxiliar os leigos que estão justamente nesse ponto em que querem ampliar os horizontes literários mas ainda estão um pouco perdidos em uma selva com tantos livros já publicados ao longo dos séculos.

Por que ler os clássicos? abre justamente buscando responder a questão do que é um clássico. É interessante acompanhar o raciocínio de Calvino, que passo a passo formula definições, que vão evoluindo conforme são explicadas. Essa primeira parte do livro já conquista a atenção, porque mostra o que há de melhor no estilo de Calvino: abordar um assunto profundamente, mas sem para isso ser um pedante chato como acontece em textos de especialistas.

Depois de formulada a resposta para essa pergunta, e concluído que ler clássicos é melhor do que não os ler (parece óbvio, mas às vezes esquecemos disso), começa então uma série de artigos sobre obras e autores, partindo de Homero até chegarmos em Cesare Pavese, passando por autores que são figurinhas carimbadas quando se fala em clássicos, como Dickens, Tolstói, Balzac e Voltaire; além de outros nem sempre lembrados (ou pelo menos não tão óbvios) como Pasternak e o italiano Montale.

A partir disso é possível aproveitar os artigos de Calvino de duas maneiras. A primeira, caso você já conheça a obra ou o autor discutido, como uma forma de refletir a leitura que já fez. A segunda, caso ainda não conheça, é como uma lista de livros ou escritores  imperdíveis. Voltando à metáfora dos vinhos, pense em Italo Calvino como um sommelier legal que indica o que há de melhor sem necessariamente te tratar como um idiota que não entende nada sobre o assunto.

Dos artigos o meu favorito foi o de Dickens, sobre Our Mutual Friend. Ainda não tive a oportunidade de ler essa obra, mas fiquei extremamente curiosa a partir da descrição e dos comentários elaborados por Calvino, especialmente a abertura do artigo. Também fiquei com vontade de reler a Odisséia de Homero, até porque algumas questões levantadas passaram batido por mim quando li a obra pela primeira vez. E acredito que são esses casos que ilustram bem o quanto Calvino pode agradar tanto quem já conhece os livros dos quais ele fala, quanto os que estão buscando indicações do que ler.

Até porque o autor fala de literatura de forma bastante apaixonada, a verdade é que Por que ler os clássicos? tem todas as qualidades para inclusive se encaixar na primeira definição de clássico que Calvino nos dá: um clássico é aquele livro sobre o qual você normalmente escuta as pessoas dizendo “estou relendo”, nunca “estou lendo”. Indispensável mesmo, para qualquer um que tenha começado a se aventurar pelo caminho da literatura.

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