24 Contos de F. Scott Fitzgerald

Sempre que me perguntam sobre qual livro ler de um escritor, eu costumo fugir da indicação óbvia dos grandes romances caso ele tenha também criado uma série de contos. O que funciona em ter uma coletânea de contos como porta de entrada para o universo de um autor é que serve como pequenas amostra grátis, aperitivos ou seja lá qual for o termo que achar mais apropriado para uma breve experiência do que será ler algo escrito por essa pessoa. Como contos são breves, se for ruim você não perderá tanto tempo assim. E como são vários, há a oportunidade de conhecer várias facetas e estilos de um escritor antes de se aventurar por seus romances.

É por isso que se alguém me perguntasse sobre F. Scott Fitzgerald, por mais que ele tenha em sua bagagem grandes clássicos da língua inglesa como O Grande Gatsby e Suave é a Noite, ainda assim eu indicaria a coletânea 24 Contos de F. Scott Fitzgerald traduzidos por Ruy Castro e publicados pela Companhia das Letras como porta de entrada para a obra desse grande escritor norte-americano.

Além dos motivos já citados, há três fatores extremamente importantes recorrentes nessa coletânea que a tornam uma excelente pedida para quem nunca leu Fitzgerald antes. A primeira é de que a seleção se apresenta em ordem cronológica, do excelente Bernice corta cabelo (1920) até o belo (perdão pelo trocadilho) Mocinho Bonito (1940). São 20 anos da produção do autor impressos nesses contos, mostrando sua evolução como escritor e também como homem. Como bem aponta Ruy Castro na introdução, até mesmo as viagens de Fitzgerald acabam servindo de inspiração para o escritor, que retrata lugares com cores tão vivas que suas histórias poderiam muito bem ser fotografias de Nova York ou Paris.

Outro fator é a presença constante de motivos que se repetem na obra de Fitzgerald não só nos contos, mas também nos romances. Uma marca forte no texto do autor é o amor, que aparece nos diversos relacionamentos retratados na coletânea, mas que no final das contas convergem todos para a mesma verdade dita em A coisa sensata (1924): Há todas as espécies de amor nesse mundo, só não há o mesmo amor duas vezes. E como se combinado com o amor em sua noção de efemeridade, temos também o tempo, sempre presente mesmo que de modo sutil ou ainda mais óbvio como em A década perdida (1939).

Finalmente o terceiro fator é que bem, os contos são realmente deliciosos e devem fisgar qualquer leitor para as demais obras de Fitzgerald. Não só por virem mesclados com o fantástico em alguns casos ou com o humor em outros, mas por conta de suas personagens também, que são muito bem desenvolvidas (talvez até pelo autor se dar ao luxo de “esticar” um pouco a noção de conto, que costuma ser mais breve se pegarmos autores canônicos como Edgar Allan Poe). Elas são palpáveis, suas intenções são verossímeis. Poderiam ser breves recortes da vida de qualquer pessoa daqueles anos tão bem retratados por Fitzgerald.

Além disso há ainda algo poderoso no escritor, frases que ora servem como um tapa na cara ou como um calmante. Não é qualquer escritor que consegue isso, com poucas palavras dizer tanto. Para compreender isso é questão de passar os olhos no início de Majestade (1925) no qual lemos: Incrível não é que as pessoas, no fim das contas, se dêem melhor ou pior do que se esperava. Incrível é como se mantêm à tona, cumprem as expectativas e parecem levadas por seu inevitável destino.

Por causa desses motivos, e pela beleza do estilo que mostram um escritor que não tem pressa e não quer entregar o ouro sem que tudo esteja no lugar, é que vale a pena ter em 24 Contos de F. Scott Fitzgerald a obra que inagurará a série de leituras do escritor. Porque acredite, você vai querer mais depois do que lerá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.