Boa Ventura! (Lucas Figueiredo)

Algumas pessoas costumam torcer o nariz quando assunto é História, mais especificamente História do Brasil. Talvez tenha alguma coisa a ver com o processo que na escola transforma futuros leitores em odiadores de Literatura (e Literatura Nacional), mas a realidade é que para muita gente passar no vestibular significa, entre tantas coisas, tirar o peso de “coisas chatas” como essa. E aí que pessoas assim acabam perdendo livros excelentes como Boa Ventura! de Lucas Figueiredo, que já no subtítulo deixa claro sobre do que se trata: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810) – A cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo.

O que de fato é uma pena. O trabalho de investigação que Figueiredo entrega ao leitor é delicioso, repleto de curiosidades mas, o mais importante, muito bem alinhavado. Não é romance (acredito ser algo que se enquadraria em “Jornalismo Histórico”), mas dada a fluidez e coesão do texto, e mais ainda, a galeria de personagens que passam pela obra, poderia muito bem ser lido como tal.

Você foi para a escola e certamente sabe do que o livro trata. Mas acredite, é muito diferente passar ver figuras como Aleijadinho e Tiradentes sob a ótica do autor. Fatos conhecidíssimos como o próprio descobrimento e a chegada da família real no Brasil parecem ganhar novas cores, ficarem inclusive mais nítidas e claras. E aí que começamos a perceber o quanto a aula de História na escola pode ter falhado ao retratar o que houve no nosso país.

Quando aborda um tema em especial (o ouro) e não todos os ‘n’ ciclos pelos quais o Brasil passou, algumas questões saltam aos olhos. Como por exemplo o fato de que levou quase 200 anos para que Portugal finalmente conseguisse começar a explorar o ouro brasileiro. Ou como pequenos detalhes fizeram toda a diferença (como a ideia de ir cultivando a terra por onde iam passando os bandeirantes). A sensação que dá é que ao pegar esse recorte Figueiredo conseguiu se dar ao luxo de se aprofundar mais do que nossos professores podiam com o tempo de aula que lhes era dado.

E conseguir fazer isso de forma interessante e divertida não parece ser para qualquer um. Extremamente informativo, há diversas passagens em Boa Ventura! que o leitor provavelmente se questiona como é que nunca relacionou uma coisa com outra (eu pelo menos costumava ver o terremoto de Lisboa como um evento separado, que nada tinha a ver com o ouro no Brasil). E o melhor disso é que não há saltos que possam fazer o leitor se perder, é até bastante linear e fácil de seguir.

Além de todas essas qualidades, ainda tem o cuidado da edição em si, caprichadíssima e repleta de ilustrações bastante curiosas. As que estão no corpo do texto são preto e branco, mas nos anexos algumas aparecem em papel especial e são coloridas. Também no fim do livro (e coloridos) há uma série de mapas do período abordado no livro. Para completar, cada capítulo é encerrado por uma série de notas que complementam informações ou fazem referências aos fatos citados pelo autor.

Com um texto tão legal e com tanto cuidado com a edição do livro em si, Boa Ventura! merece uma leitura, mesmo no caso daqueles que torcem o nariz quando o assunto é História, como comentei inicialmente. Na realidade, é um daqueles casos em que fica mais do que óbvio que História do Brasil pode ser não só interessante, mas também muito divertida.

Para quem ficou curioso e quer uma amostra do que é Boa Ventura!, o primeiro capítulo está disponível no site do livro.

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