Cabelo Doido (Neil Gaiman & Dave McKean)

Desde o começo a parceria Neil Gaiman e Dave McKean sempre rendeu ótimos frutos, como por exemplo a excelente HQ Violent Cases, ou ainda no ótimo livro infantil Os Lobos na Parede. A química entre os dois é incontestável, e parece funcionar porque ambos tem um pé no que é sombrio e insano. E se você pensa que esse tipo de universo não funciona bem com histórias infantis, deve dar uma olhada no mais recente lançamento da dupla aqui no Brasil, Cabelo Doido, que chegou pela Rocco em dezembro do ano passado.

Sendo um picture book (lembra do seu bom e velha O Pote de Melado? Eles são assim: com frases curtas narrando uma história em ilustrações) é evidente que a arte de McKean acaba tendo um destaque maior. E não pense que por ser voltado para crianças que ele muda seu já famoso estilo, envolvendo colagens de uma forma distorcida e exagerada, lembrando um pouco sonhos (ou pesadelos). Mas mesmo assim o efeito combinado com o texto acaba sendo de um conto que pode ser lido sem maiores problemas pelos mais novos.

Aliás, este é um dos pontos altos do trabalho de Neil Gaiman quando se fala em livros infantojuvenis. Ele não enche sua narrativa com açúcar e tons pastéis para torná-las mais fáceis. É um dos poucos autores que conheço que de fato consegue fazer horror para crianças, sem que isso signifique que elas não possam ler (para quem não sabe do que eu estou falando, procurem pelo conto A Vez de Outubro). E funcionando em perfeita sintonia está a arte de McKean, por isso em Cabelo Doido temos ao mesmo tempo um picture book bastante atípico mas que talvez justamente por isso atrairá bastante o público infantil.

Por atípico não quero dizer que o horror domine a história. Ao contrário de Os Lobos na Parede, aqui o tom principal é o fantástico. Na história do homem que tem simplesmente de tudo em seu cabelo, há espaço para a fantasia, aquela coisa gostosa de se deixar ir além e se permitir sonhar com o impossível. O sujeito tem até uma banda nos cabelos, além de balões e animais. É realmente algo bem divertido, e muito bom de ler em voz alta para uma criança, até porque a tradução se preocupa em manter o ritmo do original, conservando inclusive algumas rimas.

Mais um ótimo trabalho da parceria Gaiman & McKean. A verdade é que chega até a dar um pouco de ciúmes pensando que os dois poderiam estar fazendo algo tão legal assim pensando em nós, o público adulto. Mas fica pelo menos a possibilidade de poder ler o livro para seu filho e quem sabe ir preparando o garoto para um dia encarar Sandman?

PS. Li a história para o Arthur. Ele queria agarrar as imagens enquanto eu lia, foi bonitinho de ver. ^^

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