A Casa do Canal (Georges Simenon)

O belga Georges Simenon conta com um currículo invejável para qualquer escritor: são mais de 200 romances, 155 contos e 25 textos autobiográficos. Com tamanha produção literária, não é de se espantar que ele pegue um gênero e consiga sair da mesmice, fugindo das fórmulas básicas que se repetem em outras tantas obras de escritores variados.

No caso de A Casa do Canal, lançado em janeiro pela L&PM,  temos um romance policial que foge bastante das regras. A começar pelo crime – que parece não chegar nunca. Na realidade, Simenon chega a enganar o leitor, e quando você pensa que finalmente chegou ao “mistério” da história, logo mais vê que não era bem assim.Começamos com Edmée, uma órfã que vai morar com os tios no interior. Por muito tempo a narrativa se prende na estranheza que aquele lugar e aquelas pessoas causam à menina. O efeito de não pertencer ao lugar se reforça ainda mais com o fato de que a maior parte das pessoas na casa em que ela passa a morar não falam a mesma língua que ela, o que obviamente aumenta ainda mais a sensação de solidão.

A narrativa em sua maior parte tende a um drama, com o maior conflito tendo como base a relação de Edmée com os primos Jef e Fred. As cores do romance policial chegam com força total no desfecho, quando muda-se o foco da história repentinamente, e Edmée de protagonista passa a ser apenas mais um elemento dentro da trama criada por Simenon. Recurso muito interessante que fez valer a pena a leitura, até para ver que nem toda história de crime precisa seguir necessariamente a estrutura crime > busca pelo assassino > prisão do assassino.

Ao mexer na ordem desses fatores, Simenon traz uma história que talvez possa desagradar quem espera um daqueles thrillers eletrizantes, já que o ritmo de A Casa do Canal é mais lento do que se esperaria de um policial. Mas o final sem qualquer dúvida premia aquele leitor que teve paciência de chegar até o fim, oferecendo uma experiência nova para um gênero que costuma apresentar tão pouco como novidade.

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