A elegância do ouriço (Muriel Barbery)

A elegância do ouriço de Muriel Barbery é daquele tipo de livro que chega como quem não quer nada e vai encantando aos poucos. Quando você está quase no fim, percebe que já está completamente apaixonado. Os desdobramentos de um enredo até bem simples acabam seduzindo o leitor, que vai devorando as páginas sem sequer sentir o tempo passar.

Inicialmente somos apresentados aos dois fios que conduzem a história: a narrativa da Sra. Michel, uma zeladora de um edifício luxuoso de Paris; e os escritos diários de Paloma, uma menina de doze anos que vive no mesmo prédio que a Sra. Michel e está decidida a fazer duas coisas no dia do aniversário, suicidar-se e atear fogo no apartamento.O interessante de A elegância do ouriço é como esses dois fios vão se cruzando, e personagens que são completamente estranhas uma para a  outra, descobrem-se e tornam-se amigas. O truque de mesclar os dois tipos de narrativa inclusive ajuda a criar um efeito interessante quando a voz de uma é interrompida pela outra bem em um momento importante: fica a curiosidade de saber o que vem a seguir, o que faz com que o leitor permaneça preso à leitura.

Quanto às personagens, inicialmente tive dificuldades em aceitar Paloma, confesso: não gosto de crianças prodígio nem na vida real, nem na Literatura. Mas as ideias cativantes apresentadas nos diários acabam fazendo com que a idade da menina seja só um detalhe, como acontece para a própria sra. Michel.

No caso da zeladora, o que encanta é perceber o quanto ela se parece com Paloma, fingindo ser algo que não é como uma forma de se proteger das outras pessoas. Mais ainda, ela torna óbvio o quanto medimos as pessoas pelo que fazem e o que parecem, esquecendo de realmente ouvi-las e conhecê-las de fato. Sob a fachada ranzinza da zeladora, esconde-se uma figura doce e inteligentíssima, que atrai não só as personagens do livro, mas também o leitor.

Em dado momento, o livro divide-se em dois. Temos um romance filosófico, com ótimos questionamentos levantados pelas personagens e temos um romance sobre solidão e amizade. E foi uma excelente escolha de Barbery usar um edifício como espaço para a história, porque ele representa exatamente o que suas personagens parecem gritar a todo momento: vivemos em comunidade, com outras pessoas, mas estamos todos sozinhos em nossos pequenos mundos.

É uma história gostosa, simples, doce e realmente cativante. Seja pelo conteúdo filosófico, seja pela leveza do enredo, é daquele tipo de livro que quando você fecha ao concluir a leitura, já começa a sentir saudades das personagens que acabara de conhecer.

2 comentários em “A elegância do ouriço (Muriel Barbery)”

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