Diego e Frida: Biografia (J.M.G. Le Clézio)

Meu primeiro contato com a pintora mexicana Frida Kahlo foi através do filme Frida (2002), uma adaptação de Frida: A Biography of Frida Kahlo de Hayden Herrera. Como pareceu uma personagem forte cuja biografia se confunde de forma muito interessante com a obra, fiquei bastante interessada quando soube da publicação no Brasil do livro Diego e Frida: Biografia, do vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2008, J.M.G. Le Clézio.

Inicialmente fiquei preocupada que fosse muito parecido com o que já tinha assistido, mas o comprometimento em falar não só de Frida, mas também de seu marido Diego Rivera, acabam por garantir uma nova perspectiva sobre a história. E Le Clézio conduz muito bem essa biografia, mesclando a narrativa sobre a vida dos dois artistas de tal modo que deixa clara a ideia de que tudo o que fizeram jamais teria a mesma beleza se nunca tivessem ficado juntos. Apesar da importância da arte tanto para Frida quanto para Diego, outra constante que fica clara já no Prólogo é a presença da política. Os dois tinham modos diferentes de pensar sobre o tema, mas a todo momento os ideais políticos dos protagonistas se mesclam com suas criações. Assim como o amor de um pelo outro acaba servindo como elemento para a obra, por isso da importância de conhecer a história não só sob o ponto de vista de Frida (como acontece na cinebiografia), mas também de Diego.

E é interessante observar o quanto Diego domina a narrativa de Le Clézio até o momento em que o casal entra em crise. A sensação que Le Clézio passa é de que Diego produz de forma muito mais constante do que a esposa, que costuma fazer suas melhores pinturas nos momentos de maior dor (o acidente, a perda do filho, as traições do marido, etc.). É como se Frida utilizasse a obra muito mais como uma forma de escapar da realidade, enquanto para Rivera era um modo de expressar seus ideais.

Um ponto interessante é que a narrativa é essencialmente cronológica, mas alguns flashforwards antecipam o que está por vir na vida das protagonistas, criando um efeito interessante no momento em que o momento antecipado finalmente acontece, como por exemplo um dos abortos sofridos por Frida. É como se o autor separasse algo no passado para que o que era narrado não fosse julgado pelo ato apenas, mas por tudo o que ele envolvia antes de acontecer.

Talvez o único aspecto negativo seja uma certa repetição de termos e frases, soando quase como se fosse um refrão. Em algumas passagens funcionava bem, até justamente por causa da técnica do flashforward, mas em outras dava simplesmente a sensação de que eu estava relendo uma página por engano.

Mas fora isso, Diego e Frida: Biografia é realmente um livro extremamente interessante, até pelo cuidado de Le Clézio na pesquisa sobre o casal. Várias passagens são transcrições ipsis litteris de cartas e trechos de diários, o que garante um caminho bem distante do tomado por certos biógrafos que “romanceiam” a partir de acontecimentos. Uma dica: anote os nomes das obras para dar uma consultada no Google depois.

(Sim, esse post foi publicado ontem no Meia Palavra. Caso não conheça o blog ainda, dá uma passada lá)

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